Padre pede e polícia prende manifestantes da Marcha das Vadias

vadiasPor Lola Aronovich.

Ontem houve a Marcha das Vadias de Guarulhos, e duas manifestantes foram presas. Por quê? Porque um padre mandou.

O pároco da Catedral de Guarulhos enviou carta às autoridades exigindo providências contra a Marcha, por ser “sempre eivado [sic] de crimes, tais como atentado violento ao pudor, violação de direitos religiosos, agressões físicas”. Só pra lembrar, sabe quem era o bispo de Guarulhos até o ano passado, quando morreu? Ninguém menos que Dom Bergonzini, figurinha carimbada da misoginia, aquele que usou uma caneta para mostrar a uma repórter que “é muito difícil uma violência sem o consentimento da mulher”.

Patty, mestranda da USP, esteve lá na Marcha ontem e conta mais.

A Marcha das Vadias Guarulhos estava marcada para ontem às 14h no Marco Zero da cidade, que fica em frente à Igreja Matriz.

Quando eu cheguei, as meninas estavam fazendo os cartazes e organizando tudo. Logo reparei que o padre estava na janela da igreja ao lado de uma imagem de santa. Havia também um grupo grande cantando e rezando com ele; eles usavam microfones.

Num primeiro momento, achei que fosse algum evento católico. Mas depois reparei que havia várias viaturas da PM e um grupo vestindo camisetas com a estampa “aborto não”. Comecei a ter uma intuição ruim porque eles aumentavam cada vez mais o volume. Foi ficando mais difícil para nós da Marcha das Vadias fazer o jogral com um megafone fraquinho. Então entendi que os católicos realmente estavam se manifestando contra a marcha, o que por si só já era desagradável.

Eu vi que uma unidade da PM chegou, e um PM conversou com uma das organizadoras, mas não me pareceu que eles fossem impedir a marcha. Afinal, era uma manifestação pacífica. Foi emocionante ver mulheres de várias faixas etárias que estavam trabalhando por perto se aproximando e participando.

Até a hora em que fui embora, o maior problema era o contra-protesto da igreja. Só que, quando cheguei em casa, soube que algumas das manifestantes haviam sido detidas. A informação é que uma delas foi interpelada por ter feito topless, discutiu com o policial e foi detida por desacato à autoridade. Houve violência, pois ele rasgou a roupa dela e deu uma chave de braço.

Qual o perigo que uma mulher exibindo os seios em público oferece? A visão dela incomoda tanto que um policial resolve agredi-la fisicamente? Se isso não é misoginia, não sei o que mais pode ser. Quer dizer, corpo feminino só serve para entretenimento masculino. Se uma mulher o exibe numa demonstração de poder num protesto, isso ofende as autoridades.

A última informação que tenho é de que uma representante da OAB esteve no 1o DP com a deputada federal Janete Pietá (PT-SP). A advogada conseguiu a liberação das meninas, que foram levadas a um hospital para fazer exame de corpo de delito.

Mais tarde, chegou até mim a informação de que o pároco havia, num texto repleto de inverdades sobre a manifestação, solicitado a repressão da marcha.

Como assim? O padre manda, e a PM e a GCM simplesmente obedecem? Como um padre pode restringir o direito de uma manifestação acontecer em frente à igreja? Ninguém da marcha entrou, nem pretendia entrar nela. A reunião foi marcada ali por ser o Marco Zero — é espaço público. A polícia não pode prender manifestantes, nosso estado é laico e democrático. Estou me sentindo na inquisição. Espero que os responsáveis por esse absurdo sofram as medidas legais cabíveis.

Fonte: Escreva Lola Escreva.

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