O céu sobre a universidade pública está carregado de nuvens escuras

Por Roberto Kraenkel.

A dinâmica de criação de novos cursos universitários, sobretudo públicos, nos anos de ouro da era Lula/Dilma corresponde a um aumento de procura por pessoal qualificado por parte de empresas ou órgãos estatais. Representou, além disso, uma possibilidade de ascensão social para a classe média mais desmunida.

Após a estagnação no mundo acadêmico dos anos ’90 – vimo-nos  repentinamente desafiados: havia postos de trabalho para engenheiros, mas não havia engenheiros; havia necessidade de professores de ensino médio, mas tampouco os havia. Economistas, pessoal de tecnologia de informação, farmacêuticos: estavam em falta. E todo o terceiro setor clamava por gente que tivesse cursado artes, letras, jornalismo, biologia, estatística, arquitetura.

Tudo isso acabou.

Desde a virada de Dilma, no seu segundo mandato, rumo à austeridade e, aceleradamente, no governo Temer, o futuro desabou.  Não o há. Foi cancelado.

A Lava-Jato deu cabo da Petrobras e suas demandas por engenheiros. A formação de professores estagnou. Há demasiado pessoal bem formado – hoje contrata-se um jornalista para escrever qualquer bobagem, alguém formado nas melhores escolas de cinema para fazer um teaser de dez segundos.

Que luxo, não? Não. Para cada secretária trilíngue que aceita um emprego de secretária monolíngue, uma destas últimas se quedará desempregada.

Bem vindo ao mundo do desemprego estrutural.

Assim desenha-se o futuro das universidades brasileiras na era que se apresenta: sem que haja necessidade de pessoas bem formadas, pois que todo savoir-faire passa a ser comprado do exterior, tornam-se supérfluas as universidades geradoras de conhecimento e formadoras de sujeitos esclarecidos.  Mesmo pessoas com conhecimentos específicos mais avançados numa determinada área deixam de ser necessárias . Salvam-se talvez os economistas – mas apenas os “de mercado”.

Sim, colega professor universitário, você que apoiou o golpe e luta pela meritocracia social – você bem-pensante que deseja uma universidade para os melhores, que é contra cotas, e que ao mesmo tempo quer que  o conhecimento seja levado em conta nas políticas públicas, você, colega – mon semblable, mon frère – talvez ingênuo e de boa fé, você está sendo feito de tolo. Você apoia aquilo que fará as universidades públicas se rebaixarem ao corriqueiro, ao que é treinamento, não mais conhecimento.

A política econômica neoliberal suprime a ideia de projeto nacional e estado social. É um jogo rude, cada qual que se vire como puder. Na periferia do capitalismo desaparece a necessidade de universidades produtoras de conhecimento. Na mesma ordem de ideias, a ciência e as humanidades tornam-se supérfluas. O mercado dará conta delas…

O céu sobre a universidade pública está carregado de nuvens escuras.

Fonte: Jornal GGN.

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