Mudança climática

Cronopiando, por Koldo Campos Sagaseta, País Basco.

Se eu lhes contasse que, depois de 50 anos fumando 40 cigarros por dia, o médico que me trata o enfisema me recomendou reduzir a 20 cigarros durante os dois próximos anos a ingestão diária de monóxido de carbono, alcatrão, amônio e outras das muitas porcarias químicas que carrega um cigarro… que pensariam vocês desse médico?

Que credibilidade mereceria um médico que frente a tal quadro clínico, receitara a seu paciente reduzir a metade de emissão de nicotina ao seu cérebro?

Se estamos envenenando nosso organismo a única possível solução é deixar de fazê-lo e tratar de recuperar nossa saúde.

Já ninguém se atreve a negar a mudança climática quando suas consequências são demasiadamente óbvias como para discutir, mas, seguimos “fumando-nos” um estilo de vida letal, depredador. O planeta se corta como seda por todas suas costuras, o ar se torna irrespirável e o câncer é tão cotidiano como o plástico ou o carro.

Nestes dias, Paris recebia outra cúpula mais sobre a mudança climática. Os mesmos expertos, os mesmos diagnósticos e, o que é pior, os mesmos resultados. A de Paris culminou em festa e nenhum dirigente da ordem que rege o mundo faltou à cúpula para deixar-nos alguma bela e otimista cita sobre acordos alcançados que não demandam responsabilidades, pactos que não exigem obrigações, e compromissos para cujo descumprimento também não haverá sanção. Devemos nos seguir envenenando, mas, um pouquinho menos, para morrermos mais devagar e agonizar mais tempo. Talvez, cinco cigarros diários foram suficientes. Só a ambição humana é maior que sua estupidez.

Versão em português: Raul Fitipaldi, de América Latina – Traduções, para Desacato.info

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