O conto da Justiça

Cronopiando por Koldo Campos Sagaseta.

(Português/Español).

Era uma vez um ministro da Justiça espanhol chamado López Aguilar que, para melhor calçar a lei com seu critério e evitar que os presos bascos recuperassem a liberdade, mesmo que tivessem cumprido as condenas que ele próprio impusesse, decidiu que a esses presos lhes “construíssem novas imputações”.

Era uma vez outro ministro da Justiça espanhol chamado Mariano Fernández Bermejo que, quando cansava de evacuar sentenças, saía de caça a matar animais sem sequer dispor de licença, menos ainda de discrição, em companhia de outros amigos e honoráveis juízes como o versado em caçarias Baltasar Garzón.

Era uma vez um presidente do Supremo Tribunal e do Conselho Geral do Poder Judiciário espanhol, chamado Carlos Dívar, que  quando ficava chateado de atender tantos assuntos e despachos, chateação que acostumava começar às quintas-feiras, dava início a sua “semana caribenha” por Marbella, a onde transladava a sua agenda de repouso, seus sete guarda-costas, seus carros oficiais, seus mais íntimos jantares, e carregava as contas ao Estado.

Pois é, este não é o conto que prometi no título senão a crônica diária de uma justiça que pune a opinião com a cadeia e anistia a fraudes fiscais, banqueiros e duques; que converteu a resistência pacífica em desacato e que sanciona como organização criminosa a mobilização; e que transformou a prisão perpétua que não existe, em “condena indefinida”. Este não é o conto senão a insuportável agonia de um monarca que, desde que se seus safaris o permitem, pronuncia frases tão eloquentes como: “a Justiça é igual para todos”, a história de um país que desaba e ao qual lhe desejo boa sorte e, sobre tudo, que não salpique.

A única possível narração que nos resta é o que estamos escrevendo e que, não importa que os oráculos mintam que é um conto, haveremos de converter em nossa história, sem bruxos embecados nem coroados babacas. Quem sabe, nessa história haverá uma menina, uma porta aberta, uma velha árvore, um abraço na rua, uma mesa comum e uma mão fraterna.

 Versão em português: Projeto América Latina Palavra Viva.

El cuento de la Justicia

Cronopiando por Koldo Campos Sagaseta.

Había una vez un ministro de justicia español llamado López Aguilar que,  para mejor calzar la ley con su criterio y evitar que los presos vascos recobraran la libertad, así ya hubieran cumplido las condenas que él mismo les impusiera, decidió que a esos presos se les “construyeran nuevas imputaciones.”

Había una vez otro ministro de justicia español llamado Mariano Fernández Bermejo que, cuando se cansaba de evacuar sentencias, salía de cacería a matar animales sin disponer siquiera de licencia, menos aún de discreción, en compañía de otros amigos y honorables jueces como el versado en monterías Baltasar Garzón.

Había una vez un presidente del Tribunal Supremo y del Consejo General del Poder Judicial español, llamado Carlos Dívar, que  cuando se aburría de atender tantos asuntos y despachos, aburrimiento que acostumbraba a comenzar los jueves, daba inicio a su “semana caribeña” por Marbella, a donde trasladaba su agenda de reposo, sus siete guardaespaldas, sus coches oficiales, sus más íntimas cenas, y cargaba las cuentas al Estado.

Pues bien, este no es el cuento que prometí en el título sino la crónica diaria de una justicia que castiga la opinión con la cárcel y amnistía fraudes fiscales, banqueros y duques; que ha convertido la resistencia pacífica en desacato y que sanciona como organización criminal la movilización; y que ha transformado la cadena perpetua que no existe, en “condena indefinida”. Este no es el cuento sino la insoportable agonía de un monarca que, desde que se lo permiten sus safaris, pronuncia frases tan elocuentes como: “la Justicia es igual para todos”,  la historia de un país que se desploma y al que le deseo suerte y, sobre todo, que no salpique.

El único posible relato que nos queda es el que estamos escribiendo y que, no importa los oráculos mientan que es un cuento, habremos de convertir en nuestra historia, sin brujos entogados ni coronados necios. Si acaso, en esa historia habrá una niña, una puerta abierta, un viejo árbol, un abrazo en la calle, una mesa común y una mano fraterna.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.