O Funcionário do Mês. Por Guigo Ribeiro

Por Guigo Ribeiro, para Desacato.info.

O Chefinho leu qualquer coisa sobre motivação profissional. Empolgado, se inspirou
em empresas que vendem lixo para comer e decidiu realizar uma avaliação que elegesse
aquele bendito subordinado apto para ter sua foto num quadro exposto aos que
quisessem ver. Assim o fez. Convocou geral no meio do expediente para uma reunião
de extrema urgência. Dada a quantidade de pessoas, precisou ocupar a entrada.
Começou:

– Amados, vamos em frente que atrás vem gente. Apresento boas novas. Mas é uma
surpresa e quero que tentem adivinhar.  Valendo! – empolgado.

Os funcionários se olhavam um tanto perdidos. Além de constrangidos. Avaliavam que
dada a economia e a capacidade exímia do Chefinho de fazer besteira, a possibilidade
de uma sádica demissão em massa era concreta. Mantiveram o silêncio.

– Vamos lá, meu povo. Certeza que ficarão felizes! É uma forma de valorização.

O "valorização" trouxe alguma calmaria. Um corajoso perguntou:

– Teremos participação nos lucros?

O Chefinho riu.

– CLARO QUE NÃO! Meu pai não deixa. Mas garanto que é melhor.

Ainda a dúvida.

– Falem o que o coração mandar.

– Teremos cesta básica? – outro corajoso.

O Chefinho riu mais.

– Nessa crise? Vamos lá! Temos que ser e pensar como os americanos. Eles pensam
grande! "Big think, man!"

Os diretores não sabiam. E constrangidos, puxaram o Chefinho de canto. Um tomou a
palavra.

– Olha… as metas estão bem atrasadas. Precisamos retornar para ontem a produção. Sem
qualquer ofensa, pode ser mais direto?

O Chefinho concordou. Demitiu o sujeito no dia seguinte por justa causa. Mas
concordou.

– Bom… cada um de vocês é vital aqui. Suas casas são minhas. Seus problemas também.
Somos uma família. Penso nos filhos de vocês como meus também. Só não as esposas e
maridos. – rindo muito.

Ninguém riu.

– Por isso… vou fazer um anúncio.  Estão prontos?

– O décimo terceiro vai cair? – uma corajosa.

– Não. Na nova lei acabou o décimo terceiro.

Todos se olharam assustados e alguém perguntou.

– Que nova lei?

– A 17.17 – 17. Leia depois. Mas… pra quê décimo terceiro se minha notícia é melhor?
Dinheiro, queridos, não traz felicidade. Parece que só pensam nisso.  – amável.

Longo silêncio.

– Vou anunciar. Prontos?

Outro longo silêncio que respondeu com sim.

– De hoje em diante os melhores funcionários serão agraciados com a honra de estar no
quadro de melhor funcionário do mês. Corrigindo. O melhor. Os melhores seriam
necessários alguns quadros e ficaria caro. É uma forma suíça de valorizar o funcionário.

Decepção (apesar de não tão) coletiva.

– QUEEEEEMMM GOSTOOOOOU FAAAAZ BARULHOOOOO?

Silêncio.  Mas a luz de uma lâmpada acendeu na cabeça de um outro diretor. Vendo
uma oportunidade, pensou a ideia como meio para aumentar os lucros. Tomou o
microfone.

– Uma salva de palmas para nosso genial líder. Vamos começar na próxima semana.
Ralem, se doem, deem tudo para nós e pelo seu salário. Palmas! Palmas!

Aplausos via protocolo.

– Agora retomem seus postos.

Os funcionários seguiram irritados com o tempo perdidos. O diretor trocou algumas
palavras finais com o Chefinho.

– Como pensa em fazer a avaliação?
– Simples! Tenho uma foto que eu adoro. Postei ontem no instagram. E aqui tem um
monte de mulher bonita.
– Mas não vai pegar mal? No cotidiano, isso vai ser bom porque vai ajudar aumentar os
lucros.

O Chefinho se empolgou.

– Falo contigo amanhã…

No dia seguinte lá estava a foto do Chefinho e o diretor demitido por justa causa. O
Chefinho não gostava de dividir nada. Nem ideias.

Gostou?

Mês que vem tem mais. Até lá.

 

Guigo Ribeiro é ator, músico e escritor, autor do livro “O Dia e o Dia Que o Mundo Acabou”, disponível em Edfross.

 

 

A opinião do/a autor/a não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

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