O pão da mãe

Por Reneu Zortea.

Era sexta-feira, 18 de novembro de 2016, quando sai de casa por volta das 21h30. Minha saída tinha rumo certo: visitar os estudantes que estão na ocupação do Colégio Guilherme José Missen, no Bairro São Luiz, em São Miguel do Oeste/SC. Pelo caminho passei em frente do Colégio São Miguel. Ali avistei as faixas e cartazes… que marcam também a ocupação desse colégio, bem como, um grupo de estudantes identificados com a ocupação. Seguindo o caminho, andei algumas quadras a mais até chegar no Colégio Guilherme José Missen. Na entrada do colégio, algumas faixas, cartazes marcavam de forma brilhante a ocupação, bem como a organização, a consciência e a luta dos estudantes, tais como: “Guilherme ocupado”, “A luta é pela educação”, “A ocupação é legítima defesa”, “Queremos a continuidade do ensino médio noturno…”.

Fui descendo os degraus que levam até a entrada do colégio. A chegada, a acolhida, a alegria dos estudantes. Estavam jantando: feijão com arroz, pão e salada. Um jantar gostoso, com sabor de luta. Uma estudante, coordenadora do movimento, Fabiula (do coletivo da PJMP e PJR) moradora da comunidade São Francisco de Assis, e outras estudantes, felizes me convidaram para mostrar a doação de alimentos que receberam dos familiares, de outras pessoas e dos movimentos populares solidários que conosco somam na mesma causa. Misturando alegria e alimentos, a Fabiula nos mostrou um pão, dizendo: “Este pão foi a minha mãe que fez. Olha, é o pão da mãe. Grande!” O grupo, engrandeceu a conversa dizendo: “Deve ser gostoso! No café de amanhã vamos saborear…”! Entrei na conversa dizendo: “O pão da mãe é o pão da solidariedade, do amor, o pão de Deus”.

Em seguida assisti algumas apresentações dos estudantes sobre o dia da consciência negra, muito criativa, com destaque ao grande líder da resistência e da consciência negra por libertação, Zumbi dos Palmares. Em meio as apresentações, algo matutava em minha cabeça de padre: O pão da mãe!
O pão da mãe. Bendito pão da mãe! O pão da consciência solidária com a luta dos/as estudantes, para que as filhas e filhos de tantas mães trabalhadoras possam ter o pão do saber, da luta por direitos a educação, a saúde, a moradia…, o pão do trabalho feito por tantas mãos trabalhadoras, partilhado na bendita mesa dos empobrecidos e empobrecidas.

Pensei comigo: Jenina, mãe de Fabiula, aquela mulher cabocla, trabalhadora e lutadora na baixada da favela, em sua humilde casa fazendo aquele pão: uma medida de farinha, um pinguinho de fermento, uma bitadinha de sal, um copo de água, uma colherzinha de banha e aquelas mãos calejadas amassando aquele pão. O pão da mãe! O pão no forno, assado, quentinho! Prontinho para ser partilhado. Quanto será que vale esse pão? O pão da solidariedade não tem preço. Vale a vida pelas vidas, vale a vida e a luta dos/as estudantes pela educação e de todo/as que somam na mesma causa, por nenhum direito a menos à classe trabalhadora; vale a luta contra a Medida Provisória 746 que leva a perca de vários direitos a educação…; vale a luta contra a Lei da Mordaça (escola sem partido – que censura à liberdade de expressão de estudantes e professores…); vale a luta contra a PEC (da morte) 241, agora 55/2016, que congela os gastos públicos por 20 anos na educação, na saúde, na habitação…, assistência, reduzindo as possibilidades de vida da população trabalhadora e o empobrecimento da mesma em vista dos privilégios da burguesia, da concentração de renda e do grande capital nas mãos dos poderosos, dando vida ao capitalismo com o empobrecimento e a morte dos debaixo.

O pão fresquinho enrolado em uma toalha, colocado no fundo de uma sacola. O pão que sai da favela com sabor revolucionário para a coletividade, carregado pelas mãos e pés de gente sofrida, entregue nas mãos da filha Fabiula de grande consciência revolucionária, prontinho para ser partilhado na grande coletividade dos/as estudantes, fortalecendo a nobre luta por outro mundo possível – O Reino de Deus e sua justiça!

Como é bom o café da manhã com o pão da mãe! O pão da mãe no café, o pão do almoço e da partilha das mães solidárias na bonita eucaristia dos estudantes, longe do templo, perto de Deus, fortalecendo corpos e consciências dos/as estudantes em luta mirando a revolução popular e permanente!
Que bom estar na luta, fortalecidos e fortalecidas com esse pão da solidariedade de Deus! Bendito pão da mãe! Bendito pão e de Deus!

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