Passeio pela comunicação que não se vende por moedas

Por Raul Fitipaldi, de Florianópolis, para Desacato.info.

Fotos: Rosângela Bion de Assis e Thiago Medeiros.

Se o leitor achar que isto é uma nota social, terá razão. Se pensar que é sobre jornalismo, também a terá. Para mim é mais simples, é compartir uma experiência breve e intensa com os leitores.

A Cooperativa de Trabalho Desacato passou umas semanas turbulentas por ocasião de uma orquestração feita por uns indivíduos para prejudicar sem motivo nem causa aparente o andar do nosso projeto. Mesquinharias, coisas que o tempo enterra de boca pra baixo. Nada disso, no entanto, parou a marcha dos nossos projetos dirigidos à Classe Trabalhadora e os setores mais invisíveis da mídia monopólica. Mais vídeos e programações radiais surgiram para nos ajudar a financiar o processo, mais colaboradores e leitores engrossaram a enorme quantidade de gente que nos acompanha e assiste, e diversas propostas se acumularam em poucos dias. Muito trabalho, difícil, árduo e bonito. E só andar retinho que não tem curva que te faça capotar.

Nesse transe de avaliar as agressões sofridas pelo corpo cooperativo amanheceram novas parcerias em desenvolvimento e outras se consolidaram. Vou me dedicar nestas linhas a uma delas.

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Ontem, 15 de junho, Rosângela Bion de Assis, Izabel Fávero do Jornal dos Trabalhadores e eu (acompanhados pelo Dagoberto Bordin na foto acima) arrancamos ao meio-dia para visitar a Rádio Comunitária Pinheira e o nosso amigo e colega, jornalista Dagoberto Bordin, filho de Caxias do Sul, como nossa querida Caroline Dall ‘agnoll. Só tínhamos uma expectativa, que também era a única curiosidade, conhecer a FM 98,3 da Pinheira. Fomos animados, eu especialmente, pois nunca tinha visitado aquela Comunidade. Não imaginávamos as horas emocionantes que passaríamos lá. Seria uma visita inesquecível para os três. Há situações que vão muito além do jornalismo, mas, é por ele que acontecem.

A primeira boa notícia é que todo mundo na região conhece a emissora; era só perguntar onde ficava que todos te explicavam. Chegamos ao prédio vermelho da rádio e lá, no terraço nos avistava Dagoberto abanando. Quando Rosângela desligou o motor do carro já se distribuíam abraços efusivos na porta da emissora. Nem subimos. Era ali que começava uma ‘agenda surpresa’ que nos foi preparada.

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Na porta da Cozinha da Mamma, com Bruno.

Da praia fomos direto ao Restaurante Cozinha da Mamma, onde Bruno (Na foto acima) e sua equipe nos atendeu apesar da hora, com um almoço de primeira qualidade regado a muita cortesia e generosidade. De lá correndo (pois tínhamos um compromisso marcado em Florianópolis às 17 h) a conhecer a casa do nosso anfitrião principal. Essa casa em si é uma peça de arte, toda ela. Uma peça que contém muitíssimas outras peças de arte, dentro e fora, e abriga magicamente os cachorros Ted, Juana e o belo gato Sem Nome.

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Dagoberto nos apresenta uma das suas peças

E depois, ah depois, instantes de emoção sem parar. Nos esperavam na Cooperativa de Reciclagem de resíduos e biodiesel, as criadoras, os trabalhadores e trabalhadoras, crianças, uma coisa de tal beleza que Rosângela não resistiu e acabemos fazendo um vídeozinho caseiro que botaremos no ar a qualquer momento com um par de entrevistas e imagens do local (veja ao fim da nota).

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Companheiros trabalhadores no galpão de seleção de resíduos para a reciclagem

Para concluir esse capítulo de realismo mágico que não sei descrever com palavras, fomos fazer, por fim, o único que ingenuamente tínhamos aspirado ao sair da Ilha, conhecer a rádio. Aí, bem… o que é tarefa de jornalistas, um programa ao vivo e que é de estilo, com um banho fotográfico de Thiago Medeiros, iminente novo diretor da rádio.

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Com Izabel e Rosângela refletindo e falando ao vivo na Pinheira.

Para Desacato o significado da parceria com a Rádio Comunitária Pinheira, FM 98,3, tem diversos aspectos. Desde 2015 Pinheira reproduz um programa que era gravado na Casa da Outra, sede da nossa cooperativa. Agora reproduzirá o Informativo Paralelo. Em termos práticos essa é uma tarefa que nos torna parceiros. Porém, o transcendente, aquilo que o leitor e o ouvinte precisa saber é outra coisa.

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Izabel Fávero conta sua vida de locutora iniciada no Oeste Catarinense.

As parcerias como a estabelecida com a Rádio Pinheira, e que se desenvolverá em outras produções de conteúdo, afirma o quanto é importante que os veículos independentes como Pinheira, Rádio Campeche, as emissoras da Abraço, a TV Floripa, enfim, os que estamos na contracorrente da mídia monopólica, empreendamos juntos, sem vaidades doentias, sem misérias dinheiristas, sem debates e objetivos menores, uma outra forma de comunicar as coisas. Uma forma humana tecendo uma Rede Solidária de Jornalismo Independente em Santa Catarina que supere a mediocridade, o destempero, a alienação e a pobreza espiritual que reina na comunicação de massas e nos seus imitadores.

Acontece que Juntos Somos Mais Fortes. Só juntos daremos rosto aos invisíveis, só juntos poderemos um dia, derrotar os desígnios de dominação, mentira, omissão e destruição dos grandes meios e dos que só buscam só ganhos monetários na comunicação para a Classe.

É necessário sobreviver, crescer, desenvolver e consolidar a Mídia Independente. Sim, precisamos obter recursos, mas, de cara limpa, de frente, abraçados e contaminados da alegria popular, da construção das maiorias, dos afetos que nos fazem a todos melhor gente.

Voltaremos à Pinheira, falaremos de novo pelo microfone da Rádio Comunitária, sonharemos juntos.

Imagens da Cooperativa de Reciclagem (por Rosângela Bion de Assis).

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