Por que não comemorar a suspensão de Trumo nas redes sociais. Por Thiago Ávila

Foto: EFE

Por Thiago Ávila – @thiagoavilabr

Reprodução Twitter:

Sim, a extrema-direita se especializou no big data, nos algoritmos, nas fake news e no uso das redes sociais para alavancar seu projeto terrível de destruição do mundo. Trump, suspenso, perde um instrumento importante de difusão e convocatória pra sua base social.

Sim, é revoltante e deve nos causar indignação o que a extrema-direita (nossa maior antagonista no mundo hoje) faz. A oposição a esse setor deve ser firme e abrangente, sem hesitação pra impedir o projeto de futuro explorador, opressor e destruidor da Natureza que eles defendem.

E sim, é a extrema-direita, mas será que deve caber a grandes corporações de mídias e redes (capitalistas que defendem o status quo), sem nenhum processo judicial nem participação e regulação popular, decidir quem pode ou não falar ou até o conceito de “apologia à violência”?

Recentemente conversava com @safbf sobre as perseguições que a @teleSURtv sofre (inclusive com banimentos e etc) e a importância de defendermos neutralidade nas redes e regulação estatal e popular desses mecanismos. Mas, mesmo assim, ainda tem dilemas de orientação política.

Vale tudo pra criticar a extrema-direita? Já vi gente de esquerda reclamando em marchas reacionárias que eles “atrapalhavam o direito de ir e vir”, chamando de “desocupados”, “vândalos” e etc. Já vi até gente dizendo que não pode falar de mudanças em sistemas de governo.

Vi pessoas conscientes denunciando a ação no capitólio e praticamente ignorando a orientação política neofascista e focando em críticas à tática em si de ocupação de prédios públicos. Mas ué, a gente não faz isso o tempo todo e defende a ocupação popular de tudo? Olha só…

Toda vez que vi pessoas fazendo essas críticas, fiquei pensando na quantidade de vezes que eu e tantas pessoas fomos criticados assim. Todas as marchas, as ocupações, as ações diretas… Todas as convocatórias online pra mobilizações e enfrentamentos mais firmes a governos.

Poucos meses atrás veio muita gente me criticar por dizer que o que precisamos para o Brasil era “construir a maior, mais enraizada e mais ousada revolta popular que esse país já viu”. Eu sigo defendendo isso, e acredito que é algo cada dia mais urgente.

Aliás, não foi em Washington, mas 11 anos atrás aqui em Brasília (outra capital) nós tentamos com todas as nossas forças ocupar o parlamento também quando estavam encaminhando uma eleição indireta depois de termos derrubado o governador Arruda. A repressão foi terrível esse dia.

E o que dizer sobre junho de 2013? Naqueles dias a gente tentava (com fraca organização e disputando as ruas com a direita) ainda assim ocupar parlamentos, sedes de governo e etc… A força que teve em BH aqueles dias teve muito a ver com o sucesso da ocupação da câmara.

Voltando à questão das redes, quantas vezes a gente não vem aqui pra falar da necessidade de construção do Poder Popular, de acabar com o capitalismo e colocar uma nova sociedade no lugar dessa? Quantos chamados fazemos pra construção de uma Revolução? Entendem os riscos?

Tem muitos crimes e violações que podemos (e devemos) responsabilizar a extrema-direita no mundo. Isso envolve também deter juridicamente e politicamente a rede de mentiras e ódio que mantém através das redes sociais, Whatsapp e seus sites. É tarefa dos povos do mundo hoje.
Mas delegar a CEOs de grandes corporações fazerem isso (e não os povos e seus governos) é um equívoco. É como, aliás, se Trump e Bolsonaro não tivessem essas mesmas práticas há anos… E, se é pra suspender sem ação judicial, porque não fizeram isso logo antes?
A ação mais absurda de Trump e Bolsonaro não é convocar pra determinadas táticas de luta social. O absurdo é de, no cotidiano, defenderem e naturalizarem o racismo, o machismo, a LGBTfobia, o autoritarismo e o terrorismo de Estado, seus crimes contra a saúde pública, etc.
É um atalho querer criticar a extrema-direita por ser contra o sistema atual. O fascismo na verdade só é antissistêmico na retórica. A história mostra que é uma das formas de expressão do sistema capitalista, então nem são verdadeiramente “contra tudo que tá aí”. Nós somos!
Os 3 últimos anos foram muito pedagógicos para demonstrar que não adianta criticar o sistema e agir de forma comportada, morna, institucional. Defender democracia de forma abstrata, defender manifestações comportadas, defender banimentos de redes sem regulamentação não ajudam.
A crítica à extrema-direita principal a ser feita é política na sua essência: o projeto político opressor, explorador, destruidor da Natureza que defendem (ainda nos marcos do capitalismo) e a forma como expressam isso em suas ações racistas, misóginas e autoritárias cotidianas.
Não se trata de não poder fazer luta social, nem de não poder defender o fim das instituições como elas são. O problema é o que colocar no lugar: uma democracia direta onde o povo manda e o governo obedece, ou um ditador fascista cruel (projeto de Bolsonaro, por exemplo)?
Então não tem atalho. Não é porque algo tá acontecendo com outro setor político que a gente deve embarcar e comemorar. Principalmente se são coisas que usam para nos atacar e criminalizar nosso projeto de uma nova sociedade mais justa, mais igualitária…
Fico aliviado a cada minuto que a máquina de propaganda da extrema-direita está fragilizada, mas esse incidente me trouxe uma forte preocupação sobre o poder cada vez maior das grandes corporações do século 21 em determinar nossas relações sociais… Preocupação maior que alívio.
Então, resumindo: Extrema-direita: terrível e devemos enfrentar sempre com toda força. Redes sociais banirem sem regulação: muito ruim e perigoso. Fazer manifestações e ocupações radicalizadas: tarefa fundamental da esquerda. Ser antissistêmico: só a esquerda é de verdade…
O problema não é a extrema-direita se dizer (falsamente) antissistêmica. O problema é que, por desorganização, desmobilização e falta de enraizamento, em muitos lugares a esquerda não está sequer presente pra mostrar o que é de verdade ser contra o capitalismo e “tudo que tá aí”.
Leia mais:
http://desacato.info/a-bomba-relogio-na-economia-brasileira-por-jose-alvaro-cardoso/

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