Pandemia: governo quer R$ 5 bilhões do Congresso para ações contra coronavírus

Verba viria de emendas parlamentares e depende de aprovação do relator. Brasil já contabiliza mais de 60 casos.

Foto: Nelson Almeida / AFP)

Por Nara Lacerda.

O Ministério da Saúde tenta conseguir com o Congresso Nacional que ao menos R$ 5 bilhões da verba destinada a emendas sejam usados para ações de enfrentamento ao coronavírus. Cabe ao relator do orçamento, Domingos Neto (PSD-CE), decidir se a liberação será realizada ou não. O ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta, informou que a ideia é usar o possível recurso em todo o território nacional, de acordo com as necessidades e demandas de cada estado. 

Nesta quarta-feira (11) à noite, Mandetta se reuniu  com os presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e da Câmara, Rodrigo Maia, para tratar de medidas de contenção ao vírus. O ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, também estiveram no encontro.

O Distrito Federal foi a primeira unidade da federação a suspender aulas em todas as escolas, universidades e faculdades das redes de ensino pública e privada e a cancelar eventos que exigem alvará do poder público. Bares e restaurantes devem dispor mesas com distância mínima de dois metros. Um decreto publicado em edição extra do Diário Oficial determina que as atividades listadas estão suspensas por cinco dias, prazo que pode ser revisto e ampliado.

Pandemia

Também nesta quarta-feira, Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou pandemia mundial por causa do coronavírus. Até o momento, 110 países – mais da metade do mundo – já registraram casos da doença. De acordo com a OMS, nas últimas duas semanas, o número de casos fora da China cresceu 13 vezes e o número de países afetados triplicou.

Alguns países, incluindo o Brasil, já pressionavam a entidade para que a organização reconhecesse o estado de pandemia. Em audiência na Câmara dos Deputados, o ministro da Saúde afirmou que o status de pandemia desburocratiza as respostas ao problema. Ele informou que, a partir de agora, toda pessoa que chegar ao Brasil com sintomas de gripe será considerada um caso suspeito, independentemente de onde vier.

“Fomos os primeiros a falar ‘é uma pandemia’. Se tivessem feito isso antes, a gente não precisaria ficar procurando em qual voo cada suspeita estava. Tecnicamente o que muda? Qualquer pessoa, de qualquer voo que chegue dentro do Brasil hoje tecnicamente você fala: se tiver febre, tosse ou gripe procure uma unidade de saúde, porque pode ser o coronavírus.”

Demanda no SUS

O ministro afirmou também que o vírus causa um aumento na busca pelos serviços de saúde e que, apesar da letalidade baixa, é preciso evitar gargalos no atendimento.

“O vírus pode ser extremamente duro e ele derruba o sistema de saúde. Se ele não tem uma letalidade alta individual elevada, ele tem uma letalidade ao sistema de saúde. Quanto mais alta essa espiral, mais pessoas ao mesmo tempo acionam o sistema de saúde.”

Até a tarde desta quarta-feira, o Ministério da Saúde havia confirmado 52 casos e mais de 900 suspeitos. São 30 pessoas em São Paulo e 13 no Rio de Janeiro. Outros seis estados também têm casos confirmados: Bahia (2), Distrito Federal (2), Rio Grande do Sul (2), Minas Gerais (1), Alagoas (1) e Espírito Santo (1). Algumas horas depois, o jornal Folha de São Paulo noticiou 69 casos, com confirmações da Secretária de Saúde da Bahia e do Hospital Israelita Albert Einstein.

Ainda não há registros da chamada transmissão comunitária sustentada, quando não é mais possível identificar a origem do vírus. Até agora, há seis transmissões locais em pessoas que tiveram contato com infectados que viajaram para outros países.

Mais de 40% das pessoas que estão com a doença têm menos de 40 anos. Os números ainda são reflexo do fato de que a maior parte dos pacientes brasileiros foi infectada em outros países. O ministro da Saúde ressaltou que esse cenário deve mudar e que a população acima de 60 anos é a mais suscetível.

Ainda de acordo com as recomendações do Ministério da Saúde, pessoas com sintomas devem procurar inicialmente os postos de saúde e não os hospitais, já que 90% dos casos tendem a ser leves. Para as próximas semanas e meses haverá medidas de reforço na atenção primária, ampliação dos horários de atendimento do Saúde na Hora, convocação de cinco mil médicos para atenção básica, e contratação de mil leitos de UTI sob critérios do Ministério da Saúde.

A intenção do governo é de que até 18 de março todos os estados brasileiros estejam aptos a fazer os testes para a doença. Haverá ainda a criação de um comitê de especialistas e a organização de serviços de telemedicina e telessuporte.

O início da campanha de vacinação contra a gripe foi antecipado. A partir de 23 de maio começa o período para idosos com 60 anos ou mais e trabalhadores da saúde. Em 16 de abril, passam a ser atendidos também professores, doentes crônicos, e profissionais das forças de segurança e salvamento. A partir de 9 de maio, começa a vacinação para crianças, gestantes e deficientes.

Bolsonaro minimiza riscos

Apesar dos esforços do próprio Ministério da Saúde, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deu declarações minimizando os riscos do coronavírus. Em um discurso realizado em Miami, nos Estados Unidos, ele usou a palavra fantasia para classificar a situação do coronavírus.

“Obviamente temos no momento uma crise, uma pequena crise. No meu entender, muito mais fantasia, a questão do coronavírus, que não é isso tudo que a grande mídia propala ou propaga pelo mundo todo.”

No início desta semana foram registradas quedas consideráveis nas bolsas de diversos países e cresce o temor de uma recessão mundial. Após o anúncio de classificação como pandemia, a Bovespa chegou a suspender negociações por meia hora, já que houve queda de 10% no principal índice da bolsa de valores brasileira.

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