Operação Condor, América Latina: Terrorismo Internacional de Estado

Por John Simkin,  Spartacus Educational.

Em 11 de dezembro de 1959, o Coronel J.C. King, chefe da divisão do Hemisfério Ocidental da CIA, enviou um memorando confidencial para Allen W. Dulles, o diretor da CIA, King Argumentava que em Cuba existia uma”ditadura de extrema esquerda, que se puder continuar vai encorajar ações similares conta as  empresas dos EUA em outros países da América Latina.”

Como resultado desse memorando, Dulles estabeleceu a Operação 40. Ela recebeu esse nome por originalmente haviam 40 agentes envolvidos. Mais tarde ela foi expandida para 70 agentes. A grupo era liderado por Richard Nixon. Tracy Barnes se tornou  oficial operativo do foi chamado de Força Tarefa Cubana. A primeira reunião presidida por Barnes aconteceu em seu escritório em 18 de janeiro de 1960, tendo presença de David Atlee PhillipsE.Howard HuntJake Esterline e Frank Bender.

Em 4 de março de 1960, La Coubre, um navio de bandeira Belga, explodiu na Baía de Havana. Ele estava carregado de armas e munições que seriam enviados para defender a revolução cubana de seus inimigos. A explosão matou 75 pessoas e feriu mais de 200. Fabian Escalante, um oficial do Departamento Segurança do Estado(G2) disse mais tarde que essa foi a primeira operação bem sucedida da Operação 40.

A Operação 40 não estava envolvida apenas em operações de sabotagem. De fato, ela envolvia um grupo de assassinos. Um dos membros, Frank Sturgis, disse: “esse grupo de assassinos (Operação 40)deveria, naturalmente, assassinar tanto membros do exército quando de partidos políticos de países estrangeiros em que você fosse se infiltrar, e se necessário alguns dos membros de seu próprio grupo que você suspeitasse que fossem agentes  estrangeiros… nós estávamos nos concentrando só em Cuba naquele período em particular.”

Nos próximos anos  a Operação 40 trabalhou próxima de várias organizações cubanas  anti-Castro, incluindo a Alpha 66. Oficiais da CIA e agentes freelancers como  William Harvey, Thomas Clines, Porter Goss, Gerry Hemming, E. Howard Hunt, David Morales, Carl E. Jenkins, Bernard L. Barker, Barry Seal, Frank Sturgis, Tosh Plumlee, e William C. Bishop

Os cubanos envolvidos na Operação 40 incluíam Antonio Veciana, Luis Posada, Orlando Bosch, Rafael Quintero, Roland Masferrer, Eladio del Valle, Guillermo Novo, Rafael Villaverde, Carlos Bringuier, Eugenio Martínez, Antonio Cuesta, Hermino Díaz Garcia, Barry Seal, Félix Rodríguez, Ricardo Morales Navarrete, Juan Manuel Salvat, Isidro Borjas, Virgilio Paz, José Dionisio Suárez, Felipe Rivero, Gaspar Jiménez Escobedo, Nazario Sargent, Pedro Luis Díaz Lanz, José Basulto, e Paulino Sierra.

Michael Townley foi outro agente da  CIA que  foi envolvido na organização de  assassinatos de oponentes políticos. Ele se associou com um grupo cubano chamado Chicago Junta. Esse grupo incluia Frank Sturgis, Orlando Bosch, Antonio Veciana e Aldo Vera Serafín. De acordo com Peter Dale Scott, esse  grupo de extermínio foi desmantelado em 21 de novembro de 1963, um dia antes do assassinato de John F. Kennedy.

A CIA também usou o International Development’s Office of Public Safety (OPS) para auxiliar o estabelecimento de ditaduras militares de direita, o que incluiu Daniel Mitrione que ajudou a derrubar o Presidente João Goulart no Brasil em 1964. De acordo com Franco Solinas  Mitrione também esteve na República Dominicana depois da Intervenção dos EUA em 1965.

Em 1967, Daniel Mitrione retornou aos Estados Unidos para compartilhar suas experiências e conhecimento em “contra-guerrilha” na Agência de  Desenvolvimento Internacional(AID), em Washington. Em 1969 Mitrione se mudou para o   Uruguai, mais uma vez a serviço da AID, para supervisionar o Escritório de Segurança Pública. Dessa vez o governo uruguaio era liderado pelo impopular Partido Colorado. Richard Nixon e a CIA temiam a possibilidade de vitória eleitoral da Frente Ampla, uma coligação de esquerda,  nos moldes da vitória do  governo da Unidade Popular no Chile, liderada por Salvador Allende.

Em 1969 a CIA providenciou o envio de Michael Townley para o Chile sob a identidade secreta de Kenneth W. Enyart. Eles estava acompanhado de Aldo Vera Serafin do SAO. Townley agora estava sob o controle de David Atlee Phillips que havia sido indicado para liderar uma força tarefa especial  designada para prevenir a eleição de Salvador Allende para presidente do Chile. Essa campanha não foi bem sucedida e Allende assumiu o poder em 1970. Ele se tornou o primeiro marxista a ganhar poder em uma eleição democrática.

Em 31 de julho de 1970, os Tupamaros sequestraram Daniel Mitrione e um funcionário  da agência de desenvolvimento internacional, Claude L. Fry. ainda que tenham libertado Fry , eles continuaram interrogando Mitrione sobre seu passado e a intervenção do governo dos EUA nos assuntos latino americanos. Eles também exigiram a libertação de 150 presos políticos. O governo uruguaio, com apoio dos EUA, recusou, e Mitrione foi encontrado morto em um carro. Ele  tomou dois tiros na cabeça mas não havia provas de que tivesse sido torturado.

Michael Townley continuou a tentar enfraquecer  o governo de Salvador Allende. A CIA tentou  persuadir  o Chefe do Estado Maior do Chile, General René Schneider, a derrubar Allende. Ele se recusou e em 22 de Outubro de 1970, seu carro foi emboscado. Schneider pegou uma arma para se defender, e foi atingido à queima roupa várias vezes. Ele  foi levado às pressas para um hospital, mas morreu três dias depois. A Corte Marcial do Chile descobriu que a morte de Schneider foi causada por dois grupos militares, um liberado por Roberto Viaux e outro por Camilo Valenzuela. Afirma-se que a CIA estavam apoiando os dois grupos.

David Atlee Phillips entregou para Townley a tarefa de organizar os dois grupos paramilitares Orden y Libertad e Protección Comunal y Soberanía.  Townley também criou um esquadrão incendiário e começou vários  incêndios em Santiago.Townley também  montou uma campanha de difamação contra o general Carlos Prats, Chefe do exército chileno. Prats renunciou em 21 de agosto de 1973. Seu substituto como comandante em chefe foi o General Augusto Pinochet.

Em 11 de setembro 1973, um golpe militar removeu o governo Allende do poder. Salvador Allende morreu em combate no palácio presidencial em Santiago. O General  Augusto Pinochet substituiu Allende como presidente. Logo depois Michael Townley foi recrutado pelo General Juan Manuel Contreras, chefe da DINA, a nova polícia secreta.

A principal tarefa de Townley era lidar com os dissidentes que deixaram o Chile depois que o general Augusto Pinochet assumiu o poder. Isso incluiu o General Carlos Prats que estava escrevendo suas memórias na Argentina. Em Death in Washington: The Murder of Orlando Letelier ,Donald Freed argumenta que “em 30 de setembro de 1974, logo depois do primeiro aniversário da derrubada violenta do governo Allende, Townley e um time de assassinos mataram Carlos Prats e sua esposa em Buenos Aires. Seu carro foi explodido com uma bomba.”

James Abourezk, que representava Dakota do sul no senado dos EUA, descobriu que o escritório de segurança pública estava treinando a polícia da América Latina para torturar militantes de esquerda por vários anos. Abourezk tornou essa informação publica em 1974, o congresso baniu o oferecimento de treinamento ou o auxílio à polícia estrangeira pelos EUA e a OPS foi fechada.

A Cia continuou financiando as atividades de agentes como Michael Townley. Promovido ao posto de Major pelo General Juan Manuel Contreras, chefe da DINA(a polícia secreta chilena). Townley fez visitas regulares aos Estados Unidos em 1975 para encontrar com Rolando Otero e outros membros do Grupo White Hand. em setembro de 1975, o esquadrão da morte de Townley atacou mais uma vez. O Ex-vice presidente chileno Bernardo Leighton e sua esposa foram abatidos em Roma por fascistas locais trabalhando com a DINA.

Em 25 de novembro de 1975, líderes dos serviços de inteligência militar da Argentina, Bolívia, Chile , Paraguai e Uruguai se encontraram com Juan Manuel Contreras em Santiago do Chile. Os principal objetivo para a CIA era coordenar ações dos vários serviços de segurança para “eliminar a subversão marxista”. A Operação Condor  teve apoio tácito dos Estados Unidos que temiam uma revolução marxista na região. oficialmente  os alvos eram as guerrilhas de esquerda mas  , de fato,  incluíam todos os tipos de oponentes políticos. Por exemplo, na Argentina cerca de 30.000 socialistas, sindicalistas, parentes de militantes, etc. foram assassinados pelo governo militar.

Donald Freed afirma que em 29 de junho de 1976, Michael Townley teve uma reunião com Bernardo De Torres, Armando Lopez Estrada, Hector Duran  e o General Juan Manuel Contreras Sepúlveda. No mês seguinte,Frank Castro, Luis Posada, Orlando Bosch e Guillermo Novo estabeleceram a Coordination of United Revolutionary Organizations (CORU).A CORU foi parcialmente financiada por Guillermo Hernández Cartaya outro veterano da Baía dos Porcos bastante ligado à CIA. mais tarde ele foi acusado de lavagem de dinheiro, tráfico de drogas e armas e desfalque. O promotor federal disse a Pete Brewton  que ele havia sido abordado por um oficial da CIA que explicou que “Cartaya tinha feito um monte de coisas e que o governo devia a ele, e me pediu para retirar as queixas contra ele.”

Um veterano da polícia de Miami contou aos autores de  Assassination on Embassy Row (1980):”os cubanos mantiveram a reunião do CORU a pedido da CIA. Os grupos cubanos… estavam correndo fora de controle na metade dos anos 1970, e os Estados Unidos tinham perdido o controle deles. Então os Estados Unidos apoiaram a reunião para colocá-los na mesma direção , sob controle dos Estados unidos” salientando que George H.W. Bush era diretor da CIA quando essa reunião aconteceu.

Frank Castro contou ao Miami Herald porque ele ajudou a estabelecer o CORU :”eu acredito que os Estados unidos traíram os combatentes da liberdade mundo afora. Eles nos treinaram para lutar, fizeram lavagem cerebral para que lutassem e agora colocam exilados cubanos  na cadeia  por causa do que ensinaram para eles nos primeiros anos.”

Em 18 de setembro de 1976, Orlando Letelier, que foi ministro de relações estrangeiras no governo de Salvador Allende, estava viajando a trabalho para o Instituto de Estudos Políticos em Washington quando uma bomba  acendeu debaixo do seu carro. Letelier e Ronni Moffit, uma mulher de 25 anos que fazia campanha por democracia no Chile, morreram  por causa dos ferimentos.

O diretor da CIA, George H.W. Bush,  soube rápido  que  a DINA e vários de seus   agentes estavam envolvidos. Entretanto, ele vazou a história para os membros da Operação Mockingbird que tentou encobrir o papel da CIA e da DINA nos assassinatos.   Jeremiah O’Leary escreveu no Washington Star (em 8 de outubro de 1976):”a junta da  direita chilena não tinha nada a ganhar e tudo a perder pelo assassinato de um lider socialista pacifico e popular” a Newsweek adicionou:”a CIA concluiu q a polícia secreta chilena não estava envolvida”(11 de outubro de 1976).

William F. Buckley  também fez parte dessa campanha de desinformação e escreveu em 25 de outubro: “investigadores dos EUA considera improvável que o Chile arriscasse com  ação desse tipo o respeito que conquistou no último ano  em vários países ocidentais, que antes eram hostis a suas políticas.”  De acordo com Donald Freed, Buckley oferecia desinformação ao governo do General Augusto Pinochet desde 1974. Ele também desenterrou  a informação de que o irmão de William Buckley, James Buckley, se encontrou com  Michael Townley e Guillermo Novo  em Nova York uma semana antes de Orlando Letelier fosse assassinado.

Em outubro de 1976, a explosão do vôo 455 da Cubana saindo de barbados matou todas 73 pessoas a bordo. Incluindo 24 jovens atletas da equipe medalhista de ouro de esgrima. A Policia em Trinidad prendeu dois venezuelanos, Herman Ricardo e Freddy Lugo. Ricardo trabalhava para a agência de segurança de Luis Posadas na Venezuela. Ele admitiu que ele e Lugo plantaram duas bombas no avião. Quando Posada foi preso encontraram um mapa de Washington mostrando a rota diária de  Orlando Letelier para o trabalho.

Mais tarde veio a público que George H.W. Bush, diretor da CIA, avisou ao congressista Edward Koch, em outubro de 1974, que seu apoio à legislação  relativa aos direitos humanos para cortar a assistência militar dos EUA ao Uruguai tinha feito que os oficiais da polícia secreta”colocassem um preço na sua cabeça.” de acordo com documentos obtidos por  John Dinges em seu livro  The Condor Years (2004), o  chefe do escritório da CIA em Montevidéu recebeu informações em julho de 1976 de que dois oficial de alta patente da inteligência uruguaia discutiram  a habilidade de conseguir que a polícia secreta do Chile, a DINA,  enviou agentes aos Estados unidos para matar Koch. o chefe do escritório, identificado como Frederik Latrash, relatou a conversa para o Quartel-general da CIA mas recomendou que a Agência não tomasse atitude porque os oficiais estavam bebendo em um coquetel quando a ameaça foi feita.

Só depois do assassinato de Orlando Letelier que a CIA avisou Edward Koch sobre o plano de assassinato e compartilhou inteligência com o FBI e o Departamento de Estado. Documentos recém-lançados mostram que a CIA tinha contato próximo com os membros da polícia secreta chilena, a DINA, e seu chefe Juan Manuel Contreras, que era o chefe da Operação Condor. De fato, Contreras estava na folha de pagamento da CIA(o que depois foi declarado um engano administrativo).

Um telegrama de 1978 do embaixador dos EUA no Paraguai, Robert White, ao secretário de Estado Cyrus Vance, foi lançado em novembro de 200 pela administração de Bill Clinton pelo processo de desclassificação chileno. Em um telegrama o embaixador white relata uma conversa com o General Alejandro Fretes Davalos,  chefe do estado maior das forças armadas paraguaias, que o informou que os chefes da inteligência sulamericana envolvidos na Condor mantiveram “contato uns com os outros por meio de comunicações dos EUa instaladas a zona do Canal do Panamá que cobriam toda a América Latina”. White temia que a conexão dos EUA com a Condor pudesse ser revelada  ao público durante as investigações do assassinato de Letelier.

John DInges argumenta que “a trilha de papel é bem clara: o Departamento de Estado e a CIA tinham informação suficiente para dar passos concretos para frustrar o plano de assassinato da Condor. Esses passos foram iniciados mas nunca implementados.” Hewson Ryan, que trabalhou para Henry Kissinger, depois admitiu: “nós sabíamos bem antes  que os governos do cone sul estavam planejando, ou pelo menos discutindo, alguns assassinatos no estrangeiro no verão de 1976…se nós tivéssemos assumido, podíamos ter prevenido, eu nãos ei. Mas nós não intervimos.”

Eventualmente, o FBI se convenceu que Michael Townley planejou o assassinato de  Orlando Letelier. Em 1978 o Chile  concordou em estraditá-lo para os Estados Unidos. Townley confessou que  contratou cinco cubanos anti-Castro para colocarem  a armadilha no carro de Letelier. Guillermo Novo, Ignacio Novo, Virgilio Paz Romero, Dionísio Suárez, e Alvin Ross Diaz , por fim, foram indiciados pelo crime.

Michael Townley concordou em providenciar evidências contra esses homens em troca de  uma acordo que envolvia assumir a culpa em uma acusação de  formação de quadrilha para assassinato e recebeu uma sentença de dez anos. Sua esposa, Mariana Callejas também concordou em testemunhar, em troca de não ser processada.

Em 9 de janeiro de 1979, começou em Washington o julgamento de Guillermo Novo, Ignácio Novo e Alvin Ross Diaz. o General Augusto Pinochet  não permitiu que Virgilio Paz Romero e Dionisio Suárez, dois oficiais da DINA fossem extraditados. Todos os três foram considerados culpados de assassinato. Guillermo Novo e Alvin ross foram sentenciados a prisão perpétua. Ignacio Novo recebeu oito anos. Logo depois do julgamento Michael Townley foi libertado no programa de proteção à testemunhas.

Os detalhes da Operação Condor não foram totalmente expostos até que em 1992 José Fernandez, um juiz paraguaio, descobriu aqueles que foram chamados de “arquivos do terror”, detalhando o destino de milhares de latinoamericanos que foram secretamente sequestrados, torturados e mortos pelos serviços de segurança da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai. Os arquivos ofereceram detalhes sobre 50.000 pessoas assassinadas, 30.000”desaparecidas” e 400.000 presas.

 

Fonte: El Coyote.

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