Não quero ser uma mãe recalcada, eu preciso ser feliz pra que Aíyra seja feliz. Por Mayara Scalabrin Bergamo.

Decisões de uma mãe de primeira viagem.

Por Mayara Scalabrin Bergamo, no seu Facebook.

A vida é pra gente ser feliz.

Demorou, mas entendi. Não sei exatamente quando foi que eu cai num poço de radioatividade, mas a verdade é que de alguns anos pra cá acumulei muitas decepções, muita sujeira e esqueci de olhar pra mim. Generosa e compreensiva demais com os problemas e falhas dos outros, uma megera comigo mesma. Perfeccionista e procrastinadora, nunca satisfeita com nenhuma produção, nenhum texto, nenhuma imagem, carregando um enorme peso chamado síndrome de impostora nas costas por mais de 15 anos, rejeitando veementemente todos os bons resultados que tive, achando que foi sorte, que as pessoas estavam loucas ou que nivelavam por baixo cada vez que me davam um retorno bom. Não me permitia contradições, não me permitia fazer o possível e ficar feliz com os resultados, sempre pensando que “no dia em que eu conseguir tal coisa”, “no dia em que eu estiver de tal jeito”, “no dia em que eu morar em tal lugar”, “no dia em que eu ganhar tal dinheiro”, “no dia em que eu aprender tal coisa” eu seria minimamente realizada. Apesar de ter feito muitas coisas, esses dias nunca chegaram. Despejando toxicidade contra o espelho, fui ficando cada vez mais triste e sem encontrar saídas possíveis. Chegou 2019, engravidei. Em 2020 fiquei reclusa, estática, perdida dentro do meu próprio corpo-casa, olhando pra dentro pra tentar imaginar Aíyra, pra tentar encontrar a melhor parte de mim. No último dia do ano, a ficha caiu: não quero ser uma mãe recalcada, eu preciso ser feliz pra que Aíyra seja feliz. Crianças aprendem pelo exemplo e eu quero ser um exemplo positivo pra ela. Não adianta cuidar dela de forma exemplar, fazer as vacinas em dia, proporcionar uma introdução alimentar perfeita se eu não conseguir fazer o mais importante: me respeitar em primeiro lugar, amar esse corpo que tenho, festejar minhas habilidades novas e antigas, viver no presente com o melhor humor, encontrando alegrias diárias, sendo feliz e grata pelas coisas que tenho e que sou hoje. Eu mereço ser feliz, Aíyra merece ter uma mãe feliz pra que ela saiba o que é a felicidade, pra que busque e encontre a sua própria maneira de ser feliz. Sei que tenho um longo caminho pela frente, afinal, “pra baixo todo santo ajuda”, inclusive no campo energético. E é muito fácil cair nessa fossa radioativa quando se mora num país machista, racista, sem consciência de classe, governado por um miliciano e em plena pandemia. Mas meu compromisso, agora, é com a felicidade. A generosidade dedicada aos outros continuará existindo, mas agora com alguns limites. Se não me faz bem, passo. Se me deixa exaurida emocionalmente, passo. Se me suga a vontade de viver, passo. Se não me faz rir, se não me deixa alegre, se não acrescenta nada de positivo, passo bem longe. Antes eu achava que isso era egoísmo e me julgava severamente. Hoje eu sei que é a forma mais importante do autocuidado e do exemplo que quero ser pra minha filha. Hoje começo, à passos de bebê, a trilhar o caminho da felicidade.

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