Por que o capital tanto quer a reforma da previdência?

Foto: Tony Winston – Agência Brasília

A era Bolsonaro segue em seu terceiro mês de tragédias. A reforma da previdência de forma trágica e midiática ainda vem sustentando o governo imbecil. Os bancos apostaram em eleger o imbecil para ganhar dinheiro por meio da reforma da previdência e só. Quem elegeu esta corja não se preocupa em momento algum com um projeto de nação, com desenvolvimento econômico ou com as consequências dos seus atos, mas apenas com o dinheiro que vão ganhar e com a reforma da previdência. Reforma essa que é a clara destruição da seguridade social no país. A transformação dos poucos setores do Estado brasileiro que ainda asseguravam alguma proteção social à massa trabalhadora explorada em setor produtivo.

Por Douglas Kovaleski, para Desacato.info.

A necessidade irrefreável, na lógica capitalista, de crescimento, de expansão dos lucros e da exploração em meio a um de seus mais profundos ciclos de crise, precisa avançar sobre tudo e todos, custe o que custar. Vidas, famílias, história, sociabilidade, solidariedade, humanidade não são importantes para o capital. E esta ideologia precisa ser cativada para que os capitalistas obtenham êxito, e uma provação de que essa ideologia estaria vencendo os comunistas, socialistas e esquerdistas (pretensos inimigos criados no imaginário da direita brasileira) seria a aprovação da reforma da previdência, sem contar, é claro a eleição do imbecil. Mas por que a reforma da previdência é tão importante para o capital?

– Em primeiro lugar, pelo montante de recursos que ela gere, reunindo um dos maiores fundos públicos do mundo. E como os bancos poderiam tolerar tal ousadia? Ainda mais vindo de um país onde nem os seus governos, ditos de esquerda frearam a rapinagem do capital financeiro sob a batuta dos bancos.

– O caráter de repartição ou a solidariedade que são pressupostos fundamentais do sistema de seguridade social no Brasil. Esses pressupostos colocam a vida ou as condições mínimas de vida das pessoas como condição inquestionável, a qual todas as pessoas são merecedoras pelo simples fato de existirem, uma condição humana fundamental. Algo que vai contra os valores meritocráticos e produtivistas do capitalismo. Afinal, é preciso manter um discurso que justifique a abissal concentração de capital e poder para os capitalistas, pois a dominação só se dá pela aceitação inclusive dos dominados. E esse segundo motivo para justificar o afã em prol da reforma da previdência está no nível a xiológico da sociedade, implica na desconstrução de valores de justiça social e paz e colocam a humanidade como mera produtora de bens e serviços, negando a vida, seu ritmo, os diferentes modos de vida e a consciência de si e para além de si.

– A manutenção de privilégios é outra questão essencial nessa reforma, pois são mantidos privilégios de militares, membros do judiciário, legislativo, executivo e principalmente grandes empresários. Ou seja, a burguesia e seus lacaios permanecem intocáveis. A promessa, que jamais ocorrerá, é que projetos de lei sobre as carreiras do judiciário, legislativo e executivo sejam enviados mais adiante ao congresso nacional. “A prioridade é massacrar os pobres”. E os donos de grandes fortunas, os grandes empresários continuam nadando de braçada, contribuindo cada vez menos para a previdência e pagando pouquíssimos impostos. Vale ressaltar aqui que uma das direções mais claras dessa reforma é tirar a contribuição dos empresários e Estado da previdência, ou seja, instituir uma previdência privada como forma irresponsável de segurança social no país.

A Reforma da previdência cativa o medo nas pessoas, medo de não se aposentar, medo do desemprego, medo do outro, que é concorrente. Destrói a solidariedade e tira a perspectiva das pessoas, colocando-as, mais do que nunca, na condição de autômatos, peças de uma engrenagem que não pensa (na sua autodestruição, nem na destruição do planeta), que não cativa (o outro, a espécie humana, os animais, a vida, as experiências, a solidariedade), que não planeja, pois apenas sobrevive.

Em suma, nada mais adequado para o capital do que essa reforma da previdência: concentrar poder e dinheiro nas mãos do grande capital, deixar os lacaios da burguesia com alguns caraminguás e esfolar a classe trabalhadora, excluindo uma parcela significativa da população do direito de se aposentar, reduzindo até o valor do benefício de prestação continuada para baixo da linha da miséria.

 


Douglas Francisco Kovaleski é professor da Universidade Federal de Santa Catarina na área de Saúde Coletiva e militante dos movimentos sociais.

 

A opinião do autor/a não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

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