O vazio político do 1º de abril

Por Thiago Iessim, para Desacato.info.

Nesta sexta-feira, dia mundial da mentira e da trapaça, ocorreram uma série de atos pelo Brasil com o mote “chega de mentiras e fora todos eles”, organizados por movimentos, entidades sindicais e, ironicamente, por alguns partidos de cor vermelha. As manifestações contavam com camisetas e cartazes com o dito mote e ilustrados com os políticos mais populares na mídia no momento como Lula, Geraldo Alckmin, Dilma Rousseff, Aécio Neves, Michel Temer e Eduardo Cunha. Os manifestantes clamavam por uma terceira via que estivesse mais alinhada com a classe trabalhadora.

Apesar de terem sido realizadas no 1º de abril essas manifestações não foram chacotas, foram um reflexo de um vazio político-partidário que está evidenciado no cenário brasileiro, pautado na falta de perspectiva de mudanças e principalmente na falta de movimentos anti-sistêmicos. Sendo assim, a grande mídia, por mais golpista e centrada em seus próprios interesses que seja, serviu ao menos para trazer a tona uma realidade alarmante: a falha e redundância do sistema democrático representativo em nosso país.

Caros, por mais que nós, naturalmente alinhados com a esquerda, questionemos os métodos, a legalidade, a semântica, a jurisprudência, a manipulação, a distorção e/ou a falácia da grande mídia e dos representantes dos grandes capitais, não podemos nos perder em ilusões e acreditar que inexiste algo, seja em maior ou menor escala, que vai contra todos os ideais que deveriam ser representados por um governo autoproclamado dos trabalhadores. Seja pela corrupção e entreguismo ou seja através de medidas altamente antidemocráticas como a recente lei antiterrorismo, criou-se uma divisão ideológica interna muito acima das já existentes, debruçou-se sobre nós uma dicotomia onde a esquerda já não é esquerda e onde as personificações da direita tomam as rédeas da nação.

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A dialética hegeliana está ausente no vazio político-partidário instaurado no Brasil, não existem no sistema representativo embates de teses em busca de uma síntese para o povo e sim, no mais clássico estilo maquiavélico, embates de planos de poder. De forma que na política brasileira não estamos em um jogo de esquerda versus direita, como nos faz crer a grande mídia e os representantes dos supostos lados, e sim em um jogo de xadrez capitalista onde os únicos perdedores são os peões — também conhecidos como trabalhadores — que são utilizados como sacrifícios para jogadas que beneficiem a movimentação das peças com maiores possibilidades de lobby-mate para voto-mate com a finalidade de dinheiro-mate no rei adversário.

Os atos do “chega de mentiras e fora todos eles” representaram as vozes cansadas daqueles que ainda não entenderam o que está sendo imposto: a obrigatoriedade de se posicionar; ou você está com a esquerda ou você está com a direita, sem ressalvas, sem meio-termo. A frágil dicotomia clássica de esquerda versus direita foi tão bem orquestrada que nos obriga a tomar partido de algo que não nos representa como trabalhadores ou até mesmo como esquerda mas que, frente a uma direita que luta para conseguir a legitimação da exploração e o retrocesso das pequenas conquistas sociais dos últimos mandatos, o que resta que não compactuar com os xerifes de estrela vermelha no peito que combatem o terrorismo das manifestações populares para gringo ver?
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Nesta grande mentira que é o sistema político-partidário nos cabe resistir, olhar para frente e buscar alternativas para a atualidade. A revolução não será aprovada no congresso, quiçá o executivo expedirá medida provisória, tampouco será televisionada.

Mas enquanto continuamos alienados somente nos resta torcer o nariz e escolher entre o podre e o estragado: apetece ficar com o que nos fará menos mal.

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