O jornalista, a cruz e a espada

jornPor Clarissa Peixoto.

Nesta semana comemoramos o dia do jornalista. Entre felicitações e votos de uma vida repleta de pautas, coberturas, fatos e notícias, uma pergunta não sai do pensamento: dada as reflexões democratizantes sobre os oligopólios midiáticos, como deve localizar-se esse profissional que tem na ética e na liberdade de expressão do pensamento seus principais pressupostos num mundo regido pelo capital financeiro?

É fato que não temos uma resposta pronta. Por um lado, é preciso complacência com a classe trabalhadora, entendendo que é complexo sobreviver do próprio trabalho em meio à selva capitalista contemporânea. No entanto, nada fácil é entender que nós, jornalistas, ao termos uma profissão essencialmente ligada a um direito constitucional, nos submetamos a certos ditames por condições estritamente particulares.

Ainda que submetidos às leis do mercado, seja para morar, comer ou até rezar, é responsabilidade do jornalista não calar-se frente ao objeto do seu trabalho, a informação. O texto, a versão do fato e a análise não são apenas produtos do trabalho. Para produzi-los, o jornalista dispõe de informação, tê-la requer privilégios. E isso é hegemonizar, isso é concentrar poder. E quanto menos clareza e responsabilidade sobre a informação, mais se cerceia o povo de seus direitos. E assim, seguimos omissos, mantendo as coisas todas em ordem. Na ordem que serve a poucos em detrimento de muitos.

Na semana anterior, a vitória da Rede Globo sobre o jornalista Azenha, do blog Viomundo, deixa perplexo quem não se convence com Willians e Fátimas. E, de novo, seguimos impotentes. O questionamento demite. O exercício da liberdade de opinião é passível de processo. E processa mais quem tem poder financeiro e controle da caneta da justiça. Une-se a isso o poder da última versão, única e massiva. O final feliz é para poucos.

E a pergunta do início ainda está aqui, latejando na mente e no coração. O jornalista e o oligopólio podem conviver harmonicamente? Parece-me que uma profissão, por essência transformadora, não poderia conviver com o atrasado e imutável. Poderia? Então, ela já não é mais a mesma.

Fonte: Para não desaprender.

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