OSX no Segundo turno


Por Raul Longo.

No primeiro pleito eleitoral que sofri em Florianópolis, levei um bruto susto. Paulo Bornhausen liderava as pesquisas de voto ao Senado, tendo por plataforma uma promessa: acabar com a raça dos pardais.

Não era nenhum símbolo prosaico de partido político como, por exemplo, a araponga ou o tucano. A tara da família, até onde se saiba, se restringe à raça humana e Paulinho referia-se aos radares de controle de velocidade que coibia o espírito esportivo de seus colegas de rachas.

Temi pela integridade física de meus amigos de Brasília, com todas aquelas avenidas tão anchas. E de suas filhas também, pois as pesquisas indicavam Leonel Pavan como segundo colocado. E lá atrás, num distante terceiro lugar: Ideli Salvati do PT que foi eleita como a senadora mais votada.

Por boa educação ou cuidado dos pais, nenhuma das filhas de meus amigos foi aliciada à difícil vida fácil. Tampouco algum deles ficou entravado numa cadeira de rodas, como a mãe de uma família que conheço no bairro de Ratones, desta Florianópolis de onde o pequeno Bornhausen só saiu no pleito seguinte, como deputado federal.

Mas em 2002 quem derrapou num cavalo de pau foram as pesquisas, pois o rapaz é que foi derrotado em terceiro e, desde então, aprendi que em terra de RBS tudo é válido, menos acreditar em pesquisas.

Assim sendo, em nada me espanta a afirmação de muitos do interior do estado contando que a mídia monopolizada pela RBS e  centralizada na capital, omite a real posição de Ideli Salvati já confirmada para o segundo turno.

Apesar de diversos amigos franca e historicamente eleitores do PT insistirem em anular o voto para o governo do estado e o que seria do Vignatti ao senado pelo partido, tudo em função do estaleiro da OSX, creio que seja mesmo possível que a popularidade do Presidente Lula e a evidência da eleição de Dilma Rousseff no primeiro turno, levem Ideli para o segundo, ao contrário do que dizem as pesquisas.

Aí fico aqui cogitando: que será do estaleiro da OSX no segundo turno?

Isso me preocupa porque sem dúvida esse empreendimento é de uma importância enorme para Santa Catarina. Tanto é que assim que saiu o parecer do ICMBio, contrário a implantação do megaestaleiro em Biguaçu, baixaram de uma só vez todos os espíritos políticos do estado no gabinete na Ministra do Meio Ambiente: o próprio Bornhausinho, Leonel Pavan, Edson Andrino, Raimundo Colombo, Ângela Amin, Ideli Salvatti e Altemir Gregolin, o Ministro da Pesca.

Tão intempestiva aliança de opositores só pode significar algo muito grandioso para todo o estado, sobretudo para a região pretendida e recusada pelos técnicos do órgão federal que, por não comparecerem a uma convocação política da Assembleia Estadual foram advertidos, ameaçados e admoestados por todas as forças e coligações partidárias presentes.

Mas aí vem a campanha que já vai para o fim de sua fase de primeiro turno e eu lá, grudado na TV, ouvindo aquele mundo de promessas, só para ouvir e ver alguém falando alguma coisa sobre algo tão importante para o futuro de nós todos que aqui vivemos.

Espantosamente, nada! Será que dei muito azar de perder quando alguém tocou no assunto? Mas se é tão importante, como podem ter falado apenas num raro momento em que por alguma eventualidade me distraí? Assisti praticamente todos os programas, apenas para ouvir falar sobre isso! E, incrivelmente, nenhuma palavra sobre o que pode ser o maior acontecimento da história de Santa Catarina depois do romance de Anita com Garibaldi.

Como assim Ângela? E aí Raimundo, esqueceu? Que é que deu Ideli? Desistiram do megaestaleiro? Concordaram com o ICMBio?

Ué! Se justificou à caravana à Brasília, toda a desqualificação dos técnicos do ICMBio, e se a coisa é tão boa e trará tantos empregos, aumentos de arrecadação e tão profundos progressos, porque a escondem exatamente na hora de exaltarem tudo o que pretendem fazer pelo futuro de seus eleitores catarinenses?

O único que pronunciou alguma coisa foi o Gregolin. Mas para dizer que não existe atividade pesqueira na baía norte da Ilha, melhor seria ter ficado calado, pois no Mercado Público, abastecido em cerca de 70% do que comercializa pelos pescadores e criadores da baía norte, já está sendo chamado de Ministro da Pesca de Traíra.

Será sina de catarinense isso de petista aloprado?

Fato é que neste primeiro turno, paira um silêncio sepulcral em todas as peças de campanha. Conforme já disse, logo pude perceber os motivos desse silêncio entre os eleitores do PT, mas porque Angela e Raimundo também se resguardam?

Daí fico sabendo pela imprensa alternativa (blogs), pois a oficial, a RBS, só noticia interesses do anunciante, que o Estudo de Impacto Ambiental da OSX foi desqualificado por eminentes biólogos, oceanógrafos, cientistas e acadêmicos do estado e do país.

Já há uns 15 anos em Florianópolis e tomo um bruto susto outra vez! Isso porque na audiência pública no Jurerê garantiram que a incidência de arsênio no leito do nosso canal é mínima, sem qualquer possibilidade de provocar envenenamento.

Mas se erraram a designação de 40% dos peixes que identificaram na baía norte, se deixaram de reconhecer cerca de 20% das espécies que realmente existem e incluíram espécies que não poderiam existir de forma alguma, por serem exclusivas de ambientes de água doce — inclusive algumas ornamentais, de aquário doméstico — o que essa gente entende do arsênio que já matou milhões de pessoas nos mais diversos países do mundo?!!!

Dilma Rousseff é que é mineira, mas quem tá ficando desconfiado com esse silêncio sobre o estaleiro sou eu. Algo me diz que na hora em que começar a acontecer tudo o que os cientistas da UFSC, do ICMBio e tantas outras instituições especializadas preveem, vai todo mundo tirar o corpinho, assobiar olhando pro alto, e a responsabilidade será exclusivamente do governo federal.

Há constantes elogios à Dilma Rousseff entre os que acreditam que o país precisa de um dirigente de postura e comprometimentos técnicos. Se essa personalidade técnica da Presidente prevalecer, a discussão sai do âmbito político e retorna ao mais seguro e razoável, tranquilizando a população.

Mas também há duas críticas recorrentes, ainda que contraditórias. Uns dizem que o PAC não sai do papel e que tudo o que se anuncia de desenvolvimento brasileiro no governo Lula/Dilma é mera propaganda eleitoral. Já outros os acusam por promover desenvolvimento a qualquer custo.

Quanto à primeira crítica tenho minhas dúvidas, pois apesar de não ser nordestina nem operária e utilizar pronúncia padrão, além dos votos o Presidente Lula transferiu à Dilma toda a antipatia que a mídia sempre lhe devotou com muito ardor. E se ela não houvesse feito nada de concreto, de onde haveria conquistado a situação de eleita antes da eleição segundo o Carlos Montenegro, presidente do IBOPE que no início do ano a dava como derrotada?

Já no que se refere ao desenvolvimento obtido a qualquer custo, não consigo imaginar onde a crítica se fundamenta. Talvez em alguma informação que ainda não chegou ao meu conhecimento, mas espero que a Presidente Dilma não a confirme logo aqui em frente à minha casa, desempregando tantos amigos meus e quase toda a população da região, inviabilizando as atividades tradicionais e promovendo inchamento populacional onde tantos atendimentos de serviços públicos já são deficitários com o número de habitantes que temos.

Agora, uma coisa é certa: no jogo do se ficar o bicho pega se correr o bicho come, prevalecendo o continuísmo dos mesmos poderes de PSDB/DEM/PMDB e PP para o segundo turno, a culpa pelas consequências da implantação do megaestaleiro será empurrada para a Dilma. E se não autorizar o desastre, será a desculpa pela não realização do que prometem e não cumprem há tantas gestões em que se alternam ou se aliam no poder.

Mas a questão é: e se Ideli for para o segundo turno e sair vitoriosa?

Bom… Como só consigo adivinhar o óbvio, apenas posso prever com total segurança que se o megaestaleiro for realizado com Ideli Salvatti no governo do estado, meus amigos petistas que pretendam continuar votando no partido vão ter de mudar o domicílio eleitoral para outro estado. Ah vão! Pois em Santa Catarina o extermínio racial idealizado pelo velho Bornhausen será concretizado por muitos e muitos anos.

Foto : Celso Martins, fonte: sambaquinarede2.blogspot.com

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