O futuro é hoje para 29 famílias na Ocupação Fabiano de Cristo, na Capital de SC

Foto: Rosangela Bion de Assis

Por Marcelo Luiz Zapelini, para Desacato.info.

Em mundo em que apenas 4,5 bilhões de pessoas têm banheiro em casa, o pedreiro desempregado Moisés, na ocupação Fabiano de Cristo, no continente de Florianópolis, SC, poderia considerar-se um privilegiado, ainda mais que entre as 28 casas de madeira “à vista”, construídas na área que a prefeitura diz ser dela, a sua é uma entre apenas duas que possuem banheiro. “Foi com muito trabalho e peleja”, pondera com orgulho ao convidar, mais de uma vez, a reportagem da Desacato para conhecê-lo.

As demais famílias dividem um banheiro construído no meio da ocupação, assim como uma cozinha e uma despensa. Alguns já podem tomar banho e cozinharem em suas casas, mas não há sensação de privilégio. “Nos tornamos uma família, nós estamos aqui em conjunto. Um ajudando o outro, entendeu? O peso, estamos todos levando igual”, conta.

A próxima meta de Moises é terminar a cozinha. O fogão, doado, ele já ganhou em um sorteio realizado entre os moradores. Para democratizar o acesso aos equipamentos doados, a coordenação da ocupação os sorteia sempre que chegam. Com isso, a diarista Terezinha, que já tem 71 anos está perto de completar a sua cozinha, no barraco de 3 metros quadrados e apenas um cômodo. “Graças à Deus, pequena, mas tem, só falta trazer o gás, comprar as comidas depois e fazer”.

A porta, ganhada de uma vizinha na ocupação, protege do frio como as paredes de madeira emprestada pelo filho, para quem ela já pagou 400 reais com a pensão que recebe. Já não precisa mais levantar de madrugada para fechar a lona bagunçada pelo vento. “Só vou ter que comprar devagarzinho os sarrafinhos porque tem muita fresta e passa vento. Está bom, pelo menos tenho uma portinha para fechar”, conta.

Terezinha ajuda na cozinha, onde prepara cinco garrafas de café por dia, às vezes até de madrugada, e promete que ainda vai continuar colaborando mesmo quando tiver o seu próprio gás. “Eu posso até fazer meu almoço aqui, mas vou continuar ajudando ali”.

Embora o neto de dona Terezinha ainda não tenha agasalho e ela própria não consiga vestir as roupas que chegam por causa de sua baixa estatura e o acampamento ainda lute para fazer uma instalação de esgoto, há esperança e solidariedade com outras ocupações na região metropolitana.

“Estamos vivendo de doações no começo até todo mundo se arrumar direitinho. Está tendo bastante doações e estamos ajudando até outras comunidades. Se a gente está ganhando, também pode ajudar um pouco, né? Todo mundo pega só o que precisa, o que não precisa a gente doa para outras pessoas que ocuparam também outros terrenos. Aqui nada vai fora”, explica a Faxineira Franciele, que ainda precisa construir uma nova morada com as madeiras que ganhou para poder devolver aquelas emprestadas da garagem de um homem.

A casa é importante para Franciele para proteger seus três filhos, que cria sozinha. Quando morava de aluguel precisava escolher entre dar o dinheiro ao senhorio ou alimentar as crianças, agora elas já estão em um outro patamar. “A partir do mês que vem, a gente vai preparar uma horta ali na frente junto com as crianças. Ensiná-las a plantar, a colher e a comer as saladas, né filha?”, conta olhando para Nicole que a abraça pelas pernas. “As crianças são

importantes, vamos fazer um parquinho para as crianças. Agora está assim, mas daqui alguns meses vai estar tudo em ordem”, afirma sorridente.

Os moradores miram no futuro, mas a prefeitura não desistiu da área, da qual é formalmente dona, não tenha construído ali casas populares até 2009, como condicionava o acordo com a ONG Lar Fabiano de Cristo, quando concedeu o terreno à prefeitura, em 2006. Se as casas não fossem construídas, a propriedade seria revertida.

A prefeitura promete expulsar os moradores porque eles estariam tentando furar uma fila de quase 17 mil pessoas, que esperam habitação popular. A realidade é que além do mato que havia, a área era utilizada como base para delitos como furtos e tráfico de drogas.

Enquanto ainda se discute quem manda na área, são as famílias de Moises, Terezinha, Franciele e outras 26 que mostram a que vieram.

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