Na luta contra o preconceito

Por  Marcela Cornelli*.  

A luta contra o preconceito, contra a homofobia, o machismo e pelo respeito à diversidade deve ser todos os dias. Porém, algumas datas ajudam a marcar na sociedade esse debate, que é delegado ao segundo plano muitas vezes pelos movimentos sociais e sindicatos. Por isso, no dia 29 de agosto – Dia da Visibilidade Lésbica – o Sindes, sindicato dos trabalhadores em sindicatos de Florianópolis e da Região Sul, exibiu o documentário Sou Mulher, Sou Brasileira, sou Lésbica do cineasta e diretor Vagner de Almeida.

Com o apoio do Sindprevs/SC, o Sindes trouxe a Florianópolis o premiado diretor que, após a exibição do filme participou de uma mesa de debates. Para ajudar na discussão desse importante tema também compôs a mesa Maria Gulhermina Cunha Salasário, nova presidenta da Associação em Defesa dos Direitos Humanos com Enfoque na Sexualidade-Fpolis/SC – ADEH, Coordenadora da Região Sul da Articulação Brasileira de Lésbicas-ABL, Secretária adjunta da Associação Brasileira LGBT – ABGLT e membro  do Conselho dos Direitos da Mulher – COMDIM/Fpolis.

O evento teve um público diversificado formado por estudantes, sindicalistas, sindicatários e militantes da sociedade civil. O Dia da Visibilidade Lésbica marca a luta contra a homofobia e contra o machismo em todo o País.

O documentário Sou Mulher, Sou Brasileira, sou Lésbica trata da vida de mulheres brasileiras e seus enfrentamentos na nossa sociedade lesbofóbica e racista. Mulheres essas, que ainda vivem à margem da sociedade e necessitam com muita força e coragem desvendar-se todos os dias. A força desse filme documentário está nas falas, nas vozes dessas mulheres – lindas, fortes, poderosas, honestas, guerreiras, mães, filhas, tias, avós, amantes, parceiras e militantes. Elas mostram o que é ser lésbica no Brasil. Ensinam a enfrentar a discriminação e os desafios que precisam encarar para construírem vidas dignas e corajosas em uma sociedade recheada de estigmas e intolerâncias. Muitas mulheres homossexuais ou bissexuais sofrem com a enorme ocorrência de estupros corretivos, preconceito e humilhações. Os estupros visam mudar a orientação sexual de mulheres que gostam de se relacionar com outras mulheres.

“É preciso aprender a conviver com as diferenças”

Maria Guilhermina Cunha Salasário falou sobre a importância da data e de se fazer essa discussão em Santa Catarina. “A data mostra que existem lésbicas sim. Temos muitos deveres, mas nossos direitos são suprimidos pela sociedade”. Guilhermina ponderou que vivemos em uma sociedade machista, onde nos ensinam a oprimir e combater os menos fortes. “É preciso aprender a conviver com as diferenças”, defendeu.

“As crianças não nascem com preconceito”

O Diretor Vagner de Almeida lembrou que as crianças não nascem com preconceitos e é a sociedade que as ensina. Ele contou que para a produção do documentário entrevistou 534 mulheres, na sua maioria militantes em direitos humanos, lideranças de comunidades empobrecidas e até mesmo pessoas famosas, mas que somente algumas quiseram aparecer no vídeo. Disse que o local onde as mulheres lésbicas sofrem maior opressão, assim como as mulheres em geral sofrem com a violência, é dentro das suas próprias casas. E que a ideia do documentário foi trazer essa discussão para toda a sociedade. Ele afirmou que foi muito difícil produzir o documentário devido à falta de incentivo para a produção de vídeos como esse no Brasil, tendo que contar com dinheiro próprio e contribuições de pessoas que acreditaram no projeto.

Maria Guilhermina lembrou também que o Brasil avançou muito pouco em relação a questões como a união civil e a adoção de filhos por casais homossexuais. Lembrou ainda da importância do PLC 122 que tramita no Congresso Nacional e criminaliza a homofobia. Um importante projeto que precisa ser abraçado por todos.

Por acreditar que a construção de uma nova sociedade mais justa e igualitária passa também pelo fim de qualquer tipo de preconceito, o Sindes avalia como positivo o evento. Não é possível que os sindicatos e os movimentos sociais deixem de lado esse debate. Esta luta deve ser de todos!

* Jornalista, diretora do Sindes e membro da CpCC.

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