O luto abafado pelos capitalistas em meio à crise do coronavirus

Com os colapsos do sistema de saúde e a falta de testes, as famílias não estão tendo nem o direito de se despedir de seus entes.

Imagem: Reprodução

A pandemia de coronavírus vem evidenciando como o sistema público de saúde vem sofrendo um intenso processo de precarização durante os anos, com o avanço do neoliberalismo. Também mostrou como mesmo no meio da pandemia os capitalistas põe seu lucro acima da vida dos trabalhadores, como a falta de testes para diagnóstico do vírus, de insumos, de equipamentos, ausência de informações e as péssimas condições no atendimento.

Como resultado disso vemos os sistemas de saúde entrando em colapsos. Na Itália, por exemplo, chegou num nível em que os médicos tinham que escolher quais pacientes internariam e quais, na sua maioria idosos, que iam sendo “deixados para morrer”. Com a ausência de testes e resultados eficientes, o resultado já era predestinado. Inúmeros corpos iam sendo acumulados por dia, chegando a serem transportados através de caminhões frigoríficos.

Em outro ponto da Europa, na Espanha, onde também há um altíssimo número de mortes sem um preciso diagnóstico, são levados milhares de pessoas para, onde antes era um pista de patinação, agora transformado em um espaço para conservar os cadáveres.

No Brasil, ainda que não vejamos cenários que nem na Itália, a situação ainda é bem grave. Diferente do recomendado pela OMS, a quantidade de testes é totalmente escassa, de forma que há vários relatos de pessoas que vão com sintomas de Covid-19 e são mandadas para casa sem testar, sem o tratamento adequado e correndo o risco de contaminar outros. Inclusive alguns desses pacientes morreram sem diagnóstico exato.

Em São Paulo, a família do primeiro falecido por COVID-19, só soube através dos noticiários o diagnóstico do familiar. Porém, o drama não acaba nem mesmo na morte. Desde o 1 de março, os cemitérios, na cidade, estão provendo velórios específicos para suspeitos de coronavírus: máximo dez minutos, ao ar livre, com limite de até dez pessoas, e caixão totalmente lacrado. No dia 20, uma portaria do Ministério da Saúde extendeu normas similares a todo país. No entanto, devido ao fato que não estam realizando os testes, quase todos os pacientes que estão morrendo de problemas respiratórios e cuja a causa não foi definida, estão sendo enquadrados nessa categoria. A experiência de não se despedir de um ente querido pode ter graves consequências psicológicas, como afirma a psicóloga Júlia Catani, na Revista Época:

“Geralmente um parente aceita completamente a perda em um ano. Mas, se não houver uma oportunidade de despedida, essa aceitação pode durar uma vida”

A crise sanitária tem mostrado com agudeza todas as perversidades do sistema capitalista. É evidente que, em casos confirmados de Covid-19 medidas sanitárias seriam necessárias (ainda que o OMS afirme que se podem realizar enterros normais em pacientes de coronavírus). No entanto, grande parte dessas mortes seriam perfeitamente evitáveis, além de que nem mesmo o mínimo, que seria garantir testes que os pacientes tivessem o tratamento adequado e nem para que se estabelecesse a causa de morte.

Um sistema que não consegue garantir nem o direito mais mínimo, como se despedir dos entes queridos que partiram tem que acabar. A vida dos trabalhadores vale mais que os lucros dos grandes governantes e capitalistas.

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