O Verdugo e A Morte do Patriarca fecham ciclo de leituras de peças teatrais de Hilda Hilst

Iniciado em 7 de fevereiro, o projeto 8X HILDA – Um Mergulho Lítero-dramático comemora os 90 anos de nascimento de Hilda Hilst (1930-2004)  por meio de um ciclo de leituras dramáticas com toda a sua obra teatral. A transmissão é pelo canal Curadoria Hilst no YouTube. O elenco fixo da serie – Kiko Rieser, Flávia Couto, Lavínia Pannunzio e Joca Andreazza – também é responsável pela direção, alternando-se semanalmente.

As últimas sessões acontecem nos dias 21 e 28 de março (domingos, às 18h), com O Verdugo (direção de Flávia Couto) e A Morte do Patriarca (direção de Lavínia Pannunzio). As versões gravadas com tradução em Libras vão ao ar na quarta-feira seguinte à leitura ao vivo, às 20h, pelo mesmo canal.

A leitura de O Verdugo, além dos atores do projeto, traz participação dos convidados: De França, João Paulo Borges, Mirella Moraes, Paula Arruda, Pedro Guilherme e Yasmin Fiorentino.

O Verdugo foi escrito em 1969 e, no mesmo ano, recebeu o prêmio Anchieta. Conta a história do carrasco que se recusa a matar o Homem, um agitador inocente, condenado pelos Juízes e amado por seu povo. Temendo reações contrárias, os Juízes tentam – em vão – subornar o verdugo para que este realize a tarefa o mais rápido possível. Apenas o jovem filho entende a recusa do pai. A mulher, ao contrário, aceita a oferta em dinheiro e toma o lugar do marido ao pé do patíbulo, com a concordância da filha e do genro. No final, o verdugo reaparece, desmascara a mulher e conta ao povo o que se passara após sua decisão. O povo reage violentamente matando a pauladas o carrasco e o Homem. O filho sobrevive e foge com os Homens-coiotes, símbolos de resistência. 

Em A Morte do Patriarca (1969) o público reconhece o humor ácido e o tom de escárnio de Hilda. Um Demônio com “rabo elegante” e de modos finos discute os dogmas da religião e o destino humano com Anjos, o Cardeal e o Monsenhor, ante a visão dos bustos de Marx, Mao, Lenin e Ulisses, de uma enorme estátua de Cristo e da tentativa do Monsenhor de colocar asas na escultura de um pássaro. O Demônio seduzirá o Cardeal a tomar o lugar do Papa; posteriormente, o próprio Papa é morto pelo povo.

O projeto 8X HILDA

O projeto 8X HILDA – Um Mergulho Lítero-dramático – idealizado por Fábio Hilst, também responsável pela curadoria – reuniu as oito peças de Hilda Hilst, escritas entre os anos de 1967 e 1969: A Empresa (A Possessa),  O Rato e o MuroO VisitanteAuto da Barca de Camiri As Aves da NoiteO Novo SistemaO Verdugo A Morte do Patriarca. A concepção propõe um jogo cênico virtual que celebra e explora a dramaturgia hilstiana, criada em pleno período da ditadura militar brasileira. Segundo o idealizador Fábio Hilst, “a dinâmica consiste no mergulho dos quatro atores/encenadores  no universo de Hilda, desvendando os textos – e subtextos – e os mais de 60 personagens da obra, para mostrar ao público o processo de estudo de uma peça e o início da construção de personagens e cenas”. A ideia de encenar o teatro completo de Hilda Hilst é uma iniciativa que Fábio, pela produtora Três no Tapa, já havia colocado em andamento, em 2020, com a montagem de As Aves da Noite, cuja estreia foi adiada em decorrência da quarentena imposta pela pandemia do coronavírus.

A produção dramatúrgica de Hilda Hilst – concebida no momento em que o teatro e os artistas viviam sob a censura do regime militar – é considerada um ensaio para sua obra em prosa da década de 1970, mais livres nos artifícios da linguagem e nas tramas do cotidiano. Seus textos teatrais traduzem a atmosfera claustrofóbica de opressão e os questionamentos ao sistema, representado pela igreja, pelo Estado ou pela ciência. Os personagens, vítimas ou algozes, aparecem em situações limite, presos às estruturas que escravizam e alienam – celas, porões, colégios religiosos ou locais de julgamento e execução de prisioneiros. As máscaras sociais (juiz, carcereiro, monsenhor, papa, madre superiora) são arrancadas por Hilda, que mostra também personagens dotados de almas, tolhidas do seu verdadeiro voo.

FICHA TÉCNICATextos: Hilda Hilst. Curadoria / idealização: Fábio Hilst. Elenco / direção: Lavínia Pannunzio, Joca Andreazza, Flávia Couto e Kiko Rieser. Produção: Três no Tapa Produções Artísticas. Assistência de produção: Fernanda Lorenzoni. Técnico de transmissão: Gustavo Bricks e Henrique Fonseca. Design / gerenciamento de mídia: Ton Prado. Sinopses: Hilda Hilst – Teatro Completo (L&PM / Leusa Araujo). Realização: ProAC Expresso LAB, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo. As leituras contam com participação de atores convidados, conforme a demanda de personagens de cada texto.

Ciclo de leituras: 8X HILDA

Quando: 7 de fevereiro a 28 de março/2021 – Domingos, às 18h

Texto: O Verdugo – 21/3 (com Libras: 24/3, 20h)

Texto: A Morte do Patriarca – 28/3 (com Libras: 31/3, 20h)

Onde: YouTube/CuradoriaHilst

Grátis. Duração estimada: 120 min. Classificação: 14 anos.

Hilda Hilst (1930-2004, Jaú/SP) – Hilda Hilst foi ficcionista, cronista, dramaturga e poeta, considerada uma das maiores escritoras em língua portuguesa do século XX, com traduções em países como Itália, França, Portugal, Alemanha, Estados Unidos, Canadá e Argentina. Iniciou sua produção literária em São Paulo, com o livro de poemas Presságio (1950). Em 1965, mudou-se para Campinas e iniciou a construção de seu porto de criação literário, a Casa do Sol, espaço que a abrigou durante a realização de 80% de sua obra. Autora de linguagem inovadora, na qual atemporalidade, realidade e imaginação se fundem, a estreia de Hilda na dramaturgia foi em 1967 e, três anos depois, na ficção com Fluxo-floema. Em cerca de 50 anos, ela escreveu mais de 40 títulos, muitos com edições esgotadas, incluindo poesia, teatro e ficção, que lhe renderam prêmios literários importantes no Brasil. Em sua obra nos deparamos com a fragilidade humana que nos surpreende com personagens em profundos questionamentos na viagem de entender e descobrir o essencial. A partir dos anos 2000, a Globo Livros reeditou sua obra completa e, em 2016, os direitos de publicação foram para a Companhia das Letras. Mais recentemente, a L&PM Editores lançou em livro toda a sua dramaturgia. O acervo deixado pela escritora encontra-se na Sala de Memória Casa do Sol e no Centro de Documentação Cultural Alexandre Eulálio da Unicamp.

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