Por dentro da inauguração da igreja evangélica do BOPE

Por Yago Gonçalves.

“Alegrei-me quando disseram: Vamos à casa do Senhor”. Uma faca na caveira era o pano de fundo para o salmo enviado pela Congregação Evangélica BOPE que convidava, via Whatsapp, fiéis e suas famílias a conhecerem o novo espaço para cultos, erguido dentro da sede de uma das mais temidas polícias do Brasil, no Rio de Janeiro.

Na sede do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais), localizada no bairro de Laranjeiras, o culto dos Caveiras acontece faz tempo. Desde os anos 90, policiais se reúnem para ouvir e pregar a palavra do Senhor numa celebração como qualquer outra: leituras bíblicas, testemunhos, clamações de “amém” e até banda de louvor.

Foto: Yago Gonçalves/ VICE

No último dia 20 de maio, a novidade ficou por conta da inauguração de um espaço criado na corporação especialmente para fazer as vezes de igreja. A congregação evangélica do BOPE, que também tem como símbolo a faca na caveira, recebeu o pastor e jornalista Antonio Carlos Costa, presidente da ONG Rio de Paz, especialmente para inauguração do lugar.

Antônio pregando. Foto: Yago Gonçalves/ VICE

O culto dos Caveiras teve início com a leitura da bíblia por um subtenente fardado de preto. Seguiram-se canções, até o aviso de que a banda da PMERJ não ficaria até o final da celebração. Os músicos haviam sido convocados para o enterro de um policial morto em serviço, disse o subtenente de forma natural.

Sargento Ozéas durante o culto. Foto: Yago Gonçalves/ VICE

Um novo pregador subiu ao púlpito e agradeceu nominalmente quase todos os presentes que ajudaram na obra. Segundo o pregador, a congregação evangélica do BOPE foi erguida com tijolo, cimento e massa pelos próprios policiais e com a ajuda de moradores da comunidade do Tavares Bastos.

Foto: Yago Gonçalves/ VICE

Antonio, o convidado do dia, abriu sua bíblia e começou sua pregação pra cerca de 150 pessoas presentes. O pastor convidado falava sobre o encontro de Jesus e Nicodemos, um importante religioso de sua época. Nicodemos, falava Antonio, saía para encontrar Jesus na calada da noite, pois não gostaria de ser visto com o Mestre controverso.

A pregação prosseguiu com aleluias e gritos durante os intervalos da fala de Antonio que versava sobre o “nascer de novo.”

Foto: Yago Gonçalves/ VICE

Antonio também falou sobre amor, compaixão e misericórdia em uma pregação que durou mais de 45 minutos. Os fiéis, no entanto, não se moviam, estavam atentos, inclusive o comandante da corporação que assistia tudo da primeira fila de cadeiras.

Foto: Yago Gonçalves/ VICE

Após a pregação de Antonio, o Sargento Ozéas convocou os “varões” a subirem até o espaço que funcionará como igreja da congregação. O Sargento, no entanto, explicou que não convidava todos pois o espaço da igreja era de difícil acesso devido a pequenos reparos que ainda seriam feitos na escada do local. Mulheres e crianças ficaram no coquetel de inauguração que contou com uma mesa cheia de salgadinhos, refrigerantes e um enorme bolo .

O comandante da corporação cortou uma pequena fita amarela e todos entraram no espaço com uma enorme alegria. Alguns choraram. Então, todos fecharam os olhos e oraram — talvez um dos poucos momentos em que os Caveiras, diante de desconhecidos, se dão ao luxo de fechar os olhos.

Fonte: Vice.

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