Movimentos sociais protestam contra Feira da Morte de Israel em SP

Moradores de comunidades do Rio de Janeiro e do MTST se juntaram a ativistas de defesa da Palestina

Por Lúcia Rodrigues, Ibraspal.

Moradores de comunidades do Rio de Janeiro e sem teto do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) se somaram a ativistas de defesa da Palestina, nesta terça-feira, 10, em frente ao Hotel Transamérica, na zona sul de São Paulo, para protestar contra a Laad Security, popularmente conhecida como Feira da Morte de Israel, por promover a venda de armamentos e outros equipamentos de repressão.

O armamento testado contra os palestinos em Gaza e na Cisjordânia é difundido pelo mundo. O Brasil está entre os cinco maiores importadores de tecnologia militar israelense, explica a coordenadora da Frente Palestina, Soraya Misleh. “Os caveirões que invadem os morros e comunidades do Rio de Janeiro são israelenses, as armas que matam nas periferias do Rio de Janeiro são israelenses. Por isso, é fundamental nossas conexão.”

Gisele Martins, moradora da comunidade da Maré e da Campanha Caveirão, Não!, conhece de perto essa realidade. Ela foi uma das pessoas que lotaram um ônibus que partiu do Rio de Janeiro para participar da manifestação contra a Feira da Morte. “Nós viemos protestar contra aquilo que nos mata. Nossas favelas estão cada vez mais militarizadas, com tanques de guerra, caveirão, diversas formas de controle. A gente não podia deixar de vir protestar contra uma feira dessas, que significa pra gente a nossa própria morte”, enfatiza.

Morador do Morro da Coroa e membro da Rede de Comunidades Contra a Violência, Luciano Norberto dos Santos, também fez questão de vir a São Paulo para protestar por direitos. “Tão gastando muito dinheiro com armamento, com blindados e esquecem da educação, que é o principal. Nossas crianças deveriam estar na escola e não sendo assassinadas.”

Todos que se revezaram ao microfone foram categóricos em afirmar que a intervenção militar no Rio de Janeiro é uma violência contra os pobres que moram nos morros e favelas cariocas. Eles denunciaram que a intervenção tira inclusive o acesso a direitos básicos como o fornecimento da energia nas casas das comunidades em que há operações militares.

A população relata ter ficado vários dias sem luz e isso causa inclusive prejuízo financeiro com a perda de alimentos que são guardados nas geladeiras. Muitos têm o ganha-pão afetado por trabalharem como camelôs vendendo produtos comestíveis.

“É importante mostrar para a população o que estão fazendo com a gente. Eles trazem armamento pra cá e nos assassinam. Por que não fazem uma indústria do livro? A indústria do armamento é para matar, destruir. Por isso a gente é contra essa Feira” ressalta o militante do MTST e do Povo Sem Medo, Marcelo Lima.

O MTST enviou vários militantes para o protesto. Assim como os moradores das comunidades no Rio, os sem teto são uma das principais vítimas da repressão nas cidades. Eles sabem que as bombas e blindados que são usados contra eles nas manifestações por moradia são importadas de Israel.

“Por isso, a conexão entre os movimentos é fundamental. A nossa luta é uma só. É internacional. Não se vai acabar com o genocídio do povo pobre e negro nas periferias aqui e o apartheid e a ocupação na Palestina se não se lutar contra esse sistema que está nos matando, que permite uma feira dessas no Brasil, para vender tecnologia militar israeense”, critica Soraya.

“Nossas lutas estão conectadas, porque nossos opressores também estão conectados”, frisa Pedro Charbel, coordenador do movimento BDS (Boicote, Desinvestimentos e Sanções) contra Israel. “O movimento de boicote a Israel é uma ferramenta de solidariedade com a Palestina, mas também é uma ferramenta local de luta, porque nossas lutas estão conectadas. Porque quando a gente boicota uma empresa israelense de segurança militar, isso não só colabora com a solidariedade ao povo palestino, mas acaba colaborando com a luta contra a militarização aqui no Brasil. Por isso, é importante denunciar a Feira da Morte”, conclui.

Em sua página na internet, a Laad Security ressalta que o evento é a principal vitrine da América Latina para soluções, por exemplo, em contraterrorismo. Ao final do ato, os manifestantes lançaram tinta vermelha no asfalto, simbolizando o sangue derramado na Palestina e no Brasil, observados de perto por policiais militares, um deles, inclusive, portando um fuzil. Dentre os apoiadores institucionais do evento, segundo a Laad Security, está a própria PM e o Comando Militar Sudeste do Exército.

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