Mulheres negras denunciam nas ruas o racismo por trás de pautas do governo Bolsonaro

Movimento autônomo afirma que pacote "anticrime" e reforma da Previdência vão impactar mais na vida da população preta.

Foto: Rute Pina

Por Rute Pina.

Com nove grandes temas e reivindicações, mulheres negras fizeram um ato na contra o racismo em São Paulo (SP) nesta quinta-feira (25), Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha.

A 4ª Marcha das Mulheres Negras de São Paulo percorreu ruas do centro da capital paulista com o mote “sem violência, racismo, discriminação e fome! Com dignidade, educação, trabalho, aposentadoria e saúde!”.

As mulheres foram puxadas pelo bloco afro Ilú Oba de Min e fizeram trajeto até o Largo do Paissandú, onde encerraram a manifestação na frente da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos.

Entre as diversas pautas, elas pontuaram os impactos da reforma da Previdência para as mulheres negras e ressaltaram como uma “política racista” o pacote anticrime do ministro da justiça Sérgio Moro. Além pontuar luta pela extinção do feminicídioLGBTfobia, mortalidade materna, violência obstétrica e racismo religioso e ambiental.

A sambista e deputada estadual Leci Brandão (PCdoB) nota que o slogan deste ano da marcha é grande. Segundo ela, porque as mulheres negras são as primeiras a sentirem as políticas impopulares.

“Quando a gente olha o manifesto, a gente observa que aumentou os tópicos porque aumentou o sofrimento, a demanda, as injustiças”, disse a deputada. “Todo mundo sabe que, quando o bicho pega e tudo fica ruim, a coisa fica pior para a mulher negra.”

Outro tema inserido neste ano pela marcha é a volta da fome, que, segundo o manifesto, vitima principalmente mulheres negras empobrecidas pelo país. Nesta semana, o presidente Jair Bolsonaro negou que exista fome no país.

A ativista Neon Cunha integrar afirmou que a marcha é também o momento de centralizar as demandas das periferias das grandes cidades. “As mulheres encarceradas, as mulheres que estão recolhendo lixo, as domésticas, as invisíveis; e mais do que isso,  as mulheres que movimentam as nossas periferias, as faveladas, as mães das vítimas do Estado, que movem a estrutura dessa sociedade”, afirmou.

Veterana do movimento negro, Regina do Movimento Negro Unificado (MNU) afirmou que, desde a década de 1970, as entidades pautam a “tríplice exploração e discriminação da mulher negra”. “Nós chamamos à luta contra o feminicídio porque são as nossas mulheres, jovens e negras, que estão morrendo”, assevera.

Já a escritora Nilma Bentes, uma fundadoras do Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará, falou sobre a importância do reconhecimento da negritude pelas jovens: “As mulheres negras que estão fazendo uma revolução com seus crespos estão, de fato, fazendo uma descolonização da rebeldia. O que o colonizador queria e quer é que a gente se sinta inferior e não avance. Ao a gente assumir a nossa negritude de uma forma digna e ir para luta de forma equitativa, estamos alterando a rebeldia.”

À frente da marcha, um bloco das religiões de matrizes africanas explicitou as formas de atuação do racismo religioso. A ialorixá (mãe de santo) Claudia Rosa, da Rede Nacional de Religiões Afro-brasileira e Saúde, diz que a luta da religiões de matrizes africanas é contra a intolerância.

“Tudo o que está acontecendo com nossas religiões não é porque cultuamos os orixás. Toda a intolerância e racismo vem pelo fato que essa é uma religião vinda dos negros, que veio nos navios, veio acorrentada”, explica.

No ato, a prisão da liderança Preta Ferreira e outros militantes do movimento de moradia também foi lembrada nas falas políticas durante o ato. Ela foi presa há um mês, no dia 24 de junho.

Além da capital paulista, a marcha desta quinta ocorreu em Salvador e Belém. A data também celebra o Dia Nacional de Teresa de Benguela, líder quilombola que organizou a resistência à escravidão, no século 18. No Rio de Janeiro, a mobilização ocorre no domingo (28).

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