O coronavírus e crise do capital. Por Douglas F. Kovaleski.

Foto: Agência Brasil/TYRONE SIU

Por Douglas F. Kovaleski para Desacato. info.

Antes de tratar da análise proposta neste texto, passo a explicar brevemente o que é o coronavírus e trazer algumas informações relevantes sobre ele. Coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (SARS-CoV-2) foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China. Provoca a doença chamada de coronavírus (COVID-19).

Os primeiros coronavírus humanos foram isolados pela primeira vez em 1937. No entanto, foi em 1965 que o vírus foi descrito como coronavírus, em decorrência do perfil na microscopia, parecendo uma coroa.

A maioria das pessoas se infecta com os coronavírus comuns ao longo da vida, sendo as crianças pequenas mais propensas a se infectarem com o tipo mais comum do vírus. Os coronavírus mais comuns que infectam humanos são o alpha coronavírus 229E e NL63 e beta coronavírus OC43, HKU1.

O coronavírus possui uma letalidade baixa e uma transmissibilidade alta, mas rigorosamente desconhecida, pois é necessário algum tempo para realizar estudos, acompanhar grupos e testar formas de conter uma doença infecto-contagiosa. As informações sobre o vírus, até o momento, são precárias e podem estar equivocadas em alguma medida.

Tudo indica que o coronavírus não é nada além de uma nova gripe que vai circular pela humanidade, levando a óbito principalmente idosos e pessoas em situação de saúde ruim, como pacientes crônicos, imunodeprimidos e pessoas que vivem um uma condição material de vida precária, incluindo aí a massa de refugiados, trabalhadores desempregados e subempregados que vivem pelo mundo, sem garantia de alimentação, saneamento básico e cidadania.

Outro aspecto importante a ser considerado no avanço dessa epidemia tem a ver com o exagerado abalo que ela está causando na economia mundial. A epidemia tem o risco de pegar carona com mais um ciclo da crise do capital, demonstrando a fragilidade da economia mundial. Processo semelhante aconteceu em 2003, quando no auge da epidemia de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), as Bolsas de Valores do mundo inteiro perderam até 10%. Um mês depois, no entanto, já haviam recuperado todos os prejuízos. Dessa vez, todavia, o coronavírus já infectou, e vitimou, um número muito maior de pessoas em comparação ao SARS. E, mais do que isso, forçou a China a se isolar: 4 mil quilômetros de fronteira com a Rússia, conexões aéreas interrompidas, fábricas e escritórios fechados.

Entretanto, o mundo não é mais o de 2003, principalmente a China. E a economia mundial é muito menos sólida do que 2003. As previsões do impacto que essa epidemia terá sobre a economia chinesa estão ficando mais sombrias. A redução na taxa de crescimento anual do Produto Interno Bruto (PIB) da China dificilmente será menor que um ponto percentual. Mas os sinais de desaceleração na economia chinesa jé eram evidentes há alguns anos.

Em 2003 a China pesava por 4% no PIB global. Há dez anos, época da epidemia de H1N1, o PIB chinês representava 9,4% do total. Hoje chegou a 16%. Pequim, hoje, vale um terço do crescimento econômico mundial, e sua participação no comércio global é o dobro do que era em 2003.

A epidemia do coronavírus tende a ser mais preocupante no cenário atual por um outro motivo: a capacidade de intervenção dos estados-nacionais sob a égide neoliberal se reduziram substantivamente e as possibilidades da realização de ações emergenciais se reduziu bastante pelo mundo. Aqui vale fazer um adendo, pois a China teve uma resposta rápida e, aparentemente, bastante efetiva para a contenção do coronavírus, no entanto essa condição não é a realidade da maioria dos países latino-americanos ou africanos, por exemplo.

Deste modo, o coronavírus vem à cena com três agravantes: a) Uma massa enorme de pessoas vulnerabilizadas (característica do capitalismo); b) a fragilidade da economia mundial, que vive na iminência de um colapso do sistema financeiro (característica da crise do capital); c) o enfraquecimento da capacidade de intervenção dos Estados, tanto para a prevenção do coronavírus em específico, como para promover condições dignas de vida para toda a população, evitando que doenças se alastrem (característica do capitalismo monopolista).

Sendo assim, o que se evidencia é que o coronavírus, ou essa nova gripe, não são a causa da situação atual. Não podemos deixar que a realidade aparente confunda nossa capacidade de análise. O que adoece o mata a população efetivamente, não é o coronavírus, mas o modo capitalista de produção em sua crise estrutural com a configuração do Estado a serviço apenas do capital e não das pessoas.

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Douglas Francisco Kovaleski é professor da Universidade Federal de Santa Catarina na área de Saúde Coletiva e militante dos movimentos sociais.

 

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