Novas configurações do mundo do trabalho e o privilégio da servidão

Foto: MPT/Divulgação

Por Douglas F. Kovaleski, para Desacato. info.

No texto dessa semana iremos abordar ainda as reconfigurações do mundo do trabalho, sob o olhar do materialismo histórico, no intuito de ampliar a compreensão da realidade e, portanto compreender melhor a realidade.

O que está em jogo nesse início de milênio são as novas formas de exploração da classe trabalhadora e a complexidade que elas carregam. Complexidade, fluidez e variabilidade no contexto da globalização capazes, muitas vezes, de acobertar a concretude da exploração pelo trabalho em nome de teorias que defendem o fim da centralidade do trabalho ou da mais valia.

Temas de acalorados debates no campo do marxismo e fora dele, com autores respeitados, como Habermas, que defende o fim da centralidade do trabalho e, portanto da mais-valia, o que demandaria uma reformulação dos estudos e análises, pois segundo essa perspectiva a teoria marxista estaria desatualizada. Na “nova economia”, o capital financeiro junto do misterioso trabalho imaterial teriam alterado radicalmente a lógica da economia capitalista. Sigo, com auxílio de Ricardo Antunes e seu livro lançado, “O Privilégio da Servidão” contrário à tese do fim da centralidade do trabalho.

A classe trabalhadora segue apenas uma nova morfologia em sua aparência, pois participa intensamente da valorização do capital e da geração de mais valor nas cadeias produtivas globais. Essa valorização do capital se dá por meio da degradação das condições de vida dos trabalhadores, superexploração, informalidade, exigência de metas, rotinização do trabalho, despotismo dos chefes, exigência de metas, salários rebaixados, assédio, adoecimento e morte decorrentes da condição de trabalho e de vida que este condiciona. Há uma clara precarização do setor assalariado de serviços que se encontra em franca expansão no Brasil.

A hipótese defendida é que ao contrário da diminuição ou descompensação da lei do valor, o que vivemos é uma ampliação das formas de acumulação em novas formas de funcionamento onde o trabalho material e imaterial se desenvolvem de maneira indiferenciada na valorização do capital. Para compreender a essas afirmações é necessário entender as formas vigentes de valorização do valor que traz consigo novos mecanismos de geração de trabalho excedente ou de um correspondente na formação de valor. Processo que expulsa uma imensa multidão de trabalhadores da produção que se tornam reserva, sobrantes. Mas sobrantes que desenvolvem uma função fundamental do capital: permitir que a intensificação da exploração caminhe sem percalços, afinal na sociedade atual, ser explorado, já é um privilégio.

Com uma fila de trabalhadores ansiosos por tomar o lugar do trabalhador empregado, o grau de aceitação das condições degradantes de trabalho se amplia e os salários são rebaixados. Nesse contexto, a luta da classe trabalhadora oprimida, desorganizada e iludida se rebaixa da saúde do trabalhador para a manutenção da vida d trabalhador, ou ainda, por sua  sobrevivência.

Douglas Francisco Kovaleski é professor da Universidade Federal de Santa Catarina na área de Saúde Coletiva e militante dos movimentos socais.

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