Mulamba, uma banda que toca para outras mulheres serem ouvidas

Grupo de instrumentos de cordas e percussão usa a música para difundir informações sobre temas relevantes que precisam de ‘voz, espaço e respeito’

Mulamba é uma banda curitibana que traz temas contundentes e letras intensas – elementos normalmente associados ao rock. Somadas a vozes dissonantes e contrapondo-as à sonoridade poética da MPB, suas músicas  nos chegam como um grito de força e nos tocam as entranhas.

Para Fer Koppe, uma das integrantes, é só a partir do momento em que assuntos são pautados é que viram reflexão. “Enxergamos a música como um mecanismo universal que tem o poder de difundir uma bagagem informativa relacionada a qualquer tema que necessita de voz, espaço e respeito”.

Munidas de instrumentos de cordas e percussão, Amanda Pacífico (voz), Cacau de Sá (voz), Caro Pisco (bateria), Fer Koppe (violoncelo), Naira Debértolis (baixo) e Nat Fragoso (guitarra) estão juntas desde dezembro de 2015.

A banda, que se formou com o propósito inicial de fazer um tributo a Cassia Eller, alcançou com o clipe de “P.U.T.A.”, música autoral, mais de 700 mil visualizações e 15 mil compartilhamentos.

“Depois da viralização do clipe, percebemos que tem muita gente querendo ser ouvida e tentamos sempre traduzir esses anseios por meio da música”, diz Fer, que completa afirmando que “queremos gerar cada vez mais discussão, porque a informação é o que, de fato, pode provocar transformação”.

Ainda assim, quando questionada sobre espaços no cenário musical para bandas femininas, Amanda desabafa: “Ainda percebemos resistência do mercado mainstream em abrir espaço para essa cena e promover a diversidade de vozes. Isso inclui a indústria fonográfica e também passa por outras esferas, como a grande imprensa”. Ela ainda diz haver, em muitos casos, uma desvalorização no potencial feminino enquanto artista, “como se estivéssemos despreparadas tecnicamente para assumir papéis profissionais”.

Profissionais femininas da indústria musical se juntaram para contrapor esse estereótipo e promover iniciativas que criem espaço feminino dentro da cena. O Women’s Music Event, por exemplo, segundo a própria organização, surgiu para “destacar a participação e promover a inclusão da mulher no mercado da música, um setor ainda muito associado ao universo masculino”. O site funciona como um banco de profissionais femininas na música, como técnicas de som, técnicas de iluminação, produtoras musicas e culturais. Para aparecer na listagem é preciso que a própria profissional se cadastre.

No entanto, Naira ressalta que a barreira ocorre também em outros setores, “Isso já está enraizado na sociedade e é algo naturalizado, mas, felizmente, nosso trabalho tem encontrado uma boa receptividade entre públicos diferentes”.

Por falar em estereótipos, Cacau nos conta que a escolha do nome se deu na intenção de ressignificar a palavra “mulamba”, que segundo o dicionário é uma pessoa desleixada, feia, desarrumada, mal cheirosa que sai de casa toda esculhambada, ou seja, uma mulamba. “Entendemos que a nossa visão quebra esse entendimento pejorativo, estereotipado do ponto de vista da sociedade patriarcal na qual estamos inseridas, e ressignifica a palavra para demonstrar força e protagonismo”. E ainda incentiva, “Não se pode ter medo de desconstruir todos os nossos preconceitos e expor essa figura de uma forma genuína. Devemos assumir o nosso discurso, sem ter medo de nos refazermos”.

Recentemente a Mulamba foi selecionada, entre outras nove bandas, para tocar no Open Mic do Vento Festival – “inclusive, tem como idealizadora um mulher incrível, a Ana Penteado”, diz Caro. “Essa conquista representa um grande passo para nós, por ter voz em um dos principais festivais nacionais e estar ao lado de artistas que admiramos muito”.

Elas ainda foram presenteadas com a fração de um álbum pelo estúdio da Red Bull Station, que tem previsão para acontecer até o fim do ano. Também estão com shows em São Paulo e Paraná, além de presença confirmada no festival Subtropikal em Curitiba.

“Estamos recebendo muito apoio para continuar na nossa trajetória e queremos incentivar outras mulheres a batalhar pelo que acreditam”, conta Naira.

Para isso, elas perceberam que têm um papel importante na formação de outras mulheres desde cedo e participarão do Girls Rock Camp Curitiba, um projeto internacional com grande reconhecimento (nós contamos como foi a edição de São Paulo aqui). “Sempre que possível buscamos contribuir com projetos como o Girls Rock Camp, que têm extrema relevância para disseminar a independência e a valorização das mulheres”, finaliza Amanda.

Fonte: AzMina.

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