O desenvolvimento do Setor Elétrico Brasileiro: impactos ambientais, sociais e eficiência energética

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Por Lorreine Iria Laube, para Desacato.info.

A maioria das pessoas realmente acredita que a propaganda feita pelo governo – de modo geral, não me refiro a esse ou aquele partido -, a respeito dos seus feitos é imparcial e sincera. O que ele divulga seriam projetos voltados para um progresso sustentável. A outra parte simplesmente ignora, não quer se envolver em questões do seu próprio país, pois já delegou às pessoas certas a responsabilidade. Sobra então, uma parte, com certo grau de criticidade, que se sente responsável também pelo rumo que toma este país.

Escrevo não para este último grupo, mas para os dois primeiros.

As informações abaixo dizem respeito ao crescimento do Brasil, mais especificamente ao setor elétrico brasileiro que de sustentável tem muito pouco.

Enquanto o governo divulga que a demanda de energia elétrica está em crescente aumento e necessita da construção de 30 grandes barragens na Amazônia nos próximos 10 anos (corresponde a construção de uma hidrelétrica a cada 4 meses), temos 20% de perdas nas linhas de transmissão existentes, e pouco incentivo na redução da demanda de energia nos processos produtivos.

Os setores eletrointensivos, também contribuem com quase 8% da energia elétrica consumida no Brasil. Os eletrointesivos se caracterizam por consumir uma quantidade muito grande de energia elétrica para cada unidade física produzida. Fazem parte deste setor as indústrias de cimento, siderúrgica (ferro-gusa e aço), ferro-ligas, não-ferrosos (alumínio e silício), química, papel e celulose. As exportações mostram que esta energia elétrica consumida na produção dos eletrointesivos deixa o país incorporada no minério de ferro, em produtos siderúrgicos, nos lingotes de alumínio, nas ligas de ferro, e no papel e celulose. Estes produtos são manufaturados em países com indústrias mais modernas e retornam ao nosso país com valor agregado.

Cabe informar também, que o Plano Decenal de Energia baseia-se numa visão ofertista, ou seja, na previsão de cargas futuras, sem entrar no mérito de demandas futuras, sem concentrar esforços na redução das perdas na transmissão ou na questão de eficiência energética citadas acima.

Atrela-se à demanda de energia ao PIB, que cresceu no Brasil cerca de 31%, de 1990 a 2008. Em contrapartida os recursos naturais per capita diminuíram 25%. Levando em consideração apenas o PIB nosso país cresceu 31%, logo crescimento de 31% na demanda de energia. No entanto quando o desempenho de nosso país é avaliado pelo Índice de Riqueza Inclusiva (IRI), nossa economia cresceu 18%. Este índice leva em consideração o capital humano, capital natural, PIB e capital produzido.

O incentivo à produção de energias renováveis, como o caso da energia eólica, acontece de forma atrapalhada e até mesmo constrangedora. Parques inteiros construídos sem subestações e linhas de transmissão para escoar esta energia. Assim as estatais recebem multas exorbitantes por não cumprirem seus compromissos. Essas multas são eficientes? Será que uma política de planejamento e fiscalização, investimentos em mão de obra nacional qualificada não seriam mais eficientes? Isto pode até não comprometer a segurança do abastecimento nacional, como declarou o ministro de Minas e Energias Edison Lobão em abril deste ano, mas demonstra uma total falta de planejamento do governo.

Outra questão interessante e ainda pouco divulgada é a questão de emissão de gás carbônico (CO2) e metano (CH4), prejudiciais à camada de ozônio, por usinas hidrelétricas. O metano (CH4) é formado no fundo dos reservatórios, onde a matéria orgânica se decompõe sem a presença de oxigênio. Segundo o geógrafo Marco Aurélio dos Santos com relação à emissão do gás carbônico (CO2), estudos apontam os seguintes motivos principais: a decomposição da vegetação pré-existente, ou seja, das árvores atingidas pela inundação de áreas usadas na construção dos reservatórios; a ação de algas primárias que emitem CO2 nos lagos das usinas; e o acúmulo nas barragens de nutrientes orgânicos trazidos por rios e pela chuva.

Atualmente vivemos uma tecnocracia, onde nem a voz popular e nem os próprios políticos tomam as decisões.

Precisamos nos conscientizar que nossos recursos naturais são finitos. Acabando os recursos o sistema econômico também sucumbe. As decisões governamentais além de toda questão ambiental, ainda devem ponderar as questões sociais, de direitos humanos e culturais. Devemos pensar em crescimento com sustentabilidade. Alguns até apontam a possibilidade de decrescimento sustentável, ideia interessante que merece ser analisada. Uma baita mudança de paradigma.

Fontes:

O setor elétrico brasileiro e a sustentabilidade no século 21 – Oportunidades e desafios/ Ed. Paula Franco Moreira – Brasília: Rios Internacionais – Brasil, 2012.

http://www.ihu.unisinos.br/noticias/513716-como-construir-uma-nova-sociedade-da-abundancia-artigo-de-serge-latouche

http://www.pnuma.org.br/comunicados_detalhar.php?id_comunicados=213

http://www.mme.gov.br/mme/noticias/destaque2/destaque_337.html

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