Nota Pública – Denúncias sobre professor da Udesc

Venho por meio desta, enquanto presidenta do Diretório Acadêmico Oito de Maio – DAOM/ Gestão SANKOFA, me posicionar publicamente frente às denúncias contra um professor vinculado ao Centro de Ciências Humanas e da Educação – FAED/Udesc por assédio sexual, moral e estupro.

É preciso lembrar que antes de qualquer “cargo” do movimento estudantil, eu sou uma jovem negra, cotista, de terreiro, e sendo assim, há muito lamento frente a esses casos tão graves que nos chegaram nas últimas semanas, principalmente pelo fato de que essas denúncias se instauram entre o nosso povo.

O diretório acadêmico no qual faço parte é uma gestão de estudantes negras e negros e em sua grande maioria cotistas. O DAOM, junto dos centros acadêmicos, recebeu no inicio do mês uma série de denúncias contra esse professor. Denúncias essas que nos últimos dias vieram a se tornar públicas, por vias de mídias, notas, etc.

Acolhemos as denúncias, como representantes dos/das estudantes e encaminhamos uma solicitação à Direção Geral para que as denúncias fossem investigadas. Os ritos administrativos foram tomados.

Nesse meio tempo, convocamos uma assembleia estudantil para tornar público o caminho percorrido após as denúncias e para pensar ações em decorrência ao caso. Desde o inicio, seguimos cumprindo o nosso papel enquanto coletivo de estudantes.

O que é preciso explicitar aqui é que desde o momento em que acolhi essas denúncias, enquanto presidenta do DAOM, eu venho sofrendo ameaças com o intuito de me fazer recuar, sentir medo, me calar.

Nos últimos dias, de acadêmica presencial eu me tornei uma acadêmica em exercício domiciliar, por não me sentir mais segura no ambiente da Universidade. Eu tive que sair da minha casa, a preta que mora comigo também não se sente mais segura por lá. Estou afastada do meu Ilê (terreiro) por não me sentir segura, desde então minha rotina tem sido modificada. E eu não sou a única.

O que quero dizer com tudo isso?

Em tempos que vemos uma irmã sendo morta por lutar, por questionar esse sistema imposto, muito me faz refletir sobre esse jogo político de fazer com que nós, jovens negras/os, que questionam posições de poder (e esse poder no qual eu falo é um poder de um mundo branco, independente de quem o reproduza) sintam medo. O que fizeram de nós nesse mundo colonial? Como almejamos conquistar poder e a partir dessa conquista, reproduzir a opressão que historicamente nos mata?

Quando eu paro para pensar na minha trajetória até a jovem que eu sou hoje, eu me encontro em algumas leituras/discussões que fiz coletivamente, em roda, junto de outras mulheres negras. Nos construímos, nos repensamos e encontramos juntas partes de nós que precisavam ser cuidadas. Eu venho convidando nossos homens para fazerem o mesmo, junto de nós, para que possamos enquanto povo nos emancipar da tragédia que o colonialismo fez em nossas mentes, em nossas vidas e histórias. Quando eu digo que precisamos reagir, eu falo desse tipo de situação também.

Manter-se em silêncio frente a tudo isso, simplesmente por olhar apenas para a questão racial que nos envolve é algo que silencia mulheres negras e compactua com a violência que atinge nossos corpos e ao mesmo tempo impossibilita que homens e mulheres negras se repensem a partir da tragédia que o colonialismo nos fez. Não é sobre olhar para o homem negro e apontá-lo como inimigo, mas sim, sobre como olhar para o nosso povo e nos reconstruir sem essas amarras.

Quando dizemos que Marielle vive nas últimas semanas é sobre termos a certeza que precisamos continuar resistindo na luta. Se reproduzirmos as falas de que não vão nos parar e nem nos calar, isso é sobre entender que o silêncio faz parte da conivência com a violência. Responder “presente” quando clamam pelos nomes das nossas mulheres pretas mortas não é o bastante. É preciso agir para resguardar nossas vidas.

Com isso, acredito que nós enquanto juventude negra devemos utilizar desse momento para pensar o que podemos vir a ser de agora em diante, como podemos agir coletivamente para reconstruir nossa história que foi exterminada. Não podemos seguir trilhando os mesmos caminhos de quem assim como quem nos escravizou, segue nos oprimindo por seguir utilizando dessa máscara branca mesmo tendo sua pele negra.

Podem tentar instaurar o medo, mas nossas vozes seguem ecoando por essa geração, pelas que nos antecedem e pelas que ainda virão.

Maria Carolina

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