Nação guarani: Os Estados não nos querem

encuentroO sentimento expresso pelos guarani no segundo dia do IV Encontro Continental é uma constatação de que não há espaço para esse povo nos Estados Nacionais. Os Estados os tratam como estrangeiros, desconsiderando sua territorialidade que é anterior a existências dos respectivos Estados, reconhecida nas leis nacionais e internacionais, mas não aplicada nas políticas públicas. Essa constatação do não lugar para os Guarani nos Estados Nacionais se expressa nos inúmeros casos de assassinatos que estão ocorrendo, especialmente no Mato Grosso do Sul; no não reconhecimento das terras e na invasão de seus territórios por petroleiras, hidrelétricas, estradas e inúmeros outros projetos do chamado desenvolvimento.

O representante guarani que vive na Bolívia, Celso Padilha, observou que a luta do povo Guarani é por terra, “porque sem a terra não há liberdade, sem a terra não há autonomia, sem a terra não há educação e sem a terra vamos morrer de fome”. Para esse representante, os governos dos diferentes Estados estão submissos aos fazendeiros, ao agronegócio, aos interesses das grandes corporações de petróleo e energia, não admitindo os direitos territoriais Guarani, as formas próprias do povo considerando-os “rebeldes” por não se submeterem a esses setores, não se deixando converter em peões. Afirmou que “somos rebeldes porque somos livres, queremos garantir nossa Yvy mara´ey, nossa terra sem males, que é nosso território onde temos espaços para nossas atividades, onde sobrevivemos em sintonia com o meio ambiente, onde buscamos remédio para nossas doenças”.

Mauricio Gonçalves, falou em nome dos Mbya que vivem no Brasil. Reforçou as palavras de Padilha ao observar que para o povo guarani “não existe fronteira, não queremos nem cerca de fazendas nem cercas dos Estados, queremos a garantia de nossas terras e o livre transito por nosso território”.

O território guarani que se estende nas terras baixas do Cone Sul da América, desde Bolívia até o litoral brasileiro, foi dividido em pelo menos, 5 (cinco) Estados: Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai. As fronteiras foram criadas e recriadas por diferentes interesses dos impérios coloniais e posteriormente pelos estados independentes sem nunca ter sido considerada a presença e os direitos dos Guarani.

Breve histórico

O primeiro encontro continental foi organizado em 2006, em São Gabriel (RS), em memória da luta e resistência dos Guarani missioneiros que defenderam seu território enfrentando os exércitos de Espanha e Portugal, em meados do século XVIII.

Em 2007, focado na dimensão territorial, ocorreu o segundo encontro na cidade de Porto Alegre (RS).
Em 2010, ocorreu o terceiro encontro, na cidade de Assunção capital do Paraguai, sob o tema da superação das fronteiras e organização política. Nesse encontro foi criado o Conselho Continental da Nação Guarani – CCNAGUA, organização que pretende ser um elo de força e união desse povo nas diferentes regiões.

Tekoa Ka’akupe, 22 de setembro de 2015

Fonte: CIMI

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