O que há por trás da participação dos atletas mexicanos nos Jogos Olímpicos do Rio 2016?

Foto: Captura de imagem de Youtube.
Foto: Captura de imagem de Youtube.

Por Ana Rosa Moreno, Puebla, México, para Desacato.info.

Tradução para Desacato.info, Elissandro dos Santos Santana.

Português/Español.

As pessoas costumam dizer que os atletas mexicanos, nos Jogos Olímpicos, “somente vão passar vergonha” e esta frase se repete todos os anos, desde que me lembro. Porém, sejamos sinceros, você não pode jugar, criticar um esporte do qual não tem a mínima ideia e, menos ainda, se para subir as escadas para o segundo andar sente que te falta o ar e o coração bate forte tanto que parece que quer sair do peito.

Para ser um atleta de alto calibre, deve-se dedicar horas e horas de exercício, o músculo deve romper, literalmente; o corpo doer literalmente, perde tua vida social para levantar-se cedo e ir ao ginásio treinar, sai da escola ou do trabalho e retorna ao ginásio para seguir com a rotina, se tem dinheiro, pode viajar para competir, se não tem, busca patrocinadores ou você vende sanduíches e doces na rua para juntar para teu uniforme e para suas despesas de viagem.

A carreira de um atleta é difícil, e se você vive no México, saberá que ser um atleta em um país que ocupa o segundo lugar na obesidade e cujo governo destina a menor parte do orçamento ao esporte é todo um ato de resistência.

No México, se destina a quantidade de 223 milhões de dólares ao título de desporto, através da Comissão Nacional de Cultura Física e de Esportes. A CONADE é responsável por fornecer o “apoio” e “bolsas” para atletas e treinadores, além de fornecer infraestrutura e equipamentos para que os mexicanos possam exercer o esporte. A Liga de Futebol Mexicano recebe um orçamento anual de 250 milhões de dólares e isso ocorre porque o futebol é mais rentável, embora o time mexicano não tenha sucesso em Copas do Mundo. Segundo a revista Forbes, o México é o segundo país na América Latina que mais investe no esporte e, em primeiro lugar, está o Brasil com 842.4 milhões de dólares.

À primeira vista, parece um cenário alentador para os atletas no México, no entanto, como toda dependência do governo mexicano, se corrompe e o apoio e as bolsas de estudo não chegam ou somente chegam para quem, segundo eles, merecem.

De acordo com um estudo realizado pela Universidad Valle de México, no qual se entrevistou um total de 1.400 pessoas em cidades como Puebla, Distrito Federal, Monterrey, Guadalajara e Estado do México: um terço dos entrevistados acredita que o problema mais sério no esporte mexicano é a corrupção e um terço mencionou a falta de apoio.

A falta de apoio é evidente; para a CONADE importa a quantidade de medalhas conquistadas nos Jogos Olímpicos ou em eventos desportivos que influenciem na qualidade dos atletas. A mesma organização afirmou que serve como uma agência de viagens e que se desliga do desempenho dos atletas. Como em Londres 2012, os atletas mexicanos se destacaram ao conquistar sete medalhas, uma de ouro (a histórica do futebol), três de prata (o novo tiro com arco e os tradicionalistas cravados) e três de bronze (além do arco e do poço, no pontual taekwondo), a CONADE decidiu apoiá-los depois que eles tiveram que trabalhar para juntar dinheiro e poderem custear viagens, uniformes, treinadores, hotéis, comida etc.

A CONADE não te apoia se não conquista uma medalha, assim como aconteceu com Aída Román; ela batalhou para chegar a Londres, ganhou uma medalha de bronze no tiro com arco e, somente assim, as autoridades desportistas confiaram nela.

Outro exemplo é Misael Rodríguez, quem esta semana ganhou uma medalha de bronze no boxe. Ele chegou ao Rio com um uniforme ainda por pagar e quando participou no campeonato de boxe em Doha, Catar, teve que pedir doações nos ônibus para juntar sua passagem.

Também temos o caso de María Bárbara Wetzel Aguilar, de 11 anos, quem se coroou como campeã mundial na Ginástica Olímpica Feminina na Categoria Júnior da Organização Internacional de Atletas de Ginástica com Síndrome de Down (DSIGO). A Federação Mexicana de Esportistas Especiais não quis cobrir os gastos para que a criança pudesse chegar à competição em Florência, Itália, e, desta forma, que teve que recorrer à coleta de doações na rua.

Nessas Olimpíadas do Rio de Janeiro, a CONADE investiu no uniforme oficial para a inauguração comprando conjuntos da Hugo Boss, com desconto de 50%, porém, enviou os atletas sem uma equipe médica decente para auxiliá-los no caso de alguma lesão de gravidade. O presidente da CONADE, Alfredo Castillo, preferiu gastar o orçamento para trazer sua namorada, que também desfilou na abertura com o uniforme oficial da delegação mexicana e foi visto passeando, romanticamente, pelas ruas da capital fluminense.

A CONADE também tem se desvinculado de todo problema ligado aos atletas e culpado o Comitê Olímpico Mexicano (COM). A COM é a instituição que atende a tudo relacionado à aplicação dos princípios que conformam a Carta Olímpica e, de fato, adquiriu  uma dívida de um milhão de dólares, já que só recebeu por parte do governo federal 17 milhões de peso, a metade do que se esperava, para juntar o dinheiro necessário para cobrir os gastos de todos; os atletas tiveram que recorrer a patrocinadores e, inclusive, pedirem cooperação caminhando.

Ademais, tem-se responsabilizado a COM sobre o problema dos uniformes dos atletas, já que alguns tiveram problemas com suas roupas esportivas, como o halterofilista mexicano Bredni Roque, quem obteve o quinto lugar no levantamento de pesos. Bredni teve que portar um uniforme com manchas e sem a bandeira do México, porque as autoridades desportivas mexicanas não lhe entregaram a roupa no tamanho exato.

Ao desvio de orçamento, a pouca importância do governo em relação ao esporte e aos atletas mexicanos e a disputa entre a CONADE e a COM, há outro elemento que dificulta a participação dos atletas nos Jogos Olímpicos ao grau de ridicularizá-la, e este é o mesmo mexicano, quem, em vez de mostrar apoio aos atletas, os critica e os desanima.

Tal como ocorreu com a ginasta, Alexa Moreno, aquela que foi mal vista pela forma de seu corpo, a pesar de não pesar mais de 50 quilos, e de mostrar uma maestria na ginástica, sua participação ficou em farrapos por causa dos comentários dos mexicanos, que lhe chamaram de gorda. Pessoalmente, considero que se deve valorizar o esforço dos atletas mexicanos sem importar os resultados, apoiá-los, não criticá-los e nos darmos conta de que nem tudo é futebol; aqueles que praticam um esporte e buscam competições de estatura internacional devem passar horas de treinamento, dormir em aeroportos, passar fome e frio, desapegar-se da própria vida para atrair a atenção dos patrocinadores e tudo isso para mostrar ao mundo que no México há talento.


¿Qué hay detrás de la participación de los atletas mexicanos en los juegos olímpicos en Rio 2016?

Por Ana Rosa Moreno, Puebla, México, para Desacato.info. 

La gente suele decir que los deportistas mexicanos, en los juegos olímpicos, “solo van a pasar vergüenza” y esta frase se repite cada año desde que tengo memoria. Pero seamos sinceros, no puedes juzgar, criticar un deporte del cual  no tienes una mínima idea y menos si para subir las escaleras para la segunda planta sientes que se te sale el aire y el corazón te palpita tanto que parece que quiere salirse del pecho.

Para ser un deportista de alto calibre, se deben dedicar horas y horas de práctica ardua, el músculo se debe desgarrar; literalmente el cuerpo te debe doler, pierdes tu vida social para despertarte muy temprano e ir a entrenar al gimnasio, sales de la escuela o el trabajo y regresas al gimnasio para seguir con la rutina; si tienes dinero, puedes costear tu carrera sin problemas, si no lo tienes, buscas patrocinadores o vendes tortas y dulces en la calle para juntar para tu uniforme y tus viáticos.

La carrera de un deportista es difícil y, si vives en México, sabrás que ser atleta en un país que ocupa el segundo lugar en obesidad y cuyo ministerio de deporte se roba el presupuesto, es todo un acto de resistencia.

En México, se destina la cantidad de 223 millones de dólares al rubro del deporte a través de la Comisión Nacional de Cultura Física y Deporte. La CONADE se encarga de dar los “apoyos” y las “becas” a deportistas y entrenadores, además de proveer la infraestructura y el equipo para que los mexicanos puedan ejercer su deporte. La Liga de Fútbol Mexicano recibe un presupuesto anual de 250 millones de dólares. Esto se debe a que el fútbol es más rentable, aunque la selección mexicana no triunfe en las copas mundiales. Según la revista Forbes, México es el segundo país en América Latina que más invierte en deporte y en primer lugar está Brasil con 842.4 millones de dólares.

A simple vista parece un escenario alentador para los deportistas en México, sin embargo, como toda dependencia del gobierno mexicano, se corrompe y el apoyo y las becas no llegan o solo llegan a quien según ellos se lo merecen.

De acuerdo a un estudio realizado por la Universidad del Valle de México, donde se encuestó a 1.400 personas en ciudades como Puebla, Distrito Federal, Monterrey, Guadalajara y Estado de México: la tercera parte de los encuestados consideran que el problema más grave en el deporte mexicano es la corrupción y el otro tercio menciona la falta de apoyo.

La falta de apoyo es evidente. Para la CONADE importa la cantidad de medallas ganadas en las olimpiadas o encuentros deportivos que en la calidad de los atletas. La misma organización ha declarado que funge como agencia de viajes y que se deslinda del rendimiento de los deportistas. Como en Londres 2012, los atletas mexicanos se lucieron al  lograr  siete preseas, una de oro (la histórica del fútbol), tres de plata (el novedoso tiro con arco y los costumbristas clavados) y tres de bronce (además del arco y la fosa, en el puntual taekwondo). La CONADE decidió darles los apoyos después de que muchos de ellos tuvieron que trabajar para juntar dinero y poder costear sus viajes, uniformes, entrenadores, hoteles, comida, etc.

La CONADE no da el apoyo si no logras una medalla, tal como le ocurrió a Aída Román, ella batalló para llegar a Londres, ganó una medalla de bronce en tiro con arco y solo así las autoridades deportivas se fijaron en ella.

Otro ejemplo es Misael Rodríguez, quien esta semana ha ganado una medallas de bronce en boxeo; Misael llegó a Río con un uniforme fiado. Cuando participó en el campeonato de boxeo en Doha, Qatar, tuvo que pedir donativos en los autobuses para juntar su pasaje.

También tenemos el caso de María Bárbara Wetzel Aguilar, de 11 años, quien se coronó como campeona mundial en Gimnasia Artística femenil en la categoría junior de la Organización Internacional de Atletas de Gimnasia con Síndrome de Down (DSIGO). La Federación Mexicana de Deportistas Especiales no quiso cubrir los gastos para que la infanta pudiera llegar a la competencia en Florencia, Italia, así que tuvo que recurrir a la colecta de fondos en la calle.

En estas olimpiadas en Río de Janeiro, la CONADE invirtió en el uniforme oficial para la inauguración comprando conjuntos de Hugo Boss con descuesto del 50%, pero envió a los deportistas sin un equipo médico decente para auxiliarlos en el caso de alguna lesión de gravedad. El titular de la CONADE, Alfredo Castillo, prefirió gastar el presupuesto para traer a su novia, quien también desfilo en la inauguración con el uniforme oficial de la delegación mexicana y se les ha visto pasear románticamente por las calles de la capital fluminense.

La CONADE, además, se ha deslindado de todo problema relacionado con los atletas y ha culpado al Comité Olímpico Mexicano (COM). La COM es la institución que atiende todo lo relacionado con la aplicación de los principios que conforman la Carta Olímpica y de hecho ha adquirido  una deuda de 1 millón de dólares ya que sólo recibió por parte del gobierno federal 17 millones de pesos, la mitad de lo que se esperaba, para reunir el dinero necesario para cubrir los gastos de todos. Los atletas tuvieron que acudir a patrocinadores e, incluso, a pedir cooperación de a pie.

Además se le ha responsabilizado a la COM del problema de los uniformes de los atletas, ya que algunos han tenido problemas con su ropa deportiva, como el halterofilista mexicano Bredni Roque, quien obtuvo el quinto lugar en levantamiento de pesos. Bredni tuvo que portar un uniforme con parches y sin la bandera de México porque las autoridades deportivas mexicanas no le entregaron la indumentaria de su talla.

Al desvío de presupuesto, la poca importancia del gobierno hacia el deporte y los atletas mexicanos y la pelea entre la CONADE y la COM, existe otro elemento que entorpece la participación de los atletas en los Juegos Olímpicos a tal grado de ridiculizarla, y este es el mismo mexicano, quien en lugar de mostrar apoyo hacia los atletas, los critica y los discrimina.

Tal como sucedió con la gimnasta de Mexicali, Alexa Moreno quien fue mal vista por la forma de su cuerpo, a pesar de no pesar más de 50 kilos y de mostrar una maestría en la gimnasia su participación quedo hecha trizas por los comentarios de los mexicanos quienes la llamaron gorda.

En lo personal considero que se debe valorar el esfuerzo de los atletas mexicanos sin importar los resultados, apoyarlos, no criticarlos y darnos cuenta que no todo es fútbol; quienes practican un deporte y buscan participar en concursos de talla internacional deben pasar horas de entrenamiento, dormir en aeropuertos, pasar hambre y frío, desgarrarse la vida por llamar la atención de los patrocinadores y todo esto por mostrarle al mundo que en México hay talento.

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.