Natal pandêmico! Por Roberto Liebgott.

Por Roberto Antonio Liebgott. 

Celebrar o nascimento quando parece haver tão somente dor, sofrimento e morte

Refletir sobre a paz quando o ódio impõe uma dura divisão entre os humanos

Cultivar a harmonia quando tudo aponta para o egoísmo desagregador

Querer a partilha quando no mundo alguns acumulam riquezas e impõem a vulnerabilidade generalizada a todos os outros

Esperar um novo tempo quando as práticas da intolerância se intensificam e devastam as relações sociais

Preservar o sonho de um mundo habitável quando homens, suas máquinas e chamas, consomem a terra e seus filhos

Proteger a vida quando tentam nos afogar no veneno e nos dejetos de um sistema tóxico e inviável

Almejar o pão em todas as mesas quando a ordem econômica assinala que a fome é o caminho da lucratividade

Crer na possibilidade de cura das doenças quando estas são prolongadas até a exaustão

Imaginar que a ciência e a pesquisa devam estar a serviço do bem comum quando tornam-se definidoras de quem deve viver ou morrer

Acreditar nos direitos humanos e fundamentais quando estes são gerenciados por agentes estatais totalitários, imbecilizados e tutores do genocídio

Almejar o respeito às diferenças étnicas e culturais quando se impõe, como medida de estado, os fundamentalismos religiosos e os extremismos culturais

Crer na força ancestral dos povos e comunidades originárias e tradicionais quando violentam-se seus modos de ser e seus territórios

Crer no Natal do nascimento de uma nova era, quando a extinção parece ser a porta dos fundos desta humanidade

Esperar pelo fim da pandemia da Covid-19, com vacinas, quando tudo leva a crer que estas serão selecionadas, capitalizadas ou desprestigiadas

Acreditar no Natal da Vida exige que a luta seja feita agora e não depois do amanhã

Crer num outro mundo possível requer a descentralização dos saberes, da fé, das culturas e dos recursos financeiros

Lutar contra o Natal pandêmico exige o tecimento coletivo das teais, redes, movimentos e caminhos em direção ao Bem Viver

“Amar até doer”

Feliz Natal na resistência, na luta e na esperança!

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Roberto Antônio Liebgott é Missionário do Conselho Indigenista Missionário/CIMI. Formado em Filosofia e Direito.

A opinião do/a autor/a não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

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