O Estado policial nos EUA: na Amerika nunca haverá um debate real

Por Paul Craig Roberts.

(Português de Portugal).

Deus os ajude se Obama e Romney tiverem de participar num debate real acerca de alguma questão na Oxford Union [1] . Eles seriam massacrados.

Os “debates” revelaram que não só os candidatos como também todo o país está completamente dessintonizado de qualquer problema real e de desenvolvimentos perigosos. Por exemplo: nunca se saberia que cidadãos dos EUA podem ser aprisionados e executados sem o devido processo. Tudo o que é preciso para terminar com a liberdade e a vida de um cidadão americano pelo seu próprio governo é uma estranha decisão em algum lugar do ramo executivo.

Não duvido que os americanos, se é que pensam nisso, acreditam que isso só acontecerá a terroristas que o merecem. Mas como nenhuma prova ou processo é necessário, como saberíamos nós que isso só acontece a terroristas? Podemos realmente confiar num governo que começou guerras em sete países com base em falsidades? Se o governo dos EUA mentirá acerca de armas de destruição maciça iraquianas a fim de invadir o país, por que não mentirá acerca de quem é terrorista?

A América precisa de um debate acerca de como nos podemos tornar seguros ao remover a protecção constitucional do devido processo. Se o poder do governo não é limitada pela Constituição, seremos nós dominados pelo César? Os Pais Fundadores não pensavam que pudéssemos confiar nossa segurança a um césar. O que mudou para agora podemos confiar num césar?

Se estamos sob uma tal ameaça terrorista que a Constituição foi suspensa ou substituída pela acção irresponsável do executivo, não é possível que todos os alegados casos terroristas sejam operações encobertas organizadas pelo FBI? Em onze anos não houve um único caso no qual o “terrorista” tivesse a iniciativa!

Nos onze anos desde o 11/Set, os actos de terrorismo interno foram muito pequenos se é que chegaram a existir. O que justifica e enorme e dispendioso Ministério da Segurança Interna (Department of Homeland Security) ? Por que o Ministério da Segurança Interna tem Equipes de Resposta Imediata com equipamento militar e veículos blindados ? Quem são os alvos destas unidades militarizadas? Se onze anos de assassínio, mutilação e deslocamento de milhões de muçulmanos por parte do governo dos EUA não provocaram actos maciços de terrorismo interno, por que o Ministério da Segurança está a criar a sua própria força armada interna? Por que não há audiências no Congresso e nem discussão pública? Como pode um governo cujo orçamento está profundamente deficitário permitir-se uma segunda força militar sem qualquer propósito definido de constitucionalmente legal?

Qual é a motivação do Ministério da Segurança ao criar uma Juventude da Pátria ( Homeland Youth ) ? Será o novo Corpo do FEMA um disfarce para um objectivo mais sinistro, uma Juventude Hitleriana como sugerem sítios na Internet ? Estarão as compras maciças de munições por parte do Ministério da Segurança relacionadas com a formação de um corpo à escala nacional de jovens de 18 a 24 anos? Como pode isto estar a acontecer na frente dos nossos olhos sem que quaisquer questões sejam perguntadas?

Por que Romney não pergunta a Obama a razão porque ele trabalha para subverter a norma do tribunal federal de que cidadãos dos EUA não podem ser sujeitos a detenção indefinida em violação da Constituição? Será porque Romney e seus conselheiros neoconservadores concordam com Obama e os conselheiros dele? Se assim é, então por que um tirano é melhor do que o outro?

Por que os EUA construíram uma rede de campos de detenção, para os quais está a contratar “especialistas em internamento” ?

Por que o US Army agora tem uma política para “estabelecer programas de trabalho para reclusos civis e campos de prisão civis em instalações do Exército”?

Aqui está a reportagem de Rachel Maddow sobre como Obama critica o regime neoconservador Bush/Cheney por violações da Constituição dos EUA e a lei estatuída e a seguir ele próprio propõe a mesma coisa: http://www.youtube.com/watch?v=L8J_lcHwkvc

Como é que debates presidenciais evitam o facto de os Drones Predator voarem sobre nós aqui dentro dos Estados Unidos da América? Qual é a finalidade disto? Por que as mais pequenas forças policiais nas mais remotas localizações estão a ser equipadas com carros blindados? Eu os tenho visto. Em pequenas comunidades racialmente segregadas (lilly-white) do Norte de Atlanta, Geórgia, comunidades com MacMansions abaixo do milhão de dólares, têm policia militarizada com carros blindados e armas automáticas. Equipes de polícia reforçada ( SWAT teams ) em pleno aparato militar estão por toda parte. O que significa isto? Estas pequenas áreas semi-rurais nunca verão um terrorista ou experimentarão uma situação de sequestro. Mas todas elas estão armadas até os dentes. Elas estão tão fortemente armadas que até podiam ser enviadas para combater contra o Terceiro Reich ou o Exército Vermelho.

Qualquer destas perguntas entra em conflito com a suposição da perfeição moral da América. Nem tal debate alguma vez acontecerá. Mas se “isso é a economia, estúpido”, por que é que não há debate económico?

No mês passado o Federal Reserve anunciou a terceira Quantitative Easing, QE3. Se a QE1 e QE2 não funcionaram, porque alguém, incluindo o presidente do Federal Reserve, pensa que a QE3 funcionará?

Contudo, os absolutamente irracionais mercados financeiros, os quais não têm uma única pista acerca de nada, ficaram super satisfeitos com a QE3. Isto só pode ser porque aquilo que governa o mercado de acções é propaganda, conversa fiada e desinformação, não factos. O tão louvado mercado de acções é incapaz de tomar qualquer decisão correcta. As decisões são tomadas pelos palhaços que operam no mercado com base no curto prazo. O único caminho seguro a tomar é correr com os ratos. Esta estratégia assegura que o administrador de uma carteira está sempre no meio dos seus pares e, portanto, não perde clientes.

Quão maravilhoso teria sido Obama e Romney terem-se confrontado num debate real acerca de como a QE3, concebida para ajudar “bancos demasiado grandes para caírem”, pode ajudar famílias a sobreviverem, com dois a ganharem, com rendimentos reais de 45 anos atrás, que é onde se situa o presente rendimento familiar real mediano.

Como é que salvar banco, considerado como “demasiado grande para cair”, ajuda a família cujos empregos ou emprego principal foram exportados para a China ou a Índia a fim de maximizar lucros corporativos, o desempenho dos bónus dos executivos e os ganhos de capital dos accionistas?

Obviamente a população trabalhadora dos EUA foi sacrificada aos lucros dos mega ricos.

Uma questão de baste adequada é: Por que os meios de vida dos trabalhadores americanos foram sacrificados para os lucros dos mega ricos?

Mas uma questão assim nunca será apresentada num “debate presidencial”.

No século XXI, os cidadãos dos EUA tornaram-se sem importância (nonentities). Eles são brutalizados pela polícia cujos rendimentos são pagos pelos seus impostos. Eles, por protestarem contra alguma injustiça ou por causa nenhuma, são espancados, presos, atingidos por pistolas eléctricas e até assassinados. A polícia, paga pelo público, espanca pessoas paralisadas em cadeiras de rodas, trama aqueles que a elas recorre contra criminosos, dispara com pistolas sobre avós e crianças pequenas e abate a sangue frio cidadãos desarmados que nada fizeram senão perderem o controle de si mesmos, devido ao álcool, drogas ou raiva.

Americanos com o cérebro lavado pagam grandes impostos em todo nível de governo para protecção contra violência gratuita, mas o que os seus impostos sustentam é violência gratuita contra si próprios. Todo americano, excepto o pequeno número de mega ricos que controla Washington, pode ser preso e despojado, tanto da liberdade como da propriedade, com base em nada senão uma alegação de um membro do ramo executivo que pode querer a esposa do acusado, a sua namorada, propriedade, ou lavrar um tento, ou exterminar um rival, ou marcar pontos contra uma escola secundária, faculdade ou negócio rival.

Na América de hoje, a lei serve os poderosos, não a justiça. Com efeito, aqui não há lei e não há justiça. Só poder arbitrário.

O que interessa um voto quando o resultado é o mesmo? Ambos os candidatos representam os interesses de Israel, não os interesses dos EUA. Ambos os candidatos representam os interesses do complexo militar e de segurança, do agronegócio, das corporações deslocalizadas, da supressão de sindicatos e de trabalhadores, da morte total da liberdade civil e da Constituição, a qual está no caminho poder executivo desenfreado.

Nos EUA de hoje, o poder do dinheiro domina. Nada mais figura na equação. Por que votar para dar apoio à continuação da sua própria exploração? Toda a vez que um americano vota é um voto pela sua própria aniquilação.

24/Outubro/2012

[1] Oxford Union : Clube de debates na Universidade de Oxford.

Original: http://www.globalresearch.ca

Fonte:  http://resistir.info/

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