O que o Brasil espera de você para o futuro?

Por Elissandro Santana, para Desacato. info.

Esqueça o que você quer e faça o que o Brasil quer de você para o futuro. Confusa esta assertiva? Para entendê-la e dissecá-la, pense no seguinte – esperamos em demasia de nossa Mátria e nos esquecemos de que, muitas vezes, fazemos pouco, muito pouco, quase nada ou absolutamente nada por nossa Nação.

Vociferamos muito que queremos políticos não corruptos, mas, pleito após pleito, sem muito compromisso com a vida pregressa dos/as candidatos/as, os/as elegemos a partir de nossos desejos umbilicais disfarçados de coletivos sem nos importarmos, responsavelmente e eticamente, com toda a tessitura político-social. Em outras ocasiões, pedimos educação de qualidade, mas sempre que há alguma greve docente, a maior parte da sociedade se coloca contra os/as educadores/as, ainda que as pautas do movimento grevista sejam em prol da melhoria da estrutura das instituições escolares e de justiça salarial para, desta forma, ocorrerem mudanças significativas na educação. Neste ponto, instaura-se um enorme paradoxo, que nunca consegui digerir, entre o discurso do querer educação de qualidade e o que se pensa sobre o docente em momentos como o narrado. Tudo isso, além de outras narrativas sociais que poderiam ser abordadas aqui, forma um grande novelo emaranhado ao extremo que nos impede de encontrar a ponta para que desatemos os nós que emperram o nosso desenvolvimento e nos aprisionam a uma estrutura colonial de pensar e agir.

Além das questões levantadas no parágrafo anterior, é importante destacar que, no cotidiano, em algum limite, na atuação cível, muitos, para não dizer todos, pois seria um exagero e um pesadelo, já se valeram e se valem de alguma atitude insustentável, seja no âmbito da corrupção propriamente dita, a partir das margens que levam à corrupção ou em outra vertente imoral em nosso tempo. E se acha que estes exemplos não se sustentam, sugiro a auto-observação em cada atuação no dia-a-dia em torno dos apetrechos culturais de nossa sede de vantagem, de nossas condutas sociais inviabilizadoras de esperanças e do riso desestabilizador das diferenças, de nosso fanatismo em campos amplos (engessados nos valores da elite colonial de capitalismo dependente), da inércia diante da opressão e até em coisa bem mais nociva.

Um Brasil melhor que nos permita alegria no futuro, para início de conversa, passa por sua, por nossa mudança de design mental. Nesse sentido, é oportuno mencionar que precisamos, com urgência, de uma arquitetura racional sensível que nos oportunize compreender todas as estruturas podres de poder que nos acompanham desde os primeiros momentos de formação, de construção e de constituição de nossa nacionalidade que se alicerçou e se alicerça na opressão.

A discussão que ensaio aqui me faz lembrar, criticamente, que, nos últimos meses, certa emissora que não ouso nomear, para evitar ibope, recebeu vídeos de eleitores e eleitoras de grande parte do Brasil, dos quatro pontos geográficos, ou seja, dos extremos Caburai ao Chuí, da Serra da Contamana ao Seixas, com discursivas sobre que Brasil o/a interlocutor/a, opa, eleitor/a, queria para o futuro. A tal emissora, a partir da campanha, aparentemente despretensiosa, em minha opinião, se coloca na posição de cabo eleitoral de algo que ela pretende projetar, ainda que muitos não percebam esse fenômeno. Independente da falta de percepção de muitos, a história está aí para nos provar as verdadeiras intenções da referida emissora inominável, basta que investiguemos a fundo a atuação dessa mídia empresarial como porta-voz para a vitória das forças neoliberais conservadoras no decorrer de nossos processos eleitorais, por isso, se você quer mesmo fazer algo pelo Brasil, não saia por aí dizendo à mídia tradicional o Brasil que você quer para o futuro, mas faça o Brasil que você quer para o futuro, começando por aniquilar de sua vida esses meios tradicionais de desinformação que sempre estiveram na contramão do desenvolvimento nacional. Não se deixe enganar pela aparente democratização da informação a partir da suposta abertura de espaço para que você expresse qual o país que você deseja para o futuro. Não se iluda. Este quarto poder, isto é, esta mesma mídia (dentre outras) que, supostamente, te dá voz, foi a que ajudou a destituir uma presidenta eleita democraticamente e contribuiu para o golpe político-jurídico-legislativo que se deu no Brasil por meio de discursos editoriais disfarçados de informação. Com isso, tem-se que a mesma mídia apoiadora de golpes, agora quer que você acredite que a transformação do Brasil passa pelo voto, mesmo que futuramente ela o rasgue apoiando novos golpes, caso não seja eleito/a um/a candidato/a neoliberal a serviço das elites.

Por último, sinalizo que o país que você almeja tem relação direta com o que o Brasil quer de você para o futuro. Pare de desejar e vá para a práxis da ação. Faça algo novo, de fato, por seu país. Olvide as mídias golpistas, verdadeiros cabos eleitoreiros da exploração, busque ampliar as fontes de informação, leia muito, informe-se a partir de fontes internas e externas (para contrapontos), não eleja candidatos/as do atraso, fuja de discursos políticos conservadores que se valem da necedade do povo para se promoverem e depois continuarem explorando a ignorância, tente renovar as bancadas no Legislativo, votando em deputados/as e senadores/as que apresentem projetos sustentáveis de respeito à diferença e de compromisso com o desenvolvimento para todos e não somente para segmentos sociais privilegiados historicamente, vote em mais mulheres para aumentar a participação feminina na política, em candidatos/as que dialoguem com todas as minorias, em políticos/as que não sejam apologistas da dependência do capital estrangeiro e, por fim, apoie candidatos/as que consigam ver o Brasil como irmão de uma comunidade latino-americana de nações para que possamos crescer de forma sustentável em bloco nestes tempos de globalização da exclusão. Enfim, é chegada a hora de uma revolução mental para que outras mudanças sejam possíveis e, fique esperto/a, isto a mídia tradicional brasileira não quer em nenhuma hipótese.

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Elissandro Santana é professor da Faculdade Nossa Senhora de Lourdes e do Evolução Centro Educacional, membro do Grupo de Estudos da Teoria da Dependência – GETD, coordenado pela Professora Doutora Luisa Maria Nunes de Moura e Silva, revisor da Revista Latinoamérica, membro do Conselho Editorial da Revista Letrando, colunista da área socioambiental, latino-americanicista e tradutor do Portal Desacato.

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