Pobres&Nojentas: cinco anos de compromisso com o outro, real

Por Elaine Tavares.

Inclui vídeo com Chimamanda Ngozi Adichie.

A revista Pobres & Nojentas entrou no quinto ano de existência fiel ao seu propósito inicial. Mostrar as vozes que se expressam no mundo dos empobrecidos para que todos saibam que as gentes que não tem dinheiro e não frequentam a ilha de Caras (popular revista brasielira que mostra a vida dos  ricos) também são construtoras de mundos, de belas histórias, carregadas de sabedoria, e graça, e alegria, e esperança, e solidadriedade, e cooperação. A Pobres conta de trajetórias de vida, de costumes, de mitos, de paisagens, de lugares, de receitas gostosas, de poemas, de líricas, de dores e de alegrias. A Pobres procura revelar o outro – diferente, mas real – nas suas mais diversas facetas, acreditando que a história de um ser humano é prismática, cheia de lados significantes. A Pobres entra nos bairros de periferia com suas capas estampando as vidas reais, as caras das gentes bonitas que fazem esse mundo andar. A Pobres está nas padarias, nos botequins, nos salões de beleza, nos terminais urbanos, na Banca da Catedral, e procura equilibrar denúncia deste mundo que não se quer, com a capacidade que tem as gentes de inventarem novos mundos mais próximos de seus desejos.

Outro dia, ouvindo a linda escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie falar sobre os perigos da história única e de como isso acaba criando ilusões sobre quem são os seres humanos que vivem em determinados espaços geográficos, tais quais os da periferia, me enchi de emoção ao verificar que nós, aqui no sul do mundo abiaiálico também caminhamos por estas veredas de narrar as vidas sob várias facetas, para que as pessoas possam saber que o humano é essa mistura de sombra e luz, como bem já ensinaram os orientais. Assim, compartilhando essa rica fala de Chimanda sob a necessidade de contar histórias sobre a vida real – eivada de suas contradições – reiteramos nosso compromisso de fazer da Pobres & Nojentas o espaço da vibrante aventura humana. Porque nosso propósito é mostrar nossas próprias caras, para que se possa viver a emoção igual a vivida no dia 28 de junho de 2010, quando a revista foi mostrada ao povo hondurenho via canal de televisão, tal como narra a jornalista Míriam Santini de Abreu, co-editora da P&N. “Quando Globo TV Honduras apresentava as imagens do dia no seu programa Interpretando a Notícia, conduzido pelos jornalistas David Romero Ellner e Héctor Amador, o jornalista Rony Martínez que nos visitou em março aqui em Desterro, tomou conta do programa e disse: `- Agora vou apresentar o número da Revista Pobres & Nojentas de Brasil, especialmente feito para destacar a Resistência Hondurenha naquele país. Olhem-se aqui companheiros jornalistas. Estas fotos trazem nossa história. Aqui estão os homens e mulheres da Resistência em Honduras, e os homens e mulheres que nos receberam e são nossa família lá em Florianópolis`.

Rony Martínez pediu um primeiro plano e foi mostrando e comentando página por página, toda a Pobrinhas que se unia naquele momento, em “pleno corpo físico” à Resistência Catracha. Os jornalistas que lá se encontraram, fotografados pelo colega hondurenho Ronnie Huete Salgado, se emocionaram muito e o colega Raul Fitipaldi que estava em sua casa da Ilha assistindo a emissão via internet também. Era a Pobrinha cumprindo seu papel de integrar e integrar-se cada vez mais profundamente à luta dos povos oprimidos.

Os nomes da Elaine, Míriam, Rosângela, Celso e Raul soaram musicalmente na dicção privilegiada do jornalista hondurenho que deixou saudades, junto com Ronnie Huete Salgado, entre nós, aqui na Ilha. Ficou linda a Pobres na TV de Honduras, andando passo a passo com a Resistência, marchando junto ao Povo Hondurenho a um ano do Golpe!”

Agora, o número 23 da Pobres chega com a recuperação da preciosa história de luta dos estudantes e do povo florianopolitano por um transporte urbano  digno, mostra o triste destino de quem não respeita a natureza, a corajosa vida de Antônio, da Novo Horizonte e revela a criação de uma rede de comunicação popular em Santa Catarina.

A vida e seu movimento, o povo em luta. Ah, essa beleza que nos toca viver, de sermos jornalistas e podermos narrar a caminhada da raça, sem cair na lógica do “nkali” (o que quer ser maior do que o outro), como lembra Chimamanda. Mas esse insaciável desejo de compartir, como dizem os compas de língua hispânica. Na Pobres vive o jornalismo e vive o compromisso ético de não permitir a história única.

Abaixo, o enlace para o vídeo onde a escritora nigeriana Chimamanda faz ecoar, tal como nós, o compromisso com a beleza do humano.

http://www.ted.com/talks/lang/por_pt/chimamanda_adichie_the_danger_of_a_single_story.html

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