‘O que acontecer na Ford será referência para o Brasil’, afirma sindicalista

Foto: Roberto Parizotti

Por Vitor Nuzzi.

São Bernardo do Campo (SP) – Empresas importantes já deixaram a região do ABC paulista e outras regiões, mas a Ford significa “a primeira tentativa concreta de fechar uma unidade histórica”, como diz o ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos Rafael Marques, que hoje comanda o Instituto Trabalho, Indústria e Desenvolvimento (TID), dedicado justamente a discutir políticas industriais. Funcionário da própria Ford, Rafael ressalta que, apesar de “histórica”, a unidade de São Bernardo é produtiva, rentável e moderna.

“Aqui em São Bernardo do Campo as montadoras, todas elas, modernizaram seu parque industrial”, lembrou Rafael quase ao final do ato realizado nesta terça-feira (26) em defesa da manutenção da Ford. Ele destacou a importância do debate com a montadora para o futuro da região e da própria indústria automobilística brasileira. Os sindicalistas acreditam que o caso Ford pode se tornar referência – positiva ou negativa.

“Nenhuma decisão é definitiva. Temos de acreditar. Esta é mais uma das grandes batalhas que os trabalhadores têm de enfrentar”, acrescentou o dirigente, que já estava na empresa durante movimentos como a greve dos “golas vermelhas”, em 1990, e a resistência a 2.800 demissões anunciadas uma semana antes do Natal de 1998. Coincidentemente, esse agora é o número aproximado de funcionários diretos na fábrica do ABC.

O ex-prefeito e ex-ministro Luiz Marinho era presidente do sindicato em 1998, e também viajou aos Estados Unidos, como farão novamente os metalúrgicos na semana que vem, para conversar com a direção da Ford. Ele acredita que é possível reverter a decisão “se a gente conseguir envolver a sociedade, a opinião pública”. O movimento não pode ficar na “clandestinidade”, diz Marinho. “Como em 1999 conseguimos reverter, vamos acreditar que é possível de novo. A Ford precisa sentar à mesa.”

“Nossa luta será árdua”, afirma o atual presidente do sindicato, Wagner Santana, o Wagnão. Ao mesmo tempo, ele vê na crise uma oportunidade para “repensar” o setor, “mas não do ponto de vista da precarização”.

O dirigente quer que a associação das montadoras negocie com todos os trabalhadores da indústria automobilística. “Nós desafios a Anfavea a discutir o setor, a discutir o contrato coletivo nacional. Know-how nós temos, parque industrial nós temos, capacidade de produção nós temos, e muita, ociosa. Podemos ser uma base exportadora não só para países com as mesmas condições que nós, ser um jogador mundial do setor automotivo”, defendeu. Ele lembra que são aproximadamente 120 mil trabalhadores diretos na indústria automobilística brasileira e 1,1 milhão na cadeia produtiva.

“Temos condições de fazer essa conversa, temos projetos e propostas, mas vamos resolver o nosso problema aqui (Ford)”, disse Wagnão, que se prepara para viajar aos Estados Unidos. Cinéfilo, ele conta que não dormiu de ontem para hoje, por ansiedade, e ficou assistindo com o sintomático título de Horas Decisivas. O longa conta a história de um complicado resgate de trabalhadores em uma plataforma petrolífera, depois de um acidente. “O que acontecer aqui será referência para o Brasil.”

 

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