Os comunistas e as eleições

Para pensar o papel dos comunistas nas eleições é preciso sempre partir de uma análise sobre a estrutura de poder e de classes de nossa atual sociedade, bem como o seu contexto histórico.

O nosso capitalismo dependente e o seu bloco de poder dominante, impõe um domínio autocrático que restringe ao máximo qualquer possibilidade de avanços sociais e democráticos para a ampla maioria da população. A fração hegemônica deste bloco de poder é o imperialismo, que superexplora – através dos monopólios e latifúndios – nossa mão de obra e se apropria de imensa parte de nossos recursos naturais.

É preciso compreender que o Estado não é “neutro” ele é sempre um instrumento de dominação de classe e quem detém sua hegemonia é a grande burguesia, latifúndios e imperialismo, portanto trata-se de um Estado burguês. Compreender isso não significa negar que a dinâmica da luta de classes é contraditória e que esse mesmo Estado é reflexo dessa dinâmica, portanto é sim possível que a classe trabalhadora e o povo consigam abrir brechas nele e obter conquistas. Mas essas conquistas sempre serão insuficientes enquanto os explorados e oprimidos não se organizarem para efetivar a ruptura com esse Estado (a sua destruição) e construir um novo, de transição, onde os trabalhadores e o povo é que detém e hegemonia do poder.

O golpe de estado de 1964, que instaurou a ditadura civil-militar em nosso país, nos mostrou que essa classe dominante associada ao imperialismo não pode sequer aceitar mínimas conquistas democráticas para o povo, pois o capitalismo dependente é o único capitalismo possível em nosso país, e se buscarmos superar essa condição estaremos criando uma dinâmica social que necessariamente precisa enfrentar a ordem vigente.

As classes dominantes latino-americanas permitem que existam eleições diretas em seus países até o ponto em que o seu poder não seja ameaçado. Se alguma medida progressista em favor do povo ameaçar o seu poder, ela recorre ao golpe de estado para instaurar um regime fascista (como vimos na Venezuela em 2002, Honduras em 2009 e Paraguai nesse ano). Na Venezuela o povo organizado em aliança com o setor progressista do exército conseguiu derrotar o golpe de estado em 48 horas, mostrando a importância da organização popular para enfrentar a violência da burguesia.

Por tudo isso, é sempre importante não nos iludirmos com as eleições burguesas. No Brasil a maioria dos candidatos com chances de se eleger têm suas campanhas financiadas pelas grandes empresas, pelos bancos e latifúndios, e quando eleitos favorecem sempre esses setores durante seus mandatos. Naturalmente são sempre eles que conseguem uma campanha mais expressiva, maior tempo no horário político, etc.

Precisamos constituir em nosso país um bloco de forças proletário e popular de caráter anti-imperialista, anti-monopolista e anti-latifundiário que seja capaz de chegar ao poder, poder que pelo seu próprio caráter significará um passo decisivo rumo ao socialismo. Nesse processo é fundamental a elevação do nível de consciência e organização do povo em seus locais de trabalho, estudo e moradia, e também é importante que as organizações políticas busquem uma atuação conjunta construindo uma frente de unidade popular.

A atuação durante as eleições – embora não seja a central – não deve ser desprezada, pois é um momento onde é possível dialogar com as grandes massas do povo e apontar a necessidade de outro projeto de sociedade. Essa atuação é apenas uma tática dentro da estratégia maior de conquista do poder, e é importante que se dê através de candidaturas que estejam intimamente ligadas a luta e a organização popular, com mandatos subordinados a essas lutas e que jamais cedam às tentativas de cooptação permanentes por parte do poder dominante.

Fonte: JA no. VIII

Imagem: Carlos Latuff para Ópera Mundi.

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