Para que servem as faculdades de Jornalismo?

Por Fernando Evangelista.

Potuguês/Español.

Eu estava na lanchonete da faculdade, entre uma aula e outra, tomando um café e lendo uma revista. O menino aproximou-se, sentou na minha frente e me perguntou:

– Você estuda aqui?

Balancei a cabeça, negativamente.

– O que você faz?

O menino deveria ter uns 11, 12 anos.

– Sou professor de Jornalismo, respondi.

– E o que se ensina no curso de Jornalismo?

Falei das disciplinas de redação, rádio, TV, fotografia, teoria da…

– Entendi, – ele me interrompeu – mas o que o aluno aprende no curso?

O moleque tinha um quê de arrogante.

– Por que você quer saber? Você lá tem idade para prestar vestibular?

– Sou curioso – ele respondeu.

Quando eu ia explicar, com paciência e educação, ele se levantou, disse que precisava ir e se foi. Mas a pergunta ficou: o que se aprende no curso de Jornalismo?

Poderia ter respondido que, basicamente, se aprendem técnicas, teorias e ética. E, com isso – entre outras coisas –, aprende-se a produzir textos jornalísticos. Escrever ainda é a base da profissão. Porém, boa parte das 470 faculdades de Jornalismo espalhadas pelo Brasil não alcança esse objetivo. Elas estão falhando vergonhosamente.

É o que afirma pesquisa realizada pelo Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube), com 10 mil candidatos de diferentes cursos universitários, entre 1º de janeiro e 31 de agosto deste ano.

O teste consistia em escrever um ditado de 30 palavras, permitindo até seis erros. Os estudantes de Engenharia obtiveram os melhores resultados, com “apenas” 12,5% de reprovação. Os estudantes de Comunicação Social, incluindo os de Jornalismo, ficaram nas últimas posições, com uma reprovação de 65,3%. Se isso não é o fundo do poço, alguém diga o que é.

Seria ingênuo jogar toda a responsabilidade nas faculdades de Comunicação. Esse resultado é também consequência de um ensino fundamental muito precário. Entretanto, surge uma dúvida a partir dessa pesquisa: se as faculdades não podem mudar esse quadro, se não conseguem ensinar a base da profissão aos alunos, por que elas continuam existindo?

Continuavam existindo, principalmente, por causa do diploma – que deixou de ser obrigatório para o exercício da profissão. Obrigatório, para a profissão, deveria ser uma sólida formação humanística. É isso que torna a faculdade imprescindível.

Infelizmente, de maneira geral, os cursos estão estruturados como um campo de treinamento para o mercado, “o último estágio da evolução humana”. Para entrar no mercado, dizem os manuais, é preciso seguir as regras, e não importa se elas são, algumas vezes, injustas, hipócritas e burras.

Há alguns anos, durante debate numa escola de Comunicação, uma estudante afirmou: “estou na faculdade para ter um diploma e fazer contatos”, opinião compartilhada por boa parte da plateia. O objetivo da estudante, compreensível, torna-se preocupante, porque evidencia que o ato de aprender – talvez o ato mais sublime do ser humano e a razão de ser de todas as escolas – não era uma prioridade, ou melhor, nem era importante.

Como também não é importante, pelo que parece, debater a democratização da informação, num país onde a mídia é controlada por algumas famílias. A base da democracia é uma imprensa livre e competente. A pluralidade de ideias, estimulada pelo jornalismo, é o motor que faz a democracia caminhar e evoluir. Porém, não existe pluralidade quando há um monopólio dos meios de comunicação.

O Sul do país é um exemplo emblemático: A Rede Brasil Sul (RBS), a mais antiga afiliada da Rede Globo, possui 20 emissoras de tevê, 24 emissoras de rádio, oito jornais, além de mais de uma dezena de produtos de plataforma digital.

Essa concentração é uma iniquidade. Todavia, os cursos de Jornalismo, com honrosas exceções, estão empenhados em treinar os estudantes para serem aceitos nessa engrenagem. E é melhor para eles, segundo essa concepção, nem saber o quão prejudicial ela é para a sociedade.

Não tenho solução para o desafio que se impõe às faculdades de Jornalismo atualmente, e, se a tivesse, abriria a minha própria. Mas tenho algumas ideias com relação às práticas pedagógicas, que não dependem diretamente da estrutura institucional. Essa prática se sustenta em quatro saberes: procurar, ver, ouvir e contar (irei detalhá-los num próximo texto).

O fundamento de todos esses saberes é a curiosidade. Por isso, acredito que a grande missão do professor é “provocar curiosidade”, o primeiro passo de uma reflexão crítica. Como lembra Rubem Alves, é necessário que o estudante veja no professor alguém curioso, a começar por aquilo que o próprio aluno diz e faz.

Existem muitas maneiras de desenvolver a curiosidade, e a mais prazerosa que conheço é por meio da leitura. A boa leitura pode propiciar, além do prazer imenso, novas perspectivas de ver e de entender o mundo. O leitor é, em essência, um curioso e será, provavelmente, questionador e crítico.

A curiosidade, de alguma forma, estimula a sensibilidade. Quem está questionando e se questionando sobre as coisas à sua volta, torna-se sensível a este mundo. Não é, lógico, um passo automático, mas um passo possível.

Além disso, é preciso estimular a ruptura dos padrões, para que os alunos escrevam sem amarras, sem manuais, tentando encontrar seus próprios caminhos – indicando a eles textos jornalísticos inteligentes e criativos, que revelem as infinitas possibilidades de se contar uma história.

Uma das funções do jornalismo, até que se prove o contrário, é contar uma história real, e contá-la bem, com precisão, honestidade e, se possível, com algum charme, tentando alcançar “a melhor versão possível da verdade”, como ensinou Carl Bernstein. A propósito, muitos estudantes concluem o curso sem saber quem é Carl Bernstein.

Hoje, dois anos depois, gostaria de reencontrar aquele “menino da lanchonete”. Se ele mantiver a curiosidade, terá plenas condições de se tornar um bom jornalista, se assim o quiser. Mas, cá entre nós, se for esperto, fará coisa mais interessante na vida. Talvez, ele faça algum curso de exatas e possa escrever, sem erros grosseiros, um ditado de 30 palavras.

¿Para qué sirven las facultades de periodismo?

Estaba en la cafetería de la facultad, entre una clase y otra, tomando café y leyendo una revista. El chico se aproximó, se sentó adelante mío y me preguntó:

– ¿Estudias aquí?

Balancé la cabeza, negativamente.

– ¿Qué haces?

El chico debería tener unos 11, 12 años.

– Soy profesor de Periodismo, respondí.

– ¿Y qué se enseña en la carrera de Periodismo?

Hablé de las disciplinas de redacción, radio, TV, fotografía, teoría de la…

El chiquillo tenía un no sé qué de arrogante.

– ¿Por qué quieres saber? Ni siquiera tienes edad para dar el examen de ingreso.

– Soy curioso – respondió.

Cuando le iba a explicar, con paciencia y educación, se levantó, dijo que precisaba irse y se fue. Pero la pregunta me quedó: ¿qué se aprende en la carrera de Periodismo?

Podría haber respondido que, básicamente, se aprenden técnicas, teorías y ética. Y, con eso – entre otras cosas- se aprende a producir textos periodísticos. Escribir todavía es la base de la profesión. Sin embargo, buena parte de las 470 facultades de Periodismo en todo Brasil no alcanza ese objetivo. Están fallando vergonzosamente.

Es lo que afirma una investigación realizada por el Núcleo Brasileño de Pasantías (NUBE), con 10 mil candidatos de diferentes carreras universitarias, entre el 1º de enero y el 31 de agosto de este año.

La prueba consistía en escribir un dictado de 30 palabras y se permitían hasta seis errores. Los estudiantes de Ingeniería obtuvieron los mejores resultados, con “apenas” 12,5% de reprobación. Los estudiantes de Comunicación Social, incluyendo los de Periodismo, quedaron en las últimas posiciones, con una reprobación de 65,3%. Si eso no es el fondo del pozo, que alguien diga qué es.

Sería ingenuo atribuirles toda la responsabilidad a las facultades de Comunicación. Ese resultado es también consecuencia de una enseñanza fundamental muy precaria. Sin embargo, surge una duda a partir de esa investigación: si las facultades no pueden cambiar ese panorama, si no consiguen enseñar la base de la profesión a los alumnos, ¿por qué continuan existiendo?

Continuaban existiendo, principalmente, por causa del diploma – que dejó de ser obligatorio para el ejercício de la profesión. Obligatorio, para la profesión, debería ser una sólida formación humanística. Eso es lo que vuelve a la facultad imprescindible.

Desgraciadamente, de manera general, las carreras están estructuradas como un campo de entrenamiento para el mercado, “la última pasantía de la evolución humana”. Para entrar en el mercado, dicen los manuales, es necesario seguir las reglas, y no importa si ellas son, algunas veces, injustas, hipócritas y burras.

 

 

Hace algunos años, durante un debate en una escuela de Comunicación, una estudiante afirmó: “estoy en la facultad para tener un diploma y hacer contactos”, opinión compartida por buena parte de la platea. El objetivo de la estudiante, comprensible, se vuelve preocupante, porque evidencia que el acto de aprender – tal vez el acto más sublime del ser humano y la razón de ser de todas las escuelas – no era una prioridad, o sea, ni siquiera era importante.

Como también no es importante, por lo que parece, debatir sobre la democratización de la información, en un país donde los medios de comincación son controlados por algunas famílias. La base de la democracia es una prensa libre y competente. La pluralidad de ideas, estimulada por el periodismo, es el motor que hace caminar y evoluir la democracia. Sin embargo, no existe pluralidad cuando hay un monopolio de los medios de comunicación.

El sur del país es un ejemplo emblemático: La Red Brasil Sur (RBS), la más antigua afiliada de la Red Globo, posee 20 emisoras de televisión, 24 emisoras de radio y ocho periódicos, además de más de una decena de productos de plataforma digital.

Esa concentración es una inequidad. Sin embargo, las carreras de Periodismo, con honrosas excepciones, están empeñadas en entrenar a los estudiantes para que sean aceptados en ese engranaje. Y es mejor para ellos, según esa concepción, no saber cuán perjudiciales son para la sociedad.

No tengo solución para el desafío que se impone a las facultades de Periodismo actualmente, y, si la tuviera, abriría la mía. Pero tengo algunas ideas con relación a las prácticas pedagógicas, que no dependen directamente de la estructura institucional. Esa práctica se sustenta en cuatros saberes: buscar, ver, oír y contar (voy a detallarlos en un próximo texto).

El fundamento de todos los saberes es la curiosidad. Por eso, creo que la gran misión del profesor es “provocar curiosidad”, y el primer paso de una reflexión crítica. Como recuerda Rubem Alves, es necesario que el estudiante vea en el profesor alguien curioso, comenzando por aquello que el propio alumno dice y hace.

Existen muchas maneras de desarrollar la curiosidad y la más placentera que conozco es por medio de la lectura. La buena lectura puede propiciar, ademas de un inmenso placer, nuevas perspectivas de ver y de entender el mundo. El lector es, en esencia, un curioso y será, probablemente, cuestionador y crítico.

La curiosidad, de alguna forma, estimula la sensibilidad. Quien está cuestionando y cuestionándose sobre las cosas a su alrededor se vuelve sensible a este mundo. No es, lógico, un paso automático, sino un paso posible.

Además de eso, es necesario estimular la ruptura de los modelos para que los alumnos escriban sin ataduras, sin manuales, e intenten encontrar sus propios caminos –recomendándoles textos periodísticos inteligentes y creativos, que revelen las infinitas posibilidades de contarse una historia.

Una de las funciones del periodismo, hasta que se pruebe lo contrario, es contar una historia real, y contarla bien, con precisión, honestidad y, si es posible, con algún encanto, intentando alcanzar “la mejor versión posible de la verdad”, como enseñó Carl Bernstein. A propósito, muchos estudiantes terminan la carrera sin saber quién es Carl Bernstein.

Hoy, dos años después, me gustaría reencontrar a aquel “chico de la cafetería”. Si él mantiene la curiosidad, tendrá plenas condiciones de volverse un buen periodista, si así lo quisiera. Pero, entre nosotros, si es inteligente, hará algo más interesante en la vida. Tal vez, haga algún curso de exactas y pueda escribir, sin errores groseros, un dictado de 30 palabras.

Traducción: Jole de Melo para Desacato.

Imagem: Desenho de Bira.

 

1 COMENTÁRIO

  1. Parabéns pelo artigo… mas analisando pelo colocado podemos decretar a morte do jornalismo independente, do jornalismo comprometido com a verdade ??? Não há mais esperança para aqueles que vêem o jornalismo com olhos curiosos, como o menino no seu texto ???

    Talvez não exista um comprometimento por parte das instituições de ensino, muitas delas (se não todas) com rabo preso, mas temos exemplos, aqui mesmo neste portal, de um jornalismo sério, curioso, charmoso e, porque não dizer, romântico. Por isso, talvez as faculdades de jornalismo não sirvam mais a este propósito, mas ainda vejo luz no fim do túnel, pois enquanto houver pessoas dispostas a trazer a verdade à tona, nelas existirá esperança…

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