O luto seletivo: o Haiti seguirá (r) existindo!

haiti

Por Lourival Aguiar Mahin.

Precisamos falar sobre o furacão que devastou o Haiti semana passada. A tragédia causada pelo furacão entrelaça pelo menos duas questões envolvendo aquele país. Em primeiro lugar, as centenas de mortes não podem ser simplesmente explicadas pela fragilidade e pobreza do Haiti, que é considerado o mais pobre país das Américas.

Não podemos apagar a história de lutas e vitórias do povo haitiano, primeiro país negro a se declarar independente e abolir a escravidão negra. Porém, a ousadia revolucionária que demonstrou cobrou um alto preço: eles serviram de exemplo contra todos os outros que pudessem seguir seus passos. Muito antes de terremotos e furacões, o Haiti foi devastado pela ganância e vingança da França, sua antiga colonizadora que cobrou milhões de francos para poder aceitar a independência haitiana e dos EUA, que invadiu e ocupou militarmente a ilha em três ocasiões depois da sua libertação. O Haiti é um país sistematicamente oprimido porque sua história é um legado para os oprimidos de hoje, o que se relaciona com a segunda questão que Matthew trouxe novamente à tona.

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O furacão atingiu o Haiti na última terça-feira (4), com ventos fortes, com velocidades que chegaram a 230 km/h, e atravessou a península sudoeste da ilha, deixando em seu caminho milhares de casas destruídas, cidades inundadas e um saldo de quase 900 mortos, segundo a agência Reuters, que cita fontes das autoridades locais, o equivalente a metade total de mortos pelo Furacão Katrina em 2005 e quase 10 vezes mais que a tempestade Sandy em 2012, ambos nos Estados Unidos.

Apesar disso, a mídia internacional estava mais preocupada em fornecer informações sobre a chegada do furacão à Flórida do que em falar sobre os quase 900 mortos no Haiti. Este luto seletivo, que ergueu milhares de bandeiras no mundo na campanha “Je Suis Charlie Hebdo” por conta dos assassinatos dos jornalistas do Charlie Hebdo, que deixou 12 mortos e 11 feridos, e não comentou sobre o massacre na Nigéria, que deixou no mínimo 150 mortos (mas fontes da Anistia Internacional dizem que o número salta para quase 2000 mortos) e ocorreu alguns dias antes não é algo que podemos ignorar. As vidas negras importam em qualquer lugar do mundo e devem valer tanto quanto, mas infelizmente a dor e a solidariedade ao luto na sociedade capitalista também tem cor. E ela não é negra.

As organizações de Direitos Humanos, os partidos políticos de esquerda, sindicatos e centrais sindicais, organizações de esquerda, centros acadêmicos devem organizar uma campanha de solidariedade ativa às vítimas do furacão Matthew e de denúncia da opressão imperialista sofrida por aquele país. Nós, no Brasil, temos que utilizar esta campanha para dizer em alto e bom som: Fora as tropas do Haiti! A luta dos nossos irmãos haitianos é nossa também!

Fonte: Esquerda Diário.

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