MST forma técnicos que contribuirão em produção agroecológica na Venezuela

Por Catiana de Medeiros.

Daniel Victor da Silva, militante Sem Terra da cidade de Ronda Alta, e Ricardo Volpi, filho de assentados da reforma agrária em Pontão, no Norte do Rio Grande do Sul, embarcam no próximo dia 15 de novembro para a Venezuela.

A missão dos jovens, ambos de 18 anos, é ajudar os camponeses a desenvolverem a produção agroecológica no país, a partir do aprendizado adquirido em Técnico em Agropecuária com habilitação em Agroecologia, na modalidade integrada ao Ensino Médio. O curso é oferecido pelo Instituto Educar, uma escola construída pelo MST na antiga fazenda Annoni, e formou sua 6ª turma no último sábado (29).

“Para a nossa juventude é um grande sonho colocar em prática o que aprendemos nas escolas do Movimento em outros lugares, para além dos assentamentos e acampamentos, e construir um mundo diferente. Nós vamos contribuir na Venezuela com a formação política, técnica e organizativa dos camponeses, a fim de ajudá-los a superar os momentos de crises no país. Mas lá, muito mais que ensinar, nós vamos aprender”, afirma Daniel.

Os jovens devem permanecer dois anos na Venezuela, onde também vão desenvolver sementes agroecológicas a partir das experiências de produção da Bionatur, cooperativa fundada há 20 anos pelo MST em Candiota, na Campanha gaúcha.

“Ajudar os camponeses a chegarem mais perto da soberania alimentar será uma experiência muito importante para nós. Levaremos também a nossa forma de organização, que envolve desde a base até as direções”, explica Ricardo.

A missão dos técnicos recém-formados é fruto da relação internacionalista que o MST construiu com países latino-americanos e do aprendizado adquirido em quase quatro anos de curso, oferecido desde 2005 pelo Instituto Educar, em parceria com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) – Campus Sertão.

Conforme a assentada Salete Campigotto, coordenadora do Educar, o papel da escola é preparar seus educandos para o trabalho no campo, mas também para a vida. É por este motivo que outros alunos que se formaram técnicos em agropecuária, junto ao ensino médio, já compartilharam o aprendizado adquirido durante o curso em outros países da América Latina.

“Ricardo e Daniel vão à Venezuela ensinar e aprender. Eles saem daqui preparados para os desafios que vão encontrar pela frente. A volta deles será para qualificar o processo da escola e do Movimento. Nossa expectativa é que, assim como eles, todos os nossos alunos continuem a luta por seus direitos e busquem conhecimento para ser socializado”, aponta a coordenadora.

A formatura e o curso

Daniel e Ricardo, junto a 14 colegas ligados ao MST, Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e Movimento das Mulheres Camponesas (MMC) receberam, simbolicamente, os certificados de conclusão de curso pelo Instituto Educar no último sábado. No mesmo dia foram celebrados os 31 anos da ocupação da antiga Fazenda Annoni. Os jovens formandos têm identidade chavista: o nome escolhido para a turma é Hugo Chávez, em homenagem ao ex-presidente da Venezuela.

“Escolhemos o nome em 2014, pouco tempo depois da morte de Hugo Chávez. Nos identificamos muito com ele e com essa ideia de revolucionar a América Latina, porque este é o espírito da nossa turma”, argumenta Ricardo. Ele, ao retornar para o Brasil, assim como Daniel, pretende ingressar no curso superior de Agronomia, que também é oferecido pelo Instituto Educar em parceria com a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS).

Salete explica que o curso contém mais de 70 disciplinas entre o Ensino Médio e Técnico em Agropecuária, tem duração de aproximadamente quatro anos e funciona em regime de alternância. “São duas etapas de tempo escola e duas de tempo comunidade ao ano, além do período de estágio. É um curso que promove a agroecologia e ajuda a pensar uma sociedade mais humana, justa e fraterna”, completa.

Os educadores relacionam os conteúdos de cada disciplina para que o aprendizado, que é construído coletivamente, possa ser aplicado nas diferentes áreas do ensino. É com este objetivo que eles também estudam o funcionamento da sociedade e a história da agricultura.

“A matemática, por exemplo, é aplicada na agroecologia quando se faz uma análise de solo. Mas, mais que isso, eles aprendem a importância da produção de alimentos saudáveis e porque o sistema capitalista visa apenas o lucro e a qualquer preço. Eles entendem que, além de produzir e do cuidado com a terra, precisamos fazer cultura, educação e saúde”, acrescenta Salete.

Ao todo, mais de 300 pessoas já se formaram no curso integrado. As cinco primeiras turmas estavam conveniadas ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), através do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera). Já a turma Hugo Chávez, de Ricardo e Daniel, foi mantida unicamente pelos Sem Terras, que, por meio da organização e produção de seus assentamentos, garantiu alimentação, hospedagem, materiais didáticos e professores para todos os educandos.

“O MST tinha duas opções: enviar a nossa turma para fazer o curso em Sertão e transformá-la em capataz ou peão de fazenda, ou bancar, com poucos recursos financeiros, todos os alunos, mantendo-os perto da organização. A decisão do Movimento foi criar as condições para que pudéssemos concluir o curso aqui no Instituto Educar. Hoje, quem fez estágio em cooperativas já recebeu propostas de trabalho, o pessoal pergunta se eles não querem ficar”, relata Daniel.

Fonte: MST.

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