Os “Filhos da PUTA”

FODAM-SEPor Daniela Felix.

Uma das coisas que vem ao longo do tempo me gerando um incômodo profundo é o xingamento de PUTA. Seja tão somente o “PUTA”, mas principalmente o “filho da PUTA”. Ambos estão presentes em tempo integral no linguajar de todos e todas, independente de escolaridade, local ou classe social.

É cultural expressar a raiva ou a indignação por “palavrões”. Mandar uma pessoa à “merda” é quase uma bênção. Se “foder”, então, para alguns parece que vem desde o fígado quando verbalizado. Muito embora não concorde que mandar uma pessoa ir fazer sexo seja ruim. Eu, na minha ironia nata, quando recebo um “vai se foder” ou um “foda-se”, respondo com um “por favor”, ou “que deus abençoe”!

É, pra mim, a mesma coisa que um “vai com deus” para os cristãos.

Já o “PUTA” e o “filho da PUTA” não. Independente de ser ou não direcionado a mim, ele me agride, me ofende.

O PUTA, como evidente nessa última semana, é uma violência direta e objetiva à moral sexual da Mulher a quem se dirige. É machista, misógino, etc., etc., etc.

Todavia, o “filho da PUTA” é ainda mais grave, uma vez que até para se xingar o macho, precisamos atacar a moral sexual de outra Mulher, que é a Sua Mãe.

O que me vem à cabeça quando ouço é: que culpa e responsabilidade tem a Mãe pelas safadezas, canalhices, mau-caratismo do filho?

Que culpa tem a Mãe de Michel Temer, Eduardo Cunha, Aécio Neves, Sérgio Moro e a do Bandeirinha do Fla x Flu?

Que culpa é esta atribuída à Mãe pelos erros do filho?

Quando é a filha a PUTA é ela mesma, mas quando é o filho, a culpa recai sobre a Mãe. Por quê?

Que bagunça é essa que continuamos a reproduzir?

Até quando aceitaremos ser violadas em nossa moral sexual ou aceitar que outras Mulheres também o sejam?

Mais grave ainda é saber que Nós, Mulheres, também reproduzimos, em alto e bom tom, o “filho da PUTA” pro cara que não gostamos, pro político safado e pr’aquele taxista barbeiro que adora xingar as Mulheres.

Enfim, são reflexões que precisam ser feitas.

E, mais que a “chatice” do politicamente correto, é preciso pensar em até quando seremos cúmplices dessas violências simbólicas às nossas Amigas, Mães, Irmãs e Companheiras?

Nunca fui uma desbocada nata, mas às vezes sai um “palavrão” quando deu (ou vai dar) “merda” ou quando estou enfurecida, mas o “filho da PUTA” definitivamente risquei do vocabulário, pois não admito mais reproduzir o machismo e a misoginia enquanto forma de tratamento ao “outro” (principalmente à “outra”), mesmo que por cultura. Até porque entendo que a cultura é algo em movimento. Hábitos e práticas ruins precisam ser abolidas de nossas vidas.

O povo brasileiro é tão criativo e, por isso, penso que somos capazes de criar novas metáforas que expressem os sentimentos, sem que para tanto uma Mulher precise ter sua moral sexual violada.

Abraços e “FODAM-SE””!!!

Daniela Felix é mestre em Direito e professora da UFSC e o CESUSC.

Fonte: Facebook.

 

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