Poder simbólico e manipulação

Por Thiago Burckhart, para Desacato.info.

Pierre Bourdieu, um dos maiores pensadores do século XX, cunhou o termo poder simbólico. Essa categoria visa expressar e ao mesmo tempo denunciar os mecanismos de poder e dominação que se disseminam de modo invisível na dimensão simbólica da vida, por meio dos discursos e da comunicação de modo geral. Expressa, portanto, o poder das palavras enquanto potência no âmbito da vida de criar performatividades, ou seja, ações.

O poder simbólico seria, portanto, esse poder praticamente invisível que se transmite por meio da comunicação, dos discursos, e que também funciona como um instrumento político de manutenção das desigualdades sociais, do status quo. O poder simbólico atua nas estruturas sociais de modo a construir – por meio da repetição – realidades e o sentido imediato do mundo por meio dos símbolos, que são os instrumentos de coesão social. Por meio deles fica legitimada a dominação.

Em muitas das vezes esse mesmo poder simbólico – transmitido nas escolas, nos núcleos familiares, dentre outros campos – acaba por se convolar em uma violência simbólica, que são expressões arbitrárias da realidade social. De modo geral, Bourdieu foi um pensador que denunciou essas estruturas do poder que marcam profundamente nossas sociedades.

A Manipulação

A própria palavra “manipulação” já é uma metáfora perfeita daquilo que ela representa, ou seja, uma mão que manuseia os “outros” como se fossem objetos, com o objetivo precípuo de dominação. De certa forma, a manipulação pode ser entendida como uma violência simbólica, que também só é possível por meio de um conjunto de representações simbólicas que legitimam a própria dominação. Assim, Bourdieu também afirmava que o poder simbólico só pode operar em razão do reconhecimento das pessoas da carga simbólica pelo qual valoram.

Dessa forma a manipulação é sempre ideológica, e está concernida com a produção da verdade e do sentido de realidade perante determinado grupo social. Enquanto ideologia, é um substrato do poder imperante, que cega a compreensão da realidade ao mesmo tempo que a constrói, e produz a verdade por meio da repetição.

A potência da manipulação

A manipulação enquanto discurso e performatividade também produz potencialidades na esfera social.

O que se observa atualmente no cenário brasileiro é a propagação de um discurso de ódio alimentado por um alto grau de manipulação. Isso somente contribui para a propagação da ignorância e da desinformação na forma de “ordem social”, tendo em vista que reduz as complexidades daquilo que por natureza é complexo – e mesmo contraditório. A manipulação enquanto instrumento do poder hegemônico vem alimentando um fascismo à brasileira marcado pela irracionalidade.

O antídoto para a manipulação e para a perpetuação da violência simbólica é o esclarecimento, pois ele implica na compreensão dessas estruturas de poder e sua não reprodução no cenário social e cultural. Desse modo, o livro de Marcia Tiburi “Como conversar com um fascista” é uma forma de compreender melhor esse processo, marcado por dificuldades, mas necessários em tempos tão sombrios.

Thiago Burckhart é esudante de Direito.

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