Ocupação política e cultural na UFSM demarca a luta pela Educação Pública

Por Julia Saggioratto, para Desacato.info.

Pautas referentes a cortes na educação e retirada de direitos são discutidas por estudantes, professores e movimentos sociais no campus de Frederico Westphalen- RS.

O dia 16 de junho demarcou a defesa da educação e do setor público do Brasil, com ocupação política e cultural nos campi da Universidade Federal de Santa Maria, assim como em outras universidades federais no país. A paralisação desta quinta-feira, que na UFSM foi promovida pela Seção Sindical do Docentes da UFSM (SEDUFSM), foi definida nacionalmente por entidades ligadas ao ensino e ao serviço público, em contraponto a projetos que visam a privatização de serviços atacando direitos há muito custo conquistados pelos trabalhadores e trabalhadoras.

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Dentre as reivindicações que norteiam as atividades do dia, informações, estas, que foram divulgadas em panfletos que foram distribuídos para a comunidade acadêmica da UFSM, estão o corte de mais de R$ 44,6 bilhões nos orçamentos de diversas áreas sociais do Brasil, e em específico à educação, a redução de mais de R$ 6,4 bilhões no primeiro trimestre deste ano, comprometendo as atividades de ensino, pesquisa e extensão da universidades públicas do país. Estes cortes visam a precarização de serviços públicos para justificar sua posterior privatização. Além disso, o Dia de Luta em Defesa da Educação e do Serviço Público serve como alerta para questões como a apropriação da produção de ciência e tecnologia das instituições públicas por meio de parcerias público-privadas, que utilizam de espaço público e mão de obra de estudantes para pesquisas de empresas.

Outras pautas discutidas pela SEDUFSM e pelo Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES-SN) e que conduzem os debates acerca do dia 16 de junho são a contrariedade à privatização de hospitais universitários, à PEC 395/14 que se inclui nos processos de privatização da educação pública acabando com a gratuidade dos cursos de especialização e de extensão e, ainda, a contrariedade ao Projeto de Lei Complementar 257/2016 que tramita na Câmara dos Deputados o qual pretende limitar o gasto público federal e estadual por meio do congelamento dos salários dos servidores e de despesas de custeio, da supressão de benefícios adquiridos como a licença prêmio, por exemplo.

Atividades, com caráter político e cultural, ocorreram durante todo o dia no campus de Frederico Westphalen. Pela manhã ocorreu a exibição do documentário “Junho: O Mês que Abalou o Brasil”, que mostra as manifestações em que mais de um milhão de pessoas saíram às ruas do país em 2013, seguido por debate mediado pelo professor do departamento de comunicação (DECOM) da UFSM, Wesley Grijó. À tarde foi exibido o documentário “Pequeno Grão de Areia”, que mostra as lutas dos educadores pela educação pública no México, também seguido por debate mediado pela professora do DECOM Luciana Carvalho. Finalizando as atividades do dia, o professor Luciano Miranda, também do DECOM, ministrou o Microcurso “Pensamento Econômico e ‘Gerações’ de Direitos”.

O professor Wesley considera importante o caráter cultural unido à política do movimento realizado na universidade, diante dos ataques que a sociedade e a educação, como reflexo desta, vem e ainda pode vir a sofrer. “Hoje nos mobilizar, mas nos mobilizar ocupando a universidade, a gente precisa mostrar que ela é viva. A gente pode reivindicar nos movimentando e ocupando”, declara o professor.

As atividades tiveram participação predominante de estudantes da comunicação. Para Wesley, apesar de os estudantes desta área terem mais espaços que incitam a crítica social e a reflexão sobre seu papel na sociedade nas atividades curriculares, ainda é necessário mais formação e menciona a característica política de todo ser humano. “A política está incrustada em nossas relações, não existe o apartidário. Até o fato de a pessoa dizer que é apartidário ela já está se vinculando a uma ideologia”, considera Wesley, enquanto uma chapa que se autodenomina apartidária vence as eleições para representar os estudantes da UFSM. O discente afirma, ainda, que os estudantes que participaram dos espaços precisam ponderar o debate em outros locais, lutando para que as forças políticas fiquem às claras. “Dentro das lutas sociais muitas das ditaduras chegaram ao poder pelo ‘apartidarismo’, e isso é complicado dentro de uma universidade”, finaliza.

A estudante de jornalismo, Iana Reis, integrante do diretório acadêmico do curso, acredita que atualmente a esquerda vem se organizando, não somente, por seus interesses. “Quem estava no evento: um número muito pequeno de pessoas pautando direitos que são da maioria, de grande parte da sociedade”, avaliando como ponto negativo a pequena participação da comunidade acadêmica para pautar questões como os cortes na educação e a reforma da previdência social. Iana considera que o novo governo do Brasil, liderado por Michel Temer, representa a retirada de direitos de trabalhadores, pequenos agricultores, estudantes. “Tirando de quem com muita luta conseguiu o mínimo nos últimos anos”, reflete a estudante. O Dia de Luta em Defesa da Educação e do Serviço Público demarca o início de uma série de atividades que devem acontecer ao longo do ano como forma de enfrentamento às medidas que já vem sendo tomadas ou que venham a acontecer.

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