Onde estão as mulheres do Syriza?

Os 10 novos “super-ministérios” do governo de Tsipras foram ocupados por homens. Isso prova que as mulheres do Syriza estão afastadas de responsabilidades políticas importantes? Estes seis retratos mostram que afinal não é bem assim.

Por Jónatham F. Moriche.

Ática é a principal região da Grécia e nela vive cerca de 40% da população do país. Desde maio de 2014, a sua governadora [equivalente à nossa presidência da Região Autónoma], eleita por maioria absoluta do voto popular, é a politóloga e militante do Syriza Rena Dourou. Desde que tomou posse, usou todos os meios legais e as competências do seu cargo para obstaculizar as privatizações e despedimentos nos serviços públicos ordenados pelo governo de Samarás e da troika. A par das duríssimas críticas da direita e da extrema-direita, manteve-se firme na decisão de não assistir a atos religiosos e aprofundar a separação entre a Igreja Ortodoxa e as instituições públicas.

Rena Dourou, governadora de Ática, a maior região grega.

Theano Fotiou, arquiteta e professora na Universidade de Atenas, deputada do Syriza desde 2012 e responsável do Solidarity4All, um fundo que gere os donativos que todos os eleitos do Syriza descontam dos seus salários para iniciativas sociais solidárias (clínicas e farmácias sociais, bancos de tempo, cooperativas, fábricas recuperadas,…) é desde segunda-feira viceministra da Solidariedade Social do novo governo de Alexis Tsipras.

Theano Fotiou, viceministra da Solidariedade Social.

Nadia Valavani participou em novembro de 1973 na mítica ocupação estudantil do Politécnico de Atenas. Foi então presa e torturada pela polícia política da já agonizante ditadura dos Coronéis. Prestigiada economista e especialista na obra de Bertold Brecht, foi chefe dos assuntos internacionais do grupo parlamentar do Syriza desde 2012. Em outubro passado, participou numa missão civil internacional de apoio às tropas populares curdas de Kobane que ergueram armas contra o Estado Islâmico. É agora a viceministra das Finanças do novo governo.

Nadia Valavani, viceministra das Finanças.

A responsável direta da luta contra o desemprego no governo Syriza, com estatuto de viceministra, será a economista greco-norteamericana Rania Antonopoulou, especialista em luta contra a pobreza, diretora do programa de Igualdade de Género e Economia do think-tank novaiorquino Levy Institute (onde colaborou durante décadas o célebe economista crítico Hyman. P. Minsky) e assessora económica especial do Programa das Nações Unidas para o desenvolvimento. Não é necessário insistir que o desemprego será um dos maiores problemas que deverá enfrentar o novo governo grego, com taxas de desemprego próximas de 30%, que disparam até quase 60% no caso dos trabalhadores jovens.

Rania Antonopoulou, viceministra do Emprego

Tasia Christodoulopoulou, viceministra das Migrações, advogada especialista em Direitos Humanos e ex-presidente da Rede Grega de Organizações Antirracistas. Na primeira reunião do Conselho de Ministros, para além das medidas já previstas como o aumento do salário mínimo ou o restabelecimento da energia elétrica nos lares sem recursos, o governo Tsipras tomou a decisão de conceder a nacionalidade grega a todos os filhos de imigrantes nascidos em solo grego. Não se trata apenas de um avanço legal, é um avanço de civilização (foi o próprio Tsipras, no comício de abertura de campanha, que falava em “fazer de novo da Grécia um país civilizado”). Convém também lembrar que esta medida foi apoiada pelos ministros do partido conservador Gregos Independentes (ANEL, parceiro de governo do Syriza), e será votada favoravelmente pelos seus deputados quando chegar ao parlamento na próxima semana. A aplicação desta medida será complexíssima e estará submetida a inevitáveis tensões, num país em que a gestão neoliberal da crise económica exacerbou os instintos racistas e no qual uma organização neonazi é a terceira força parlamentar.

Tasia Christodoulopoulou, viceministra das Migrações.

Sofia Sakorafa é desportista e professora de educação física. Em 1982 conquistou o record mundial do lançamento do dardo. Conciliando compromisso político e atividade desportiva, solicitou e obteve em 2004 a nacionalidade palestina e competiu sob a bandeira palestina nas pré-Olimpíadas de 2004. Vereadora em Atenas e deputada nacional pelo PASOK, em 2010 recusou-se a seguir as diretivas dos seus líderes e votou contra o Memorando da Troika, sendo por isso expulsa do partido, juntando-se ao Syriza. Em 2012 foi a candidata ao parlamento mais votada do Syriza no círculo de Atenas e desde maio de 2014 é deputada do Syriza no Parlamento Europeu. No outono passado presidiu à missão de supervisão do GUE/NGL nas eleições da Bolívia.

Sofia Sakorafa, eurodeputada do Syriza.


Jónatham F. Moriche é blogger e secretário-geral do Podemos em Don Benito – Badajoz. Notas publicadas na sua página no Facebook e parcialmente republicadas no blogue Entre Nómadas, de Marta Navarro. Traduzido por Luís Branco para o esquerda.net.

Fonte: Esquerda.net

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