O teatro essencialmente coletivo

Por Mateus Araújo.

As últimas décadas chegaram para as artes como uma faca que rasgou qualquer engessamento imposto pela tradição. Uma necessidade de processos colaborativos, geridos através de ideias heterogêneas, e o desejo por um teatro que rompesse com a produção excessivamente comercial instigam o surgimento do que hoje é chamado teatro de grupo. No Brasil, ainda são muitos os coletivos que pensam desta maneira, a exemplo dos que, a partir de hoje, participam da primeira edição do Trema! – Festival de Teatro de Grupo do Recife, que vai até o final da semana.

“Teatro é essencialmente coletivo. Mas por que esse conceito tem sido tão recorrente nos último 20 anos? Porque o teatro moderno, do final do século 19 para cá, passa a girar em torno da figura do encenador, como Stanislavski e Brecht, por exemplo, que criam núcleos de artistas que pensam em coisas parecidas, têm afinidades, e que se dedicam a um estilo de linguagem própria. É daí que a gente começa a ter o teatro de arte, o chamado teatro de grupo”, explica o coordenador do curso de Licenciatura em Teatro da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Luís Reis.

Em Pernambuco, a história deste conceito tem um marco importante com o surgimento do Teatro do Estudante de Pernambuco (TEP), em 1940. Naquela época, o grupo já se dedicava a pesquisas e processos colaborativos. Levaram, como na origem do gênero, o teatro para a rua. Na contemporaneidade, outros pernambucanos começam a surgir, partilhando dos mesmos princípios, como o atual Magiluth. Criada há oito anos por alunos de Artes Cênicas da UFPE, a companhia tem vivido seu auge em montagens cuja estética mexe com os limites de ator e não ator, brincando com sentimentos e situações humanas.

Foi do Magiluth a ideia de criar no Recife, agora, o primeiro festival voltado ao teatro de grupo, o Trema!. “Esse festival é uma rede de compartilhamento. A gente há muito tempo queria fazer algum encontro como este. Nesse ano, a ideia foi mais forte, graças à nossa circulação pelo País, quando tivemos oportunidade de encontrar grupos que partilham da nossa ideologia. Todos eles estão em turnê pelo Brasil financiados por editais nacionais. Criamos assim essa parceria”, explica o ator e integrante do Magiluth, Pedro Vilela. Nesta primeira edição, o encontro traz para a cidade, além do Magiluth, três companhias de outros Estados. De Minas Gerais vêm os grupos Quatroloscinco – Teatro do Comum e o Teatro Invertido, de São Paulo, o Kunyn e o Núcleo Argonautas, e do Paraná, a Cia Senhas. Durante o evento, além de apresentarem seus repertórios de peças, os coletivos dão oficinas, como uma forma integradora entre artistas e público. “O Trema! é um espaço para pensar o teatro de grupo. Não é só um evento, mas um processo de pensar a cena, os trabalhos”, diz Vilela.

Hoje, no primeiro dia de festival, acontece a oficina Meus delírios, meus delitos, com o grupo Kunyn, a partir das 14h, no Espaço Magiluth (Rua da Moeda, 170, Sala 102, Bairro do Recife). Eles vão debater sobre o processo criativo da peça Dizer e não pedir segredo, a partir da discussão sobre a homossexualidade no Brasil.

À noite, às 19h, no Teatro Marco Camarotti, no Sesc Santo Amaro, a companhia Quatroloscinco apresenta Outro lado, um espetáculo sobre a história e sentimentos de pessoas que compartilham alguns anos de suas vidas dentro de um pequeno espaço.

Até domingo. Ingressos: R$ 20 e R$ 10. Programação: www.tremafestival.com.br

Fonte: Geleia General

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