Na disputa de Bolsonaro e Doria os trabalhadores que sofrem com a pandemia

Foto: Reprodução do Twitter

Felipe Guarnieri.

Conforme os últimos dados divulgados pelo consórcio de veículos de imprensa, o Brasil atingiu 200.011 mortes da COVID-19. Os dados são obtidos através dos números repassados pelas secretarias estaduais de Saúde. Além disso, a média móvel de mortes atingiu a maior alta desde 24 de dezembro, registrando no período de 14 dias, 723 óbitos, tendo como parâmetro a análise do último dia 05/01. Nas últimas 48 horas foram constatadas mais de 2.000 mortes.

Ainda que os casos confirmados tenham apresentado em 14 dias uma queda na variação da média em 30%, gerando uma tendência de estabilização nas taxas de diagnósticos do próximo período, o fato é que o país já possui 7.921.803 casos confirmados da doença. O Brasil está na lista dos 10 países que mais sofrem com a COVID-19, ficando atrás em números de mortes per capita (a partir de 100 mil habitantes) apenas de Peru, Bélgica e Bolívia, respectivamente.

Qualquer tendência ou hipótese a ser desenvolvida, a partir desses dados, não pode ser feita sem levar em consideração a situação alarmante do sistema de saúde no país, em particular o SUS, alvo constante de ataques de privatizações nos últimos anos e ameaçado de extinção de forma permanente pelo Governo Bolsonaro.
Segundo levantamento realizado pelo Observatório Fiocruz Covid-19, no Brasil pelo menos 7 capitais possuem uma taxa de ocupação dos leitos em UTI superior a 80%. Sendo que o considerado ideal seria abaixo dos 70%. São elas, respectivamente, Curitiba (94%), Macapá (92,2%), Rio de Janeiro (92%), Vitória (91,5%), Porto Alegre (88,7%), Manaus (86%), e Florianópolis (83%). Ainda, acima dos 70%, configuram mais 3 capitais no mapa, Fortaleza (78,7%), Belém (78,3%) e Campo Grande (76,1%).

Apesar de São Paulo apresentar uma taxa de ocupação inferior aos 70% nos hospitais municipais, estaduais e na rede privada, a capital também registra o aumento geral de número de internações como as demais cidades, chegando a uma média de mais de 700 por dia. Na Grande São Paulo, a situação ainda é mais grave, conforme os dados fornecidos pelas secretarias dos municípios de Guarulhos e Embu das Artes, cinco hospitais já registram ocupação de 100% nos seus leitos de UTI, elevando a média de ocupação a 63% na região. Na Zona Sul da capital, também há exemplos de hospitais que já chegaram a 100% de ocupação dos seus leitos, como é o caso dos hospitais municipais da Vila Santa Catarina e da Santa Casa de Santo Amaro.

Doria e Covas fecharam os hospitais de campanha, não há contratações de novos médicos, diversos hospitais fechados e a estrutura da saúde pública segue precária diante a demanda cada vez maior das internações.

Diante desse cenário, são as trabalhadoras e trabalhadores, e os setores Definir imagem destacadamais pobres, que sofrem e vivem em situações desesperadoras, por conta da irracionalidade do capitalismo. Uma expressão do contexto internacional, muito bem desenvolvido no recente artigo de Claudia Cinatti, publicado pelo LID (La Izquierda Diário- Argentina, traduzido em português). Nesse artigo, Claudia, aborda como o início do plano de imunização possuirá várias contradições fruto das tensões geopolíticas criadas desde a crise de 2008, onde a ganância imperialista irá transformar as vidas de bilhões em mercadoria e em lucro.

No Brasil, essas tensões ainda são mais graves, já que se trata de um governo de extrema direita, que se esforça diariamente para ser mais irracional do que o próprio capitalismo, sem negar o seu modo de produção. Como uma tentativa de romper pela direita a degradada ordem institucional, desde o golpe em 2016. Por trás, do negacionismo presente cotidianamente na indústria das Fake News, que enchem as redes sociais diariamente, com manchetes que variam desde “os chips comunistas” até a “mutação humana em jacaré”, o fato é que o Governo Federal atuou meses no sentido contrário de implementação de qualquer plano de vacinação. Mais ainda, nem seringas atualmente o Brasil dispõe atualmente pela falta de planejamento e da especulação capitalista.

No seu último pronunciamento, Pazuello negou essas informações, responsabilizando a mídia, porém, foi questionado por Lewandowski que mandou o ministro comprovar os estoques de seringas e agulhas. O discurso do ministro da Saúde tem um sentido mais profundo ao expressar um recuo do Governo Bolsonaro, que ontem a noite (06/01) anunciou a MP que garantia a liberação das compras da vacina Corona Vac, após no mês de outubro Bolsonaro declarar que era contrário à vacina. O fato é que mesmo com todo negacionismo do governo federal, mais de 73% da população declarou que quer a vacinação, e o anúncio da compra – ainda não confirmada – de 46 milhões de doses da Corona Vac até abril e outras 54 milhões depois, só se deu agora por conta da disputa entre Bolsonaro e Doria visando as eleições de 2022. Enquanto, Bolsonaro e Dória disputam quem lança primeiro o plano de vacinação, depois de meses de atraso, são os trabalhadores que sofrem com a pandemia.

Se Bolsonaro conseguiu ascender ao poder fruto de um golpe institucional, o mesmo continua no poder – apesar das rusgas diárias com Rodrigo Maia e o Congresso Nacional, e parte importante da mídia burguesa – pelo pacto e agenda econômica neoliberal de reformas e privatizações, defendida por ele e Paulo Guedes. Os arquivamentos dos processos de impeachment demonstram o acordo existente entre essas duas alas bonapartistas do regime para massacrar a classe operária e manter intacto os lucros burgueses.

Paralelamente a isso, os trabalhadores, que pagam a conta, são responsabilizados pela crise sanitária. A “oposição institucional” a Bolsonaro, os governadores e o chamado centrão (bloco de partidos da direita burguesa tradicional no Congresso nacional), após garantir as eleições burguesas (período que já era visível uma tendência de aumento de casos) consolidando seu fortalecimento, novamente voltaram a decretar “lockdown” em alguns estados, mas sem nenhuma condição para os trabalhadores ficarem em casa e se protegerem. Não é verdade que funcionou apenas os serviços essenciais. Para manter o lucro dos distintos setores burgueses, foram necessários milhões de trabalhadores, principalmente em empregos precários e terceirizados, como entregadores de aplicativo e trabalhadoras da limpeza, que foram obrigados a todo dia ter que se esmagar em transportes lotados, em longas horas de trajeto pela cidade, pois ficar em casa não era uma opção, ainda mais sem auxílio emergencial.

Em São Paulo, onde o governador Doria tenta usar como vitrine para 2022, o seu correligionário Covas no Município, não teve pudor e nenhum constrangimento junto aos seus aliados na câmara municipal, e com uma canetada promoveu um aumento de mais de 15 mil reais em seu salário, e acima de 45% aos seus respectivos secretários, na mesma semana que retiraram a gratuidade dos idosos no transporte público.

Enquanto, o que se via na mídia burguesa nesse final de ano, como a Rede Globo, o discurso ideológico de condenação moral e social de trabalhadores, responsabilizando os indivíduos que saíssem às ruas, ou fossem viajar, quase “como assassinos em potencial”. Um trabalhador, o mesmo que foi obrigado a se expor cotidianamente ao longo do ano, que conseguiu minimamente alguns dias de folga, e algum dinheiro para fazer alguma coisa no final de ano, foi tratado como igual ao egoísmo da classe média alta e dos setores mais altos da burguesia com as suas festas luxuosas, patrocinadas pelas grandes empresas, com aglomeração e muito dinheiro. Entre Praia Grande e Mangaratiba, os condenados à miséria e a exposição foram os trabalhadores, e não o capitalismo.

Já o PT, após derrotas nas eleições municipais, segue sua política no espectro da centro-esquerda, no entanto, fortalecendo os setores da direita em busca de ser uma ala dentro das instituições carcomidas pelo golpe. A decisão do partido, junto com o PCdoB e o PSB, ao anunciar em conjunto o apoio a Baleia Rossi, candidato de Maia a futura presidência no Congresso Nacional, é mais uma amostra de traição, seguida pelos seus respectivos dirigentes nas Centrais Sindicais.

Baleia Rossi, apoiador do golpe institucional, entusiasta das reformas neoliberais, como a lei da terceirização, a reforma trabalhista, e a recente reforma da previdência, será o candidato da “oposição institucional”, naquilo que foi chamado a aliança entre o centro e a esquerda democrática. Onde não está descartada a presença do próprio PSOL dentro deste bloco, já que apesar de dividido, a sua própria líder na Câmara, Samia Bonfim, já sinalizou defender internamente o apoio ao candidato do MDB. Demonstrando mais uma vez a adaptação do partido, como já havia se demonstrado nas eleições, ao querer administrar o regime do golpe, junto com partidos burgueses, seguindo o caminho do próprio PT.

E se alguém, tinha alguma dúvida sobre o caráter dessa composição, o golpista Temer, fez questão de esclarecer diretamente a Bolsonaro, ao afirmar que a candidatura de Baleia Rossi, do seu partido, não é um sinal necessariamente de oposição do Congresso Nacional ao Governo Federal.

A crise sanitária e as vidas de milhões dependem de uma saída independente dos trabalhadores. Não é se aliando com a direita tradicional, e sua falaciosa e demagógica política que será possível derrotar Bolsonaro e seu negacionismo. A burocracia sindical, como parte dessa mesma política de suas direções, permanece neutralizando a luta de classes, e ao invés de mobilizar, segue pacificando esse terreno, camuflado pelo “Fique em casa”, enquanto milhares de trabalhadores são obrigados a ter que trabalhar e se expor se não morrem de fome.

É preciso defender a revogação imediata da reforma da previdência e trabalhista, um plano de combate a pandemia que inclua a proibição das demissões, a renda emergencial no valor da média salarial das famílias trabalhadoras antes da pandemia, R$ 2 mil, testes massivos para organizar racionalmente a quarentena, contratação de profissionais de saúde e para todos os serviços essenciais. Perdão das dívidas e crédito barato aos pequenos comerciantes e trabalhadores autônomos. E para liberar verba e colocar em prática todas essas medidas de combate a pandemia, defender a anulação da lei de responsabilidade fiscal e do teto dos gastos que comprimem o orçamento público para pagar a fraudulenta dívida pública.

Somente através da mobilização e com um programa independente, sem nenhuma negociação com os setores que atacam os trabalhadores, combinando a atuação na Câmara com a organização dos trabalhadores dentro de um polo de esquerda com independência de classe, na base de cada categoria, com assembleias presenciais e virtuais, que será possível barrar os ataques, a extrema direita e combater o regime político do golpe.

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