Paraguai, a um ano do Golpe

fernando-lugo-paraguai-20120621-42-size-598Assunção, 22 jun (Prensa Latina) O Paraguai completa hoje o primeiro aniversário da destituição do presidente constitucional do país por um Congresso dominado pelos mesmos partidos tradicionais que acabam de pactuar outra vez com a distribuição do poder.

Através da realização de um expedito julgamento político no Parlamento ao presidente Fernando Lugo, que provocou sua saída do cargo para o qual foi eleito, os partidos Liberal e Colorado deram um giro na história recente do Paraguai.

A ruptura do processo democrático que se tinha iniciado com a derrubada da longa ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989) apoiada pelos Estados Unidos, implicou para o país o destino de um salto ao vazio, isolando-o internacionalmente.

Para fazê-lo, utilizou-se como pretexto a sangrenta desocupação de camponeses em terras de Curuguaty, departamento de Canindeyú, executado por pedido de latifundiários, com um saldo de 11 camponeses e seis agentes mortos em circunstâncias não esclarecidas totalmente.

O alegado passou longe da profundidade do trágico incidente, que deveria ter sido sobre a injusta tenência da terra no Paraguai, onde quase 90 por cento dos terrenos cultiváveis está em mãos de menos de dois por cento de proprietários, muitos deles latifundiários.

Essa impactante estatística é acompanhada na realidade pelas condições miseráveis, por pobríssimos assentamentos ou pela subsistênsia em rústicos barracos e moradias precárias de nada menos que 300 mil camponeses sem direito à terra.

A desocupação teve 11 chanceleres sul-americanos de testemunhas, que voaram urgentemente a Assunção para tratar inutilmente de evitá-la, através do diálogo, o que ficou para a história chamado de golpe de Estado parlamentar.

As sanções políticas internacionais não se fizeram esperar e o Paraguai foi suspenso de sua associação ao Mercado Comum do Sul (Mercosul) e a União de Nações Sul-americanas (Unasul) e sofreu a rejeição de muitos outros países latino-americanos. Numerosas embaixadas da região ficaram e continuam sem seus chefes de missão, retirados como expressão da falta de reconhecimento ao presidente Federico Franco que resultou do golpe e foi determinado o fim do castigo apenas com a chegada ao poder de um governo proveniente de eleições.

Realizadas as eleições, os presidentes do Mercosul e Unasul deram as mãos ao governante eleito, Horacio Cartes, quem durante sua campanha havia ratificado seu interesse no retorno urgente do Paraguai a essas instâncias regionais.

No entanto, a mobilização urgente dos setores da direita com maior responsabilidade no golpe contra Lugo e as denunciadas pressões de grandes interesses econômicos nacionais e estrangeiros, parecem querer colocar novamente o Paraguai em um ponto morto.

Os grupos mais conservadores falam de afastá-lo de seu natural meio regional para procurar sorte por sua conta em afastados mercados asiáticos e na abertura sem limites à conhecida voracidade de multinacionais estadunidenses e de outras potências.

Advertências de setores de esquerda recordam o meio regional que sempre acolheu favoravelmente à economia paraguaia e pedem não esquecer as limitações para seus interesses comerciais impostas pelo caráter da nação paraguia.

Ainda em sentido mas interno, denunciam o novo pacto político de colorados e liberais como pré-anuncio de medidas mais lacerantes para um universo de pobreza que atinge quase à metade da população e prognostica arremetidas contra setores progressistas.

Esse é o panorama existente a um ano do episódio de 22 de junho de 2012, que fez retroceder a democracia no Paraguai.

tgj/jrr/cc

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