O crescimento das energias renováveis e a redução das emissões na China

 Por José Eustáquio Diniz Alves.

A nova administração norte-americana está abandonando a liderança das ações de mitigação das mudanças climáticas, além de reduzir o financiamento em energia limpa e abraçar os investimentos em carvão mineral e petróleo – as fontes sujas de energia do passado, que os especialistas dizem não poder criar um grande número de novos empregos sustentáveis. Ao mesmo tempo, a China está reduzindo o uso de carvão e apostando fortemente em energia renovável, que é claramente a maior fonte de empregos permanentes de alta remuneração nos próximos anos.

Artigo de Joe Romm (28/02/2017) mostra que, de fato, Pequim planeja investir US$ 360 bilhões apenas em geração renovável até 2020. A agência de energia chinesa diz que o “emprego resultante será de mais de 13 milhões de pessoas”.

Como expõe o gráfico acima, em 2016, o consumo de carvão chinês caiu pelo terceiro ano consecutivo, enquanto instalou quase o dobro de painéis solares, como em 2015, que também foi um ano recorde. E essas tendências continuarão em 2017. A meta da China de instalação de capacidade solar para 2020 provavelmente será alcançada em 2018, o que não deixa de ser uma façanha bastante impressionante.

A China já se tornou o país líder mundial em ações climáticas, já que suas próprias emissões de CO2 se estabilizaram e diminuíram desde 2013. Mas o que Pequim realmente quer é que a próxima geração de tecnologias energéticas venha da China. E que este processo crie empregos, reduza a pobreza e aumente a influência do país no resto do mundo.

O artigo de Joe Romm mostra que, tragicamente para os trabalhadores americanos, enquanto os EUA ajudaram a pavimentar o caminho para um acordo com a China, e depois um acordo global, foi eleito um presidente que fez campanha travando uma batalha perdida para estancar a perda de empregos de combustíveis fósseis. Assim como no caso do carvão, os postos de trabalho na área de petróleo estão diminuindo devido à automação e à maquinaria avançada, e não à regulação estatal.

O gráfico abaixo (Simon Göss, 13/02/2017) mostra que em um ano a China acrescentou quase a mesma geração de energia renovável que a geração total de energia renovável da Alemanha, de acordo com as estatísticas de janeiro de 2016 pela Administração Nacional de Energia da China e pelo Conselho de Eletricidade da China. No entanto, a fonte de eletricidade do país continua dependendo fortemente do carvão. Mas o que o gráfico mostra é que as fontes não fósseis (eólica, solar e nuclear) foram as que mais cresceram em 2016.

power generating capacity in GW

Artigo de Macarena Liy, em El País, mostra que, em apenas oito anos, a China, o maior emissor mundial, deu uma guinada de 180 graus em sua política para a mudança climática.

Durante anos, o carvão foi vital para a China: é sua principal fonte de energia, tanto que o país responde por cerca de metade do consumo mundial. Mas também está na raiz de muitos de seus problemas: é a causa de 70% de sua poluição mais perigosa. Mas, pelo terceiro ano consecutivo, a China reduziu seu consumo desse mineral. Com os cortes, a proporção desse combustível fóssil na matriz energética chinesa caiu de 64% para 62%. Os dados indicam que a China, que se comprometeu a começar a reduzir suas emissões a partir de 2030, está em via de cumprir a meta de manter o consumo de carvão abaixo dos 4,1 bilhões de toneladas e reduzir para 58% até 2020 o peso desse combustível em suas necessidades energéticas.

Artigo de Bridgette Burkholder (07/04/2017) resume as 5 maneiras pelas quais a China está assumindo a liderança na luta contra as mudanças climáticas e acelerando a implantação da economia de baixo carbono: 1. A capacidade solar da China cresceu 82% no ano passado; 2. O consumo de carvão da China caiu por três anos consecutivos; 3. A China planeja investir pelo menos US$ 360 bilhões em geração de energia renovável até 2020; 4. Os empregos em energia renovável estão crescendo na China. A energia renovável já emprega 3,5 milhões de pessoas e espera que novos investimentos criem mais 13 milhões de empregos no setor até 2020; 5. A China pretende ter cinco milhões de veículos eléctricos na estrada até 2020.

Sem dúvida, a China está fazendo um esforço concentrado e planejado para liderar a mudança da matriz energética de forma que atenda aos novos acordos climáticos, mas também que garanta muito dinheiro e influência para o país. O avanço tecnológico e o crescimento das energias renováveis de fato devem contribuir para a redução das emissões de gases de efeito estufa. Mas o monopólio tecnológico e comercial chinês pode ser uma nova fonte de conflito mundial e pode ser mais um motivo para a permanência da pobreza e a desigualdade global.

Assim, enquanto o governo Barack Obama passou anos tentando puxar a China para um Acordo Global do Clima, agora no governo Donald Trump as coisas se inverteram e é provável que a China passe à liderança do processo de mitigação do aquecimento global. Os papéis das duas superpotências foram trocados. Talvez isto reflita o fato de que os EUA são uma potência em declínio relativo e a China, para o bem ou para o mal, seja uma potência em ascensão.

Referências:

Joe Romm. China smashes solar energy records, as coal use and CO2 emissions fall once again, Think Progress, 28/02/2017
https://thinkprogress.org/with-millions-of-jobs-up-for-grabs-china-seizes-clean-tech-leadership-from-u-s-a37154d02d0#.b3rd92a9w

Simon Göss. China’s renewable energy revolution continues on its long march, Energy Post, 13/02/2017
http://energypost.eu/chinas-renewable-energy-revolution-continues-long-march/

Macarena Vidal Liy. China reduz seu consumo de carvão pelo terceiro ano consecutivo, El País, 08/03/17 http://brasil.elpais.com/brasil/2017/03/04/internacional/1488631238_086175.html

Bridgette Burkholder. 5 Ways China Is Becoming the Global Leader on Climate Change, Ecowatch, 07/04/17
http://www.ecowatch.com/china-clean-energy-leader-2348002028.html

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: [email protected]

 

Fonte: EcoDebate

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