O que mudou na escola que teve a ocupação inaugural do movimento secundarista

Durante as ocupações, alunos da E.E. Diadema organizaram atividades culturais e debates na escola
Durante as ocupações, alunos da E.E. Diadema organizaram atividades culturais e debates na escola

Por Ana Freitas.

A Escola Estadual Diadema, conhecida como Cefam, foi a primeira unidade a ser ocupada em São Paulo, em novembro de 2015, inaugurando o movimento secundarista que conseguiu barrar a reorganização do ensino proposta pelo governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB).

Um ano depois, o colégio funciona sob influência daquele movimento: tenta incorporar ao seu dia-a-dia práticas adotadas durante a ocupação, que durou dois meses.

A experiência busca concretizar o discurso segundo o qual os alunos precisam participar de forma ativa da comunidade escolar, das decisões que envolvem o colégio e desenvolver e implantar atividades interativas que fomentem o “senso crítico”.

Trata-se de um discurso reproduzido atualmente nas mobilizações dos secundaristas contra a reforma do ensino médio adotada pelo governo do presidente Michel Temer, cujo centro principal de protestos está no Paraná.

Cursinho e simpósios

Nas visitas que o Nexo fez à E.E. Diadema em 2015, os alunos que participavam da ocupação do colégio e alguns professores mencionaram a dificuldade de diálogo com a direção e com a diretoria regional de ensino.

Segundo Douglas Alves dos Santos, de 17 anos, aluno do 3º ano do ensino médio e membro do grêmio estudantil da escola, durante a ocupação os alunos tomaram contato com os mecanismos previstos em lei para o diálogo entre alunos, comunidade escolar e direção: o Conselho Escolar, a Associação de Pais e Professores e o grêmio. “A escola nunca se comunicou com a gente sobre esse tipo de mecanismo”, disse.

Em abril de 2016, a chapa formada por estudantes que apoiaram ou participaram da ocupação na E.E. Diadema venceu a eleição para o grêmio estudantil do colégio, com propostas que pretendiam levar em frente as atividades promovidas durante as ocupações. Em junho de 2016, a chapa assumiu e conseguiu votar e aprovar, junto ao Conselho Escolar, algumas das pautas.

E.E. Diadema: depois das ocupações, estudantes elegeram grêmio e conseguiram implantar mudanças na escola. Foto: Guilherme Prado/Nexo

 O Conselho Escolar é um colegiado formado por membros da comunidade escolar – pais, alunos, professores e funcionários – e que delibera sobre a gestão da escola. Em assembleias, o conselho debate atividades extracurriculares, calendário escolar e até detalhes sobre o uso da verba que chega para o colégio.

Agora, a E.E. Diadema abre aos sábados e oferece, das 9h às 18h, um cursinho popular para alunos de escolas públicas – é o primeiro curso gratuito do tipo na cidade. Os alunos também articulam duas semanas temáticas em que a escola recebeu pesquisadores, políticos e jornalistas para debates. “De certa forma, conseguimos mais participação nas decisões da escola”, afirma Santos, segundo quem a direção da escola resistiu às mudanças.

Dirigente de ensino da região de Diadema, a professora Liane de Oliveira Bayer disse que tanto a direção do colégio quanto a direção regional de ensino aprovam a participação dos alunos na política da comunidade escolar.

“Houve um amadurecimento do posicionamento do grêmio e do alunado em geral. Isso é o que sempre quisemos, uma maior participação da comunidade escolar [nas decisões]. O que desejamos é a participação responsável, a autonomia [da comunidade escolar], sempre procurando o debate e o diálogo democrático”, disse Bayer. Procurada, a direção da escola não atendeu aos pedidos de entrevista do Nexo.

Depois das ocupações

Em dezembro de 2015, Alckmin suspendeu o projeto de realizar o ensino  – algo que levaria ao fechamento de escolas –  e anunciou a quedado então secretário de educação, Herman Voorwald. Os alunos da E.E. Diadema desocuparam a escola e deram início ao planejamento das reposições de aulas.

Ainda assim, a página da ocupação continuou ativa. Nela, os estudantes convocavam para manifestações contra o aumento da tarifa de ônibus e contra o que chamam de reorganização escolar “informal” que viria a ser adotada posteriormente pelo governo estadual.

Ao longo do ano, os alunos da E.E. Diadema também se mobilizaram durante os protestos pela abertura da CPI da Merenda, para investigar acusações de superfaturamento em produtos agrícolas usados na merenda de escolas estaduais. Na ocasião, secundaristas de várias escolas, entre elas a E.E. Diadema, ocuparam a Assembleia Legislativa de São Paulo.

A trajetória da E.E. Diadema

A E.E. Diadema é uma das mais tradicionais escolas públicas da cidade, que faz divisa com a zona sul de São Paulo. Diferente das cidades vizinhas São Caetano do Sul, Santo André e São Bernardo do Campo, que ocupam algumas das primeiras posições no ranking de desenvolvimento humano no Estado, Diadema está abaixo da média. Seu IDH é 0,757 (a média estadual é 0,783). Seu pior desempenho é em relação à educação.

Neste contexto, a E. E. Diadema é referência. A escola tem a fama de ser uma das melhores escolas públicas da cidade – e não é raro escutar histórias de pais que disputam vagas para que os filhos pudessem estudar lá.

A fama foi construída na época em que a escola oferecia cursos de formação e aperfeiçoamento na área de magistério. Daí vem o nome pelo qual a escola ainda é conhecida, Cefam, embora o colégio não seja mais um centro de formação de professores.

É também uma escola-modelo em bons resultados: em 2015, conseguiu o primeiro lugar na classificação geral do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) entre as escolas públicas da cidade. Em 2014, a escola tinha ficado em segundo lugar.

 

Fonte: Nexo.

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