Palestina-Israel: Só come quem consente

Por Tomás Nunes.

No dia 21 de novembro de 2015, Al-Qeeq foi detido pelas forças israelenses ocupantes, sendo depois transportado de Ramallah até ao centro de detenções e interrogatórios de Al-jalame a norte de Jerusalém, onde foi interrogado e torturado durante 25 dias. Enquanto estava a ser interrogado, as forças israelenses acusaram-no de incitamento através da mídia e deram-lhe duas escolhas, ou confessava (e colocava a sua profissão em perigo) ou era preso durante 7 anos. Apesar das terríveis condições Al-Qeeq não cedeu. Apenas ao vigésimo dia teve oportunidade de contactar com o seu advogado, um direito fundamental num Estado de Direito Democrático e a única forma de contactar com a família.

No dia 3 de dezembro um tribunal israelense ordenou que Al-Qeeq fosse detido, sem julgamento e sem acusações formais, chama-se a isto uma detenção administrativa, reservada para as pessoas que aparentam ser uma grande ameaça para sociedade. Estima-se que Israel mantenha neste momento 660 palestinos sob detenção administrativa, por um período indeterminado.

Enquanto Al-Qeeq estiver detido não poderá ver a família, uma punição pela greve de fome, afirmam as autoridades israelenses. Há ainda a preocupação de que as mesmas alimentem-no à força, já que no passado mês de julho o governo israelense aprovou uma lei que legaliza a alimentação forçada1, apesar da reação negativa por parte da comunidade médica de Israel. Al Qeeq recusa-se a comer, não recebe alimentação intra-venosa e recentemente parou de ingerir líquidos, afirmando que terá a liberdade ou a morte.

A Autoridade Palestina, liderada por Mahmoud Abbas, serve principalmente para ser um fantoche de Israel e assim controlar o povo palestino, muitas vezes detendo centenas de pessoas e agredindo milhares de outras. Para o povo palestino, a luta de Al-Qeeq é a luta de toda a Palestina. Existem cerca de 18 jornalistas palestinos detidos administrativamente. Al-Queeq não é o único preso político e não é certamente o primeiro a fazer uma greve de fome (a maior greve de fome registada na Palestina durou 67 dias). Mas poderá ser um dos primeiros a levar isto até às últimas consequências. A Autoridade Palestina teme as sequelas da possível morte de Al-Qeeq, podendo originar brutais retaliações por parte de todas as pessoas que seguem o caso do jornalista.

Várias acções de solidariedade tiveram lugar em Nova Iorque, Londres, Paris, Gaza e Cisjordânia. A Cruz Vermelha, a Anistia Internacional e a ONU estão a seguir este caso, mas nada é feito. Não estão a ser tomadas medidas efetivas. Entretanto a UE e os Estados Unidos tomam posições favoráveis e outras apáticas perante o Estado sionista de Israel. Por exemplo, o governo de Alexis Tsipras que assina contratos energéticos com Israel, aumentando o volume de exportações de combustíveis fósseis, engordando os fundos israelitas, que no futuro serão usados para apertar o garote que sufoca a Palestina. Não esquecer que há pouco tempo, Benjamin Netanyahu marchava nas ruas de Paris, em defesa da liberdade de expressão. A marcha dos hipócritas, que apoiam um governo que persegue e condena os jornalistas palestinos.

Mohammed Al Qeeq
Mohammed Al Qeeq

Entretanto Mohammed Al-Qeeq luta pela liberdade, pela dignidade. Como disse a mulher de Al-Qeeq, Shalash, que é também jornalista: “A ocupação israelense tenta desfigurar a bela imagem deste ser humano. Tenta mostrar que gostamos desta vida horrível. Mas o que Mohammed está a fazer, é o maior exemplo de que amamos a vida e a liberdade, que gostaríamos de viver como todas as outras pessoas.”

Esta é mais uma parte da história do povo palestino, mais uma parte da luta pela Liberdade. Cada dia sem comer, cada dia sem ver a família, cada segundo que poderá ser o último, estamos com Mohammed Al-Qeeq e seus semelhantes, estamos com o povo da Palestina.


Fonte: http://www.esquerda.net/opiniao/so-come-quem-consente/41290

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