“Plano Coelho” é a arma de Maduro contra a fome na Venezuela

Por Rita Siza.

Na última reunião do conselho de ministros, o Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, apresentou uma nova medida para responder à profunda crise de abastecimento e combater a fome e subnutrição que afetam a população do país. Segundo anunciou, o Governo vai promover a criação de coelhos para consumo, entregando um “lote” de animais em várias comunidades e esperando que estes se “reproduzam como coelhos” para suprir as necessidades alimentares dos venezuelanos.

O chamado “Plano Coelho” recupera uma iniciativa similar promovida pelo Governo de Hugo Chávez, que em anteriores circunstâncias de escassez alimentar avançou com um programa para a criação de galinhas. Desta vez, porém, a ideia do Governo é apostar na rápida capacidade de reprodução dos coelhos, cuja carne é uma alternativa à das aves, bovinos e porco – mais caros e mais difíceis de encontrar nas prateleiras dos supermercados. Com apenas uma coelha, um agregado pode dispor de cerca de 80 animais para consumo por ano, explicou o Presidente.

“Há um problema cultural que temos de resolver”, admitiu Maduro, que não ignora que na Venezuela os coelhos são habitualmente procurados como animais de estimação, e não como um produto alimentar. “O coelho não é uma mascote, são dois quilos e meio de carne com muita proteína e sem colesterol”, corrigiu o ministro para a Agricultura Urbana, Freddy Bernal, que explicou o plano numa declaração televisiva ao lado do Presidente.

O Governo lançou uma campanha de sensibilização para o consumo da carne de coelho, disponibilizando informação nutricional e exaltando os benefícios deste alimento, “que é recomendado para as épocas em que pretendemos aumentar a nossa massa muscular, devido ao seu alto conteúdo em proteínas de muito elevado valor biológico”, escreveu o ministro nas redes sociais.

Lacinhos

Como escrevia o jornal El Nacional, uma primeira experiência não teve o efeito esperado: os primeiros lotes de coelhos entregues em 15 comunidades foram adotados pelos moradores como animais de companhia. “Tivemos um pequeno revés no nosso projeto-piloto. Descobrimos que as pessoas tinham posto lacinhos nos coelhos, deram-lhes nomes e estavam a criá-los como mascotes dentro de casa”, reconheceu o ministro.

Mas esse primeiro contratempo não levou o Governo a desistir de encontrar formas alternativas para o abastecimento da população – que segundo denuncia o Presidente, está a sofrer os efeitos de uma “guerra económica” promovida pelos Estados Unidos e os grandes empresários do país por razões ideológicas. Além da criação de coelhos, o Governo também incentivou a população a manter hortas urbanas nas varandas e terraços dos seus prédios.

“A sério? É com o povo a criar coelhos que pretendem resolver o problema da fome na Venezuela?”, reagiu o governador do estado de Miranda, Henrique Capriles, antigo rival presidencial de Maduro. “Se um Governo é incapaz de pôr o país a produzir alimentos, tem de cair”, considerou.

A escassez alimentar está a ter um efeito dramático na saúde das famílias, com dois terços da população a sofrer um emagrecimento médio de nove quilos e as taxas de malnutrição infantil a disparar. A situação de quebra das importações (das quais o país depende, tanto em termos de matérias-primas como de produtos industriais), é agravada pela inflação galopante, que pode atingir os 800% este ano. Segundo o El Universal, o preço das caixas de ovos, a principal fonte de proteína, aumentou 2500% nos últimos 22 meses.

Fonte: PÚBLICO

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