O mercado é que impõe as decisões, não o governo, diz Mujica

O encontro reuniu ativistas de movimentos sociais de mais de 60 países que, como nas edições anteriores, tiveram uma audiência com o Papa. Na mesma mesa de Mujica estava o jornalista espanhol Ignácio Ramonet que se mostrou muito feliz em compartilhar a atividade com o dirigente latino-americano: “quando estamos perto de Pepe Mujica nos sentimos sempre melhores, o vemos, aprendemos e nos convertemos em pessoas de melhor qualidade humana”.

Mujica foi enfático ao afirmar que não há mais possibilidades de desenvolvimento no sistema capitalista. “Se não muda a cultura, não muda nada. As mudanças estruturais não modificam a conduta civilizatória das pessoas. Não se pode construir uma cultura solidaria a partir de valores capitalistas. A construção de uma cultura é tão importante como a construção de uma economia solidária”.

Para o dirigente, é um erro pensar que novos modelos de se desenvolver a política podem avançar e que justamente neste momento de democracia fragilizada é que se deve recorrer aos modelos tradicionais. “Vamos ver um longo período em que o sistema representativo não representa toda a sociedade. A nova representatividade tem que se inserir nos movimentos sociais historicamente tradicionais, como os movimentos sindicais, e não cometer o erro de depreciar a política porque isso seria o mesmo que devorar o futuro”.

“Todos os passos do progresso humano são consequências da luta organizada de gente que lutou. Por isso a representação dos movimentos sociais, suas bandeiras, não são para eles, são para o mundo que está por vir”, ensinou o ex-presidente.

Conhecido por ser “desapegado”, considerado “o presidente mais pobre do mundo”, Mujica sempre tenta ensinar aos demais os valores que imprime em sua própria vida. Para ele, nestes tempos frenéticos de informação e desenvolvimento veloz, “ser livre é ter tempo para aproveitar a vida”.
“Há uma solidariedade em jogo entre a morte a vida. Temos que ser solidários com nossa espécie. (…) Não se pode viver mirando nos sinais de mercado que nos obriga a comprar e comprar. A vida não é para ser gasta só trabalhando, a vida precisa de tempo para o exercício da liberdade e liberdade é quando você decide o que faz sem ofender aos outros”, garantiu.

América Latina

A atividade foi realizada no Vaticano, mas ainda assim, Mujica destinou parte de sua participação aos povos latino-americanos. Ele falou sobre a instabilidade política no continente e a desigualdade que, mesmo depois de um período de governos progressistas, continua a ser uma das principais características.

Nas últimas eleições realizadas no Brasil, no Chile e o plebiscito na Colômbia o destaque foi um só: a abstenção. Nos três casos, houve recorde de pessoas que se recusaram a votar. Para Mujica, isso significa que a população não confia nos sistemas políticos da forma como vêm se desenvolvendo.
“Em nossa América Latina tão rica e vasta em recursos, 32 pessoas têm o mesmo que 300 milhões. Sua riqueza segue crescendo de maneira brutal. Tanta concentração econômica termina gerando uma concentração de poder político. As decisões que se tomam no âmbito político acabam sendo a favor dos que acumulam. Este processo desacredita o sistema político o povo começa a dar as costas aos sistemas políticos representativos”.

“As repúblicas apareceram nesta etapa da humanidade para garantir que ninguém seja melhor que ninguém. O republicano deve ser fiel em profundidade às condições da maioria da sociedade, e não o contrário. A política não é para viver de política. A política é uma paixão, não uma profissão”.

Coluna quinzenal

Em sua coluna quinzenal no portal de notícias alemão Deutsche Welle, Mujica também falou sobre a crise na democracia, a desigualdade na América Latina e a necessidade de se recorrer às raízes.

Fonte: Portal Vermelho.

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